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Matérias / Mundo

Morte, terror e resistência: a crise de AIDS nos anos 80

No Dia Internacional da Luta contra AIDS, saiba mais sobre este período turbulento e assustador

Pedro Paulo Furlan, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 01/12/2021, às 17h12 - Atualizado às 17h49

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Ação do movimento ACT UP em Washington nos Estados Unidos - Reprodução / Youtube (rconradzzz)
Ação do movimento ACT UP em Washington nos Estados Unidos - Reprodução / Youtube (rconradzzz)

1987, seis anos após registros do primeiro caso de HIV ou AIDS, foi o momento em que a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a doença como um grande perigo e apoiou, desta maneira, a criação do Dia Internacional da Luta Contra a AIDS, que é comemorado nesta quarta-feira, 1 de dezembro.

Já chamada de muitos nomes e apelidos, incluindo títulos falsos e preconceituosos como a ‘praga gay’, a Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS) é causada pelo vírus HIV e, atualmente, motiva cada vez mais pesquisas para encontrar sua cura e maneiras de garantir a saúde de pessoas vivendo com a doença.

No entanto, em 1981 nos Estados Unidos, quando a AIDS foi identificada pela primeira vez, nenhuma pesquisa, descoberta ou investimento foi feito por anos, causando a morte de inúmeras pessoas e contágio de ainda mais, motivo pelo qual uma data como esta é ainda tão importante para os humanos.

Um dos momentos mais assustadores para a comunidade LGBTQIA+ e um exemplo de negligência de diversos governos para com uma minoria social, a crise de HIV nos anos 80 e 90 marcou a história da saúde e ainda assombra a sociedade atual na forma de homofobia, transfobia e forte estigma em relação à doença.

Diversos filmes e séries retratam este período histórico, entretanto, a lembrança ainda é necessária para honrar os que faleceram e garantir que o HIV seja tratado com a seriedade que merece, protegendo pessoas positivas para o vírus e impedindo o contágio.

Anos em rápida deterioração

Médico cuidando de um paciente com AIDS - Foto: Reprodução / Youtube (NBC News)

Doutores em Nova York e na Califórnia diagnosticaram em 41 homens homossexuais casos de uma rara e rapidamente fatal forma de câncer"

Com estas palavras o New York Times começou, em 3 de julho de 1981, a notícia que moldou um período de pânico, morte e terror, em especial para a comunidade LGBTQIA+, vastamente ignorada pelos governos.

Vista pelo setor de saúde, por muito tempo, como um tipo de câncer, com poucas hipóteses sobre o que a causava, como era transmitida e como tratá-la, a AIDS era uma sentença de morte no começo dos anos 80.

A trajetória da doença era quase igual em todos casos: a pessoa carregando o vírus era internada, onde ficava isolada, deteriorando até sua morte.

Em um testemunho especial para a publicação Intelligencer, diversos indivíduos contaram sua história e contatos com a doença, que destruiu a vida de tantos a sua volta.

John Blair, que era dono de uma academia para o público gay na época, relembrou o falecimento de um treinador e seus últimos momentos no hospital.

Eu não posso te dizer o terror que eu senti entrando no quarto de hospital e vendo este homem velho na cama com tubos em seus braços e nariz. Ele era só pele e ossos e mal podia falar [...] Infelizmente, era uma imagem e situação que ocorreria de novo e de novo pela próxima década", narrou.

A comunidade LGBTQIA+ entrou em pânico, principalmente em São Francisco, Nova York e Los Angeles, nos primeiros anos, fechando bares, escondendo-se e procurando quaisquer sinais de contágio em seus próprios corpos.

Tudo isto enquanto a sociedade em volta intensificava a sua homofobia e até discutia quarentenar qualquer pessoa LGBTQIA+.

Em 2017, em uma entrevista para o site de notícias NBC News, alguns homens gays conversaram sobre suas memórias desta época, entre eles, o ativista Mark S. King relembrou o sentimento daquele momento em Los Angeles.

Era como um episódio de ‘Além da Imaginação’ em que todo mundo na cidade começa a desaparecer. Era o banqueiro que um dia só não estava mais lá. Era seu barman favorito. Era o cara que tinha acabado de cortar seu cabelo. Eles só paravam de existir”.

Negligência, resistência e atuação

Faixa com o slogan adotado pela luta contra AIDS - Foto: Reprodução / Inside Edition

“Silêncio é igual a morte”, estampada em milhares de cartazes, camisetas e adesivos pelo mundo inteiro, esta frase representou a luta contra este vírus que se espalhava e pelo reconhecimento do governo para com a doença, que tinha se tornado uma piada terrivelmente real para a comunidade LGBTQIA+, com o apelido “câncer gay”.

O governo de Ronald Reagan, desde o começo em 1981, recusava-se a falar sobre a AIDS, fazendo 'brincadeiras' jocosas com o tópico quando levantado em coletivas de imprensa e justificando que era provável que a doença se limitasse a homens gays.

A primeira vez que o vírus foi reconhecido pelo governo do presidente norte-americano foi em 1985, segundo matéria do portal History, por Joseph Bennington-Castro, quando quase 50 mil pessoas já tinham morrido.

Da mesma forma que o HIV não se limitou aos Estados Unidos, a negligência também não foi única de Reagan, afinal, Margaret Thatcher na Inglaterra também não reconheceu a doença, como conta o site PinkNews. No entanto, a resistência a estes governos e o ativismo relacionado à AIDS espalhou-se pelo globo também.

Em 1987, devido a um discurso do ativista Larry Kramer, no qual ele pediu para dois terços da plateia levantarem e as informou que esta era a quantidade de pessoas que morreriam nos próximos cinco anos, centenas de pessoas LGBTQIA+ organizaram-se e montaram o ACT UP, a Coalizão AIDS para Desencadear Poder.

“Se meu discurso hoje não assusta muito vocês, nós realmente temos problemas. Se o que você está ouvindo não causa raiva, fúria e ação, homens não terão futuro aqui na Terra. Quanto vai demorar para vocês ficarem bravos e lutarem?”, Kramer expressou.

Este movimento continua até hoje na frente de qualquer batalha pela causa da AIDS e foi um dos fatores de mudança na época.

Com suas passeatas e protestos, o ACT UP fez com que diversos governos focassem no problema e investissem em pesquisas, como falou o ativista Eric Sawyer na mesma entrevista para a NBC.

Nós carregávamos as pessoas que faziam parte do movimento e morreram de AIDS pelas ruas de Nova York em caixões abertos. Estávamos dizendo que se vocês não forem fazer nada sobre este genocídio, vão ter que pisar sobre nossos corpos e sentir o cheiro”.

Felizmente, todas as movimentações funcionaram, mesmo que muitas vítimas já tivessem falecido em 1996, quando surgiram algumas das primeiras medicações para a doença.

A luta pelo tratamento contra a AIDS continua, mas, inúmeras pessoas que carregam o vírus já são intransmissíveis e indetectáveis, com os remédios e tratamentos atuais.

No que ainda temos que persistir é o fim do estigma e a normalização das vidas de pessoas HIV-positivas.