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Matérias / Personagens

Monstros e gênios: as 10 pessoas mais influentes da História

Sem eles, para bem e para o mal, o mundo não seria como conhecemos

Redação Publicado em 06/03/2020, às 10h41

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Stalin, Hitler, Darwin e Mao em montagem - Divulgação
Stalin, Hitler, Darwin e Mao em montagem - Divulgação

A AH resolveu descobrir quem foram os personagens que mais contribuíram para o mundo contemporâneo. Para isso, pedimos a especialistas brasileiros e do exterior que montassem uma lista com as pessoas que, em sua opinião, ajudaram a dar a cara do mundo ocidental nos dias de hoje. 

Como qualquer lista, é naturalmente incompleta. E, não custa ressaltar, não trata dos dez heróis ou das dez pessoas que ajudaram a fazer deste um mundo melhor. Genocidas como Josef Stalin, Mao Tsé-Tung e Adolf Hitler fizeram o mundo ser o que é. Nosso mundo também é fruto do que se tenta evitar — e do esforço para que tragédias não se repitam.


1. Jesus Cristo

Crédito: Wikimedia Commons


Nascimento: cerca de 7 a 4 a.C., Nazaré, Galileia
Morte: c. 30-36, Jerusalém
Ocupação: Aprendiz de carpinteiro, profeta, mártir, fundador do cristianismo

De certa forma, nenhum outro personagem desta lista existiria sem ele. É quase impossível imaginar a história do mundo ocidental sem Jesus Cristo, com séculos de pensamento dedicados a conciliar a filosofia e hábitos pagãos com o monoteísmo importado da Judeia. “Seus seguidores continuam a ser os mais numerosos no mundo, o calendário é baseado nele e constitui o elo entre o judaísmo e o helenismo”, afirma o historiador e arqueólogo Pedro Paulo Funari, da Unicamp.

Ainda que a civilização cristã raramente tenha conseguido viver pelas palavras de Jesus de amar ao próximo, não julgar para não ser julgado e dar a outra face, a Igreja fundada em seu nome é absolutamente central na História do Ocidente. Tanto que o calendário se divide em antes e depois de Cristo.

Países como Alemanha, França e Espanha só existem porque reis bárbaros se converteram ao cristianismo e ganharam legitimidade após a queda do Império Romano. As Cruzadas introduziram o gosto por especiarias aos europeus, e isso é tanto a origem das Grandes Navegações, na Península Ibérica, quanto do capitalismo que bancou a Renascença, na Itália. Foi a Igreja que fundou as primeiras universidades, e dela saíram vários pensadores que retomaram a filosofia clássica, como Santo Agostinho, Roger Bacon e São Tomás de Aquino.

A Reforma Protestante, comandada pelo alemão Martinho Lutero, liberou o homem para acumular riqueza sem culpa, uma das causas da Revolução Industrial. É um assunto controverso, mas vários pensadores, como o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, relacionaram o cristianismo aos ideais igualitários modernos da democracia e do socialismo.

O personagem mais importante para a história do Ocidente é aquele sobre o qual menos se sabe. Nem uma linha foi escrita sobre Jesus enquanto ele viveu. Autores não cristãos que trataram dele, Tácito e Flávio Josefo, só apareceram décadas após sua morte — e suspeita-se de que monges medievais piratearam trechos sobre Jesus nos originais. Quase 2 mil anos depois, a maior fonte sobre sua vida continuam a ser os Evangelhos, que não são livros de História, mas de pregação religiosa.

A busca pelo Jesus histórico é limitada. Pesquisadores costumam comparar os Evangelhos com fatos conhecidos de seu tempo. Por exemplo, como não existe nenhum registro de um censo na Judeia na época de seu nascimento, a maioria dos historiadores acredita que ele nasceu mesmo em Nazaré, não em Belém (fato usado para identificá-lo à estirpe do rei Davi), e isso foi no máximo em 4 a.C., no fim do reino de Herodes, o Grande. Portanto, nosso calendário carrega um erro de cálculo.

Mas alguns fatos bíblicos são amplamente aceitos: Jesus existiu, foi batizado por João Batista e crucificado por Pôncio Pilatos, após um incidente no Templo de Jerusalém. E a religião que fundou já havia chegado à capital do Império Romano no reino de Nero (54-68), décadas depois de sua morte. O que quer que Jesus tenha dito ou feito em vida, o cristianismo não existiria apenas com ele. Paulo de Tarso, que nunca o encontrou em pessoa (teve uma visão), foi quem abriu a religião a todos. A conversão do imperador Constantino, em 312, tornou o cristianismo a maior religião do mundo.


2. Charles Darwin

Crédito: Divulgação

Nascimento: 12 de fevereiro de 1809, Shrewsbury, Inglaterra
Morte: 19 de abril de 1882, Londres, Inglaterra
Ocupação: Geólogo e biólogo

Em 1859, um livro colocou o ser humano em seu devido lugar. Antes dele, a humanidade tomava a si própria como o ápice da criação, num mundo em que todas as outras formas de vida haviam sido colocadas na Terra por Deus apenas para servi-la. A Origem das Espécies demoliu essa visão milenar. “Sua influência no desenvolvimento de áreas críticas da ciência foi profundo. Ao mesmo tempo, ajudou a construir uma nova visão científica do mundo, substituindo a visão cristã prevalente”, afirma o historiador e autor britânico Richard Overy.

Darwin afirmou que a espécie humana evoluiu, como todas as outras, por meio de um processo que não tem direção definida, com todos os animais partilhando um ancestral comum. É a sobrevivência do mais apto — não a do mais forte — às circunstâncias que guia a evolução. A espécie humana não foi feita à imagem e semelhança de Deus, mas surgiu de um macaco na savana africana.

Esse foi um impacto brutal na autoimagem da humanidade, que até hoje muitos ainda relutam em aceitar. Ainda mais em uma sociedade conservadora como a Grã-Bretanha do século 19.Pelos diários de Darwin, sabe-se que ele já havia chegado a essas conclusões 20 anos antes. Mas temia publicá-las, porque podia prever as consequências na cultura da Inglaterra vitoriana.

Aos 50 anos, tinha muito a perder, numa admirável carreira que havia rendido a medalha da Royal Society, a academia britânica de ciências, em 1853. ” Não sei o que pensar: realmente detesto a ideia de escrever por prioridade, mesmo assim ficaria irritado se qualquer um publicasse as minhas teorias antes de mim”, escreveu alguns anos antes da publicação. Seu trabalho começou com o retorno da viagem do navio Beagle, em 1836, trazendo fósseis e espécimes do mundo todo, inclusive do Brasil.

A ideia de evolução em si não era nova. Em 1809, ano de nascimento de Darwin, o naturalista francês Jean-Baptiste Lamarck propôs a evolução por meio de características adquiridas por esforço — um princípio errado, que marginalizou a ideia, já então tida por heresia. Darwin só decidiu tirar da gaveta A Origem das Espécies porque um pupilo seu, Alfred Russel Wallace, apresentou a ele uma teoria quase idêntica, em 1858. Wallace poderia também ter sido o pai da seleção natural, mas quem apresentou a tese fez toda a diferença. As credenciais de Darwin estavam acima de qualquer suspeita. Wallace era um jovem desconhecido, com fama de radical.

As décadas de preparação fizeram de A Origem das Espécies um trabalho impecável, prova e explicação definitiva para a evolução. Para a surpresa de Darwin, o livro tornou-se um best-seller, transformando o cientista recluso em celebridade internacional, discutido, caluniado e caricaturado nos jornais.

Sem gosto pela vida pública, coube a outros cientistas, como seu amigo Thomas Huxley, defendê-lo. Quando morreu, em 1882, era um tesouro do Império Britânico. O naturalista agnóstico ganhou a honra de ser enterrado na Abadia de Westminster, junto a outros grandes cientistas da nação, como Isaac Newton. O darwinismo tornou-se a doutrina capaz de explicar e dar novos rumos à biologia, fazendo a ciência — sem trocadilho — evoluir ao longo do século 20. Suas teses são contestadas apenas por um grupo: o dos cristãos fundamentalistas, os chamados criacionistas.


3. Karl Marx

Crédito: Divulgação

Nascimento: Trier, Prússia, 5 de maio de 1818
Morte: 14 de março de 1883, Londres, Reino Unido
Ocupação: Filósofo, economista e jornalista

Marx partiu de uma filosofia para filósofos — o idealismo de Hegel — para uma filosofia de ação. “Os filósofos apenas tentaram interpretar o mundo de diversas formas; o ponto é mudá-lo”, escreveu em 1845. E ele mudou mesmo: o século 20 foi marcado pela divisão mundial entre marxistas e defensores do capitalismo de várias vertentes.

Como sistema político, a democracia ocidental venceu em 1991 com a queda da União Soviética, um pesadelo totalitário em que ninguém poderia vislumbrar o comunismo prometido por Marx, uma sociedade sem classes, Estado ou opressão. Mas muitos pensadores contemporâneos, como os filósofos Slavoj Zizek e Antonio Negri, e o falecido historiador Eric Hobsbawn, afirmam que ainda é cedo para decretar a morte do marxismo como ideologia.

Marx afirmou no século 19 que crises cíclicas eram inerentes ao capitalismo — e o crash de 2008, último de uma série, mostra que essa foi uma previsão certeira.“Sua crença de que a justiça social deveria ser uma razão fundamental de todas as comunidades modernas nem sempre foi bem-sucedida, menos ainda em todas as ditaduras comunistas, mas sua influência foi mundial e contínua”, diz o historiador britânico Richard Overy.

No que ele mesmo chamava de praxis, os conceitos de Marx mudaram a geopolítica do planeta. Mas ele também tem uma enorme contribuição acadêmica, o que garante a permanência de seu pensamento como norte intelectual ainda hoje nas ciências humanas. Marx ajudou a criar caminhos intelectuais, como a lógica dialética e o materialismo histórico, que dominariam várias áreas do conhecimento no século 20. Ele é um dos fundadores das ciências sociais, o saber que transformou a mera especulação filosófica em estudo metódico, baseado em conceitos científicos. 

Em sua vida pessoal, Marx foi um grande ativista das causas que defendia. Em 1864, fundou e dirigiu a Primeira Internacional, organização mundial de comunistas, anarquistas e sindicalistas. Escreveu e editou jornais revolucionários e tinha colunas em diários convencionais, como o New York Daily Tribune, no qual defendeu o fim da escravidão nos EUA. Tal como Albert Einstein, foi nas horas vagas que escreveu sua obra-prima, O Capital, publicado em 1867.

Perseguido pelas autoridades europeias, vivendo quase sempre à beira da insolvência (e costumeiramente socorrido financeiramente pelo amigo e parceiro intelectual Frederick Engels), teve sete filhos com a baronesa Jenny von West-phallen. Apenas três sobreviveram até a idade adulta. Quando morreu, Karl Marx era ao mesmo tempo uma celebridade internacional e um apátrida. De certa forma, ele foi o primeiro mártir do marxismo. Sua tumba, em Londres, hoje é ponto turístico da cidade.


4. Albert Einstein

Crédito: Divulgação


Nascimento: 14 de março de 1879, Ulm, Alemanha
Morte: 18 de abril de 1955, Princeton, Estados Unidos
Ocupação: Físico 

A física se divide em antes e depois de 1905. Entre março e setembro daquele ano, quatro artigos foram publicados no periódico científico Annalen der Physik, de Berlim. Um demonstrava a dualidade entre partícula e onda, provando que a física quântica descrevia fenômenos reais, não efeitos de laboratório — o que nem Max Planck, considerado o pai dessa ciência, acreditava.

Outro mostrava que átomos também eram reais, e não abstrações úteis para explicar fenômenos misteriosos. O terceiro estabeleceu que a velocidade da luz é constante, independentemente da velocidade de quem a emite — o que acontece é que o tempo fica mais lento para quem se aproxima dessa velocidade. Essa é a teoria da relatividade especial, que batia de frente com a física newtoniana — até então, e por mais de 200 anos, chamada simplesmente de física.

O último artigo estabelecia a equivalência entre matéria e energia, uma das equações mais famosas da história da ciência, E=mc2, o que afetaria o mundo de forma bem direta, pois é simplesmente a origem da bomba atômica.

Einstein tinha apenas 26 anos e nunca havia dado aulas. Seu trabalho era avaliar patentes num escritório em Berna, na Suíça. Os quatro artigos do annus mirabilis foram produzidos fora do horário de expediente, longe de laboratórios, de colegas com quem discutir e até mesmo de uma biblioteca adequada. Para muitos historiadores da ciência, foi o mais brilhante trabalho amador da História.

Rapidamente Einstein foi reconhecido por seus pares e ganhou o primeiro cargo de professor na Universidade de Berna, em 1908, mudando-se para sua Alemanha natal em 1914. Mas houve enorme resistência dos defensores da física clássica. Tanto que, em 1921, quando recebeu o Prêmio Nobel, foi por sua explicação do efeito fotoelétrico — a parte que prova a física quântica — e não pela relatividade, que ainda irritava muitos cientistas com essa história de ter que deixar para trás séculos de física newtoniana.

Einstein tornou-se rapidamente uma celebridade internacional, a encarnação viva do supergênio. A sua foto com o cabelo desgrenhado e a língua de fora tornou-se um ícone pop que rivaliza com a imagem de guerrilheiro de Che Guevara. Suas opiniões sobre qualquer tema apareciam nos jornais, como sua defesa da democracia, socialismo e pacifismo. Foi nessa condição que veio ao Brasil, em 1925, observar um cometa que justificaria sua teoria de gravitação.

Ele se tornou “um pacifista fundamental, hostil ao militarismo de sua era e um ícone do sentimento antiguerra que dura ainda hoje”, como afirma o historiador britânico Richard Overy. Mas esse pacifismo tomou partido em 1933, com a ascensão de Adolf Hitler na Alemanha. Adotando os EUA como nova nação, Einstein se tornou partidário da guerra contra os nazistas. Em 1939, enviou uma carta ao presidente Franklin Roosevelt, alertando sobre a possibilidade do desenvolvimento de uma bomba atômica alemã. O gesto deu origem ao Projeto Manhattan e daí às bombas de Hiroshima e Nagasaki. Em 1954, ele diria ao amigo Linus Pauling que a carta a Roosevelt foi o maior erro de sua vida.


5. Abraham Lincoln

Crédito: Wikimedia Commons

Nascimento: 12 de fevereiro de 1809, Hardkin County, Estados Unidos
Morte: 15 de abril de 1865, Washington, Estados Unidos
Ocupação: Partidor de tábuas, advogado, congressista e presidente dos EUA

Não é segredo que políticos fazem promessas que não pretendem cumprir. Ao menos uma vez na História, o mérito de um grande político esteve justamente em ignorar suas promessas. Em 1859, Abraham Lincoln falou a uma plateia em Cincinnati, Ohio: “Não tenho qualquer propósito de interferir diretamente ou indiretamente com a instituição da escravidão nos estados em que ela existe”.

Repetiu o mesmo discurso em outras ocasiões. Em sua carreira, havia feito de tudo para tornar mais difícil a escravidão, instituição que frequentemente comparava a um câncer. Também dizia que a frase na Declaração de Independência dos Estados Unidos, “todos os homens são criados iguais”, se aplicava aos negros, ideia chocante para muitos na época.

Essa postura ambígua fez com que seu adversário na eleição para o Senado de 1858, Stephen Douglas, o chamasse de duas caras. A réplica rendeu uma das boutades mais famosas de todos os tempos: “Se tivesse mesmo duas caras, por que o senhor acha que eu estaria usando esta?”

Contemporâneos notaram o quanto Lincoln era feio e malvestido, como sua voz era esganiçada. Mas o esquisitão era de fato a encarnação do sonho americano. Nascido numa família de agricultores analfabetos, tornou-se advogado estudando por conta própria sem ter concluído o ensino fundamental. Foi eleito deputado em 1846. Os debates durante a campanha ao Senado tornaram Lincoln conhecido no país inteiro.

Em 6 de novembro de 1860, elegeu-se presidente, sem receber um único voto de delegados do sul do país. A Carolina do Sul declarou secessão em 24 de dezembro, antes mesmo de ele assumir a cadeira, em março do ano seguinte — quando mais seis outros estados escravistas diziam ser parte de outro país, os Estados Confederados da América.

Em 12 de abril, um ataque confederado a um forte na Carolina do Sul deu início à Guerra Civil Americana, primeiro conflito industrial da História, que causaria 750 mil mortes de combatentes — quase o dobro do que o país perderia na Segunda Guerra. Lincoln aproveitou as condições extremas para quebrar sua promessa e levar adiante a abolição, primeiro nos estados reconquistados, em 1863. E no resto do país em 1865. Sua terra natal, o Kentucky, era um dos estados que lutaram pela União e que ainda tinha escravos.

A vitória das tropas da União tiveram reflexo até mesmo na História do Brasil. Um grupo de confederados buscou asilo no país, com as bênçãos do imperador dom Pedro II. Instalaram-se em São Paulo, onde tempos depois fundaram a cidade de Americana.

Um dos planos de Lincoln era instituir um amplo programa para integrar a população negra. Não viveu para isso. Em 14 de abril de 1865, cinco dias após a rendição dos confederados, o fanático pró-escravidão John Wilkes Booth disparou contra ele no Teatro Ford, em Washington. Lincoln morreu no dia seguinte, como o maior presidente da História dos Estados Unidos.


6. Vladmir Lenin

Crédito: Divulgação

Nascimento: 22 de abril de 1870, Simbirsk, Rússia
Morte: 21 de janeiro de 1924, Gorki, Rússia
Ocupação: Advogado, jornalista, escritor e revolucionário

Se Karl Marx deu as bases teóricas para a revolução socialista, até 1917 faltava alguém mostrar como fazê-la na prática. Havia muitos partidos que seguiam as ideias do filósofo alemão. Mas, em geral, eles concordavam com o que Marx havia dito sobre a evolução das sociedades: uma revolução proletária só poderia acontecer em um país com capitalismo avançado e um proletariado com consciência de classe, que faria a revolução sozinho. O advogado Vladimir Ilyich Uliánov deixou tudo isso de lado.

Diferentemente de Marx, que não deu atenção aos países atrasados, Lenin era um grande crítico do imperialismo, que considerava a fase final do capitalismo. Ele acreditava que a revolução poderia ser feita, sim, em um país semifeudal como a Rússia, que recém havia abolido a servidão e tinha um proletariado minúsculo. Ele também imaginava que nenhuma revolução surgiria espontaneamente, mas que os trabalhadores precisariam de um partido de vanguarda, um bloco homogêneo e inflexível formado por revolucionários em tempo integral.

Em 1897, Lenin foi preso e exilado para a Sibéria, por onde passa o Rio Lena — de onde vem o pseudônimo famoso. Em 1903, conseguiu formar seu grupo, a partir de um racha no Partido Operário Social-Democrático Russo. Os que apoiaram Lenin foram chamados de bolcheviques, a maioria. Os moderados, liderados por seu ex-colega Julius Martov, de mencheviques, minoria.

A primeira tentativa de revolução bolchevique foi em 1905, durante uma onda de greves, protestos e motins que tomou a Rússia após a derrota para o Japão na Guerra Russo-Japonesa. A revolução fracassou e Lenin foi para o exílio. Durante a Primeira Guerra, comprou briga com os socialistas do mundo inteiro, que apoiaram seus países no conflito. Lenin chamou a todos de traidores do proletariado, por defenderem uma guerra entre imperialistas. Mas foi o conflito que deu a ele sua grande oportunidade.

Com as privações causadas pela guerra, em fevereiro de 1917 estourou outra revolução na Rússia. O czar abdicou e um governo provisório foi formado por uma coalizão entre liberais e socialistas. Conselhos (soviets, em russo) de trabalhadores e camponeses foram criados para defender a revolução. Disfarçado com uma peruca e de barba cortada, Lenin voltou à Rússia em agosto e conseguiu convencer os sovietes a se voltarem contra o governo provisório.

Em 7 de novembro de 1917, a guarda vermelha de Lenin depôs o governo e deu início a uma guerra civil que duraria até 1923 e na qual padeceram, entre balas, fome e repressão brutal, 9 milhões de russos. Dessa forma traumática, nasceu a primeira nação marxista, oficializada em 1922. Em maio do mesmo ano, Lenin teve um derrame. Afastado do poder, passou seus últimos dias conspirando com Trotsky, sem sucesso, para evitar que Stalin fosse seu sucessor.


7. Josef Stalin

Crédito: Divulgação


Nascimento: 18 de dezembro de 1878, Gori, Geórgia
Morte: 5 de março de 1953, Moscou, Rússia
Ocupação: Revolucionário, secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética

A carta-testamento de Lenin, escrita no início de 1923, tem a seguinte passagem: “O camarada Stalin, tendo se tornado secretário-geral, tem autoridade ilimitada concentrada em suas mãos, e não tenho certeza de que sempre irá utilizá-la com suficiente prudência”. Se a carta não tivesse aparecido só depois da morte de Lenin e prontamente suprimida, as vidas de 4 milhões a 60 milhões de pessoas, dependendo de qual historiador consultado, talvez tivessem sido poupadas. É possível gastar milhares de páginas tratando das atrocidades de Stalin. Mas, em uma frase, ele mudou a história.

Quando se juntou aos bolcheviques em 1903, Iosif Djugashvili era conhecido por ser um revolucionário de ação. O assalto a banco que comandou em Tiflis, na Geórgia, em 1907, por exemplo, causou 40 mortes — Stalin (feito de ferro) era o codinome que usava em ações assim. A partir de 1917, começou a ganhar posições dentro do partido comunista, até tornar-se secretário-geral do PC da União Soviética, em 1922.

Enquanto Lenin acreditava que a URSS só sobreviveria se conseguisse exportar a revolução, Stalin lançou a doutrina do socialismo em um só país. Dizia que era possível a União Soviética sobreviver sozinha. E acabaria por provar isso — mas, antes, precisou transformar a Rússia de um país agrícola retrógrado em uma potência industrial.

Stalin era sincero em sua crença no socialismo. Para acalmar os ânimos da população, Lenin havia admitido um pouco de capitalismo na União Soviética ao formular a Nova Política Econômica, de 1921, que permitia pequenos negócios e propriedades rurais. Após eliminar qualquer oposição a seu poder absoluto, em 1928 Stalin lançou seu primeiro Plano Quinquenal, estatizou a agricultura e deu início a uma gigantesca campanha de industrialização, tentando superar o que ele chamava de 50 a 100 anos de atraso da Rússia.

A coletivização da agricultura causou revoltas, repressão brutal aos pequenos proprietários e uma fome que matou milhões de soviéticos, especialmente na Ucrânia. Mas sua campanha industrial fez a economia russa crescer incríveis 2 425% entre 1928 e 1937, uma década que no resto do mundo foi abalada pelo crash da Bolsa de Valores de Nova York.

Em 1939, União Soviética e Alemanha assinaram o Pacto Molotov-Ribbentrop, um acordo secreto de não agressão. Em junho de 1941, Hitler rasgou o tratado e invadiu a União Soviética, pegando Stalin de surpresa. No fim do ano, as forças nazistas estavam a apenas 32 km de Moscou. Stalin permaneceu no Kremlin e liderou pessoalmente a resistência. Foi salvo por um gigantesco deslocamento de tropas que socorreram a cidade vindas dos confins da Sibéria.

A resistência em Moscou e em outras cidades soviéticas, como Stalingrado, inverteria a situação nos dois anos seguintes. Em 1945, as tropas soviéticas marchavam sobre Berlim. O avanço militar das forças de Stalin foi seguido pela divisão política da Europa — todo o leste, com exceção da Grécia, ficou sob a órbita soviética até o fim da URSS, em 1991. Na conta de Stalin pode-se pendurar o atraso colossal da biologia e das artes durante seu longo governo, destruídas por seus zelosos comissários. Mas, ao virar o rumo da guerra quase sozinho, ele salvou o mundo do nazismo.


8. Mao Tsé-Tung

Crédito: Divulgação

Nascimento: 26 de dezembro de 1893, Shaoshan, China
Morte: 9 de setembro de 1976, Pequim, China
Ocupação: Militar, revolucionário, escritor, presidente do Partido Comunista da China

A China moderna, único país candidato a ameaçar a hegemonia econômica norte-americana, nasceu das ações de Mao Tsé-Tung. Ele tirou o país do chamado século de humilhação, que vinha desde a derrota para o Reino Unido na Primeira Guerra do Ópio, em 1842. Durante esse período, a China — que por boa parte da história foi a sociedade mais organizada e tecnologicamente avançada do planeta — acabou dominada por potências estrangeiras e ficou sem Estado, fragmentada entre senhores da guerra.

Ao se divorciar da União Soviética, nos anos 60, Mao partiu o comunismo em dois. Mas isso deu um novo fôlego a muitos comunistas pelo mundo, pois a União Soviética era associada aos crimes de Stalin e a uma burocracia envelhecida, corrupta e sem fervor revolucionário. O engajamento da juventude contra as gerações anteriores foi inspiração até para as passeatas de Maio de 1968 na França.

A guerrilha de esquerda, a estratégia maoísta na Guerra Civil Chinesa, fez história na América Latina. Ao aceitar a visita do presidente americano Richard Nixon, em 1972, o ápice da “diplomacia do ping-pong”, Mao finalmente abriu o país ao exterior e deu o primeiro passo para transformá-lo no que é hoje.

Mao, “para o bem ou para o mal, unificou a nação ancestral da China, pavimentando o caminho para a eventual emergência do país de séculos de isolamento”, como afirma o jornalista e escritor norte-americano Jon Lee Anderson. O “para o mal” não pode ser subestimado. Entre 30 milhões e 70 milhões de mortes são atribuídas à repressão e às experiências sociais de Mao, o que, em números absolutos, configura a pior matança da história.

Filho de fazendeiro, Mao foi um dos membros fundadores do Partido Comunista Chinês, em 1921. O partido logo se aliou aos nacionalistas, o Kuomintang, em campanha para reunificar o país. Em 1927, os nacionalistas traíram a aliança e massacraram 400 comunistas em Xangai, iniciando uma guerra civil que terminou com a fuga do Kuomintang para a ilha de Taiwan, em 1949, e a ascensão dos comunistas ao poder, onde, diga-se, se mantêm até hoje.

Em 1958, Mao deu início ao “Grande Salto para a Frente”, uma tentativa de desenvolver a China sem auxílio soviético. A fome, causada pela coletivização e o desvio de mão de obra para a indústria, estima-se, matou entre 20 milhões e 40 milhões de pessoas no país.

Com sua posição enfraquecida no Partido Comunista, em 1966, Mao decidiu voltar a população contra os dirigentes. A sua chamada Revolução Cultural instigou os jovens contra a burocracia do partido e tudo o mais que parecesse velho, tradicional ou ocidental. Com estudantes secundaristas atacando templos, livros e pessoas, principalmente professores e intelectuais, a China mergulhou no caos.

A morte do Grande Timoneiro, em 1976, levou a um período de luta interna, que terminou em 1978, com a vitória do reformista Deng Xiaoping, que abriu o país ao capitalismo. Deng, para quem “enriquecer é glorioso”, disse que Mao estava 70% certo, 30% errado. A China hoje é um híbrido de comando político comunista e economia capitalista.


9. Adolf Hitler

Crédito: Wikimedia Commons

Nascimento: 20 de abril de 1889, Braunau am Inn, Império Austro-Húngaro
Morte: 30 de abril de 1945, Berlim, Alemanha
Ocupação: Pintor, cabo do exército, político, ditador

É difícil falar nele sem recorrer a expressões moralistas. O professor Francisco Alambert, da USP, o define como “a mais perfeita tradução do horror moderno”. Com Mao e Stalin, Hitler é um dos personagens cujo perfil torna obrigatório incluir uma contagem de cadáveres — 11 milhões, entre judeus, poloneses, comunistas, ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová e opositores, em execuções, massacres e campos de extermínio. Isso sem contar os 50 milhões da Segunda Guerra, que podem ser atribuídos a ele.

A diferença é que China e União Soviética nunca tiveram algo parecido aos campos de extermínio nazistas. Hitler foi inédito em seu ódio. Em meio a uma guerra que estava perdendo, desviou preciosos recursos para uma imensa operação industrial com o objetivo de eliminar pessoas de forma rápida e eficiente. O nazismo ainda recriou a escravidão em pleno século 20, com 20% da mão de obra alemã provindo de trabalho forçado.

Em 1919, recebeu do exército a missão de investigar o Partido dos Trabalhadores Alemães, fundado por Anton Drexler. Ao participar de uma reunião, surpreendeu os membros do partido com seu lendário talento para oratória. Saiu do exército e juntou-se ao grupo, que mudou o nome para Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (ou Nazi) em 1921.

Dois anos depois, Hitler e outros líderes acabaram presos após o fracasso de uma tentativa de golpe de Estado em Munique. Na cadeia escreveu Mein Kampf, autobiografia e programa ideológico que impulsionou sua meteórica carreira política. Em 30 de janeiro de 1933, tornou-se chanceler (primeiro-ministro) da Alemanha.

O Führer rearmou o país, recuperou a economia e fez inúmeras obras públicas. Foi eleito “homem do ano” de 1938 pela revista norte-americana Time. Em setembro do ano seguinte, ordenou a invasão da Polônia, sabendo que isso significava ter França e o Reino Unido como inimigos.

A máquina de guerra nazista começou a patinar entre 1942 e 1943, quando foi derrotada no Egito e Stalingrado, na URSS. A partir daí, a guerra se tornou defensiva e cada vez mais desesperada — como o avanço das tropas soviéticas dentro da Alemanha, até a derrota em 1945. Hitler uniu comunistas, liberais e conservadores contra seu projeto nacionalista e seu fracasso tornou patéticas práticas que eram aceitas nos anos 30, como a eugenia e o racismo.

“Hitler não apenas ajudou a criar o horror que foram a Segunda Guerra e o Holocausto, nos quais dezenas de milhões morreram. Ele alterou a paisagem política global para sempre”, afirma o jornalista e autor americano Jon Lee Anderson. A divisão do mundo na Guerra Fria e a chamada Cortina de Ferro surgiram dos acordos feitos entre os soviéticos e os aliados ocidentais.

Mas o horror também contribuiu para a criação da União Europeia e para o maior período de paz da história da Europa, que a propósito dura até hoje. Por fim, como suprema ironia histórica, o homem que pretendia acabar com todos os judeus contribuiu para que o Estado de Israel nascesse mais depressa como solução para a crise humanitária pós-Segunda Guerra. Foi sua maior humilhação.


10. Sigmund Freud

Crédito: Wikimedia Commons


Nascimento: 6 de maio de 1856, Freiberg in Mähren, Império Austro-Húngaro (hoje Příbor, República Tcheca)
Morte: 23 de setembro de 1939, Londres, Reino Unido
Ocupação: Psiquiatra e fundador da psicanálise

À primeira vista, o pai da psicanálise é um personagem destoante nesta lista. Não foram feitas revoluções em seu nome e sua contribuição científica é controversa. Entre seus muitos críticos, Karl Popper, possivelmente o maior filósofo da ciência do século 20, simplesmente excluiu a psicanálise do domínio científico.

O complexo de Édipo foi rejeitado por antropólogos, que não confirmaram algo parecido em outras culturas pelo mundo. E, para Freud, o tal complexo era a razão de ser de sua teoria. “No complexo de Édipo reúnem-se os começos da religião, moralidade, sociedade e arte, em plena concordância com a verificação psicanalítica de que esse complexo forma o núcleo de todas as neuroses”, escreveu ele em Totem e Tabu.

Mas entre todos os mencionados, Freud é provavelmente o que tem a maior influência no cotidiano das pessoas hoje em dia. Para o professor da Unicamp Pedro Paulo Funari, ele “introduziu a vida interior ou psíquica no centro da maneira como as pessoas entendem e se entendem no mundo”.

A ideia do que é ser humano foi refundada por Freud. Antes, havia duas concepções principais: o homem cartesiano, uma mente perfeitamente livre e racional, independente do corpo e suas vicissitudes. Ou o Homo economicus, uma máquina de calcular que sempre agia para maximizar resultados e ganhar dinheiro, uma tradição que vai de Adam Smith até Karl Marx.

Hoje, cientistas e psicólogos entendem o ser humano como um animal dotado de razão, mas uma razão imperfeita, altamente influenciada por seus desejos e sentimentos, às vezes inconscientes, às vezes inconfessáveis, atormentado pela contradição entre esses impulsos e a vida em sociedade. Ideia surgida com a psicanálise que ciências mais duras, como a neuropsiquiatria e a psicologia evolutiva, só têm reforçado.

Alguns conceitos freudianos, como o inconsciente e a razão deturpada pelos desejos, são amplamente aceitos por neurocientistas. Existe, assim, uma revolução freudiana, no “estudo da mente humana, demonstrando que traumas, sonhos, desejos e fantasias têm impacto decisivo no comportamento das pessoas”, de acordo com o jornalista e escritor Laurentino Gomes.

Formado em Medicina em 1881, Freud começou a trabalhar como psiquiatra científico, estudando a anatomia do cérebro. Em 1885, na França, teve sua primeira revelação: muitas condições físicas nos pacientes eram causadas por transtornos da mente. De volta à Áustria, tomou contato com Josef Breuer, que descreveu como uma paciente havia melhorado apenas por meio de conversa, caso que interessou vivamente a Freud.

Pela mesma época, recomendou ao colega psiquiatra Ernst von Fleischl-Marxow o antidepressivo da época, a cocaína. Marxow morreu de overdose em 1891. Esses eventos o levaram a abandonar as drogas e a hipnose para adotar a cura pela conversa, que batizou de psicanálise em 1896. Em 1899, lançou o livro fundador da teoria, A Interpretação dos Sonhos.

Freud refinaria e ampliaria suas concepções até o fim da carreira, ganhando discípulos e tornando a psicanálise uma das terapias mais populares da psicologia do século 20. A nova ideia do ser humano teve imensas ramificações nas artes, cultura e filosofia. Surrealismo, dadaísmo, pós-modernismo — tudo isso nasceu das ideias de Freud.


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