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Matérias / Personagem

O reinado de Ana da Grã-Bretanha

A rainha mais improvável do império britânico superou problemas de gestação e teve o coração dividido por duas mulheres. Entretanto, a história real vai além do que foi retratado em A Favorita

Fabio Previdelli Publicado em 09/09/2019, às 15h00

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Reprodução
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Marcada na história britânica, a Rainha Ana da Grã-Bretanha é conhecida por unificar a Inglaterra e a Escócia, e por encerrar a Guerra de Sucessão Espanhola. Além do mais, seu reinado também foi marcado por sua incapacidade de produzir um herdeiro vivo, mesmo após 17 gestações. A Rainha Estéril, como ficou conhecida, foi casada com o príncipe George da Dinamarca.

Parte de sua vida foi reproduzida no filme A Favorita (2018), no qual a ela é retratada como uma mulher frágil que tem envolvimento romântico e sexual com sua confidente mais próxima e conselheira real, Sarah Churchill. Mas o quanto da história contada nas telonas corresponde com os livros de história?

Rainha Ana quando criança / Crédito: Reprodução


Como ela ascendeu ao trono?

O surpreendente caminho de Ana ao trono se deu por diversas mudanças no poder. Nascida em 6 de fevereiro de 1665, ela veio ao mundo durante o reinado de seu tio, o rei Carlos II e, apesar, de seu pai ter seguido a igreja católica, a jovem foi criada protestante, mesma religião do rei. Ninguém esperava que a ela se tornasse rainha um dia, por isso sua educação foi baseada em idiomas e música – o que era mais adequado para um jovem aristocrático.

Sua vida amorosa era intercalada com seus horários de aprendizado. Desde cedo seu casamento foi arranjado, ela se relacionou com o príncipe holandês Jorge da Dinamarca e sua irmã com William de Orange – ambos eram protestantes.  

Seu pai não ficou muito feliz de ver suas filhas casadas com famílias protestantes, mas se curvou ao trono de seu irmão. No entanto, as tensões religiosas aumentaram depois da morte de Carlos II, quando ele se casou com a princesa italiana Maria de Modena, em uma cerimonia católica. A mãe de Ana morreu quando ela tinha apenas seis anos.

Foi durante a infância que a menina conheceu Sarah Jennings, na qual Sarah era dama de companhia da segunda esposa de seu pai. Apesar de ser cinco anos mais velha que a futura rainha, ela logo se tornou uma de suas companheiras favoritas. As duas tinham personalidades completamente diferentes, enquanto a garota era mais vibrante e exuberante, Ana sempre foi tímida e sem confiança. Talvez tenha sido isso que chamou a atenção da princesa. Sarah mais tarde se casou com John Churchill, condado de Marlborough, tornando-se duquesa.

Quando seu tio morreu, seu pai assumiu o trono com o nome de James II da Inglaterra e Escócia. Como novo rei, ele colocou católicos em posições oficiais e deixou os círculos políticos desconfortáveis. Em 1688, os nobres ingleses se rebelaram contra ele e convidaram William de Orange, marido protestante de sua filha Maria, para invadir a Inglaterra e destroná-lo.

Com o apoio de Ana, seu cunhado tornou-se rei Guilherme III da Inglaterra. Mas com a morte de sua irmã oito anos depois, sem deixar herdeiros, seguida pela morte de seu marido, o rei Guilherme III, o trono passou para Ana. Tornando-se assim, a rainha mais improvável do império britânico.

Rainha Ana e seu único filho, William / Crédito: Reprodução


Problema com herdeiros

Ana sofreu tragicamente a perda de 17 gestações, dentre eles apenas cinco nasceram vivos e somente um sobreviveu além da infância – o único sobrevivente foi William, que seria duque de Gloucester, mas o garoto morreu aos 11 anos, vítima de diversas complicações, a mais grave delas foi a varíola.

Embora as muitas mortes dos filhos da rainha sejam assustadoras nos olhos atuais, o aborto espontâneo e a morte infantil eram comuns na época, tal motivo foi um dos responsáveis pela ascensão de Ana ao trono. Sua tia Catarina, esposa de Carlos III, abortou três vezes e nunca teve um filho para contar história. A própria Ana foi o quarto filho do primeiro casamento de seu pai.

Sua madrasta também teve ao menos 10 gestações fracassadas antes de dar à luz à um filho, também chamado de James. Mas as tensões políticas e religiosas depôs o herdeiro católico de sua sucessão. Até mesmo sua irmã, Maria, nunca teve filhos que sobreviveram.

Sabendo da dificuldade da Rainha de gerar um progenitor, o Parlamento aprovou um Ato de Acordo em 1701, que garantiria uma linha protestante e barrava o trono a quaisquer pessoas que fossem católicas ou casadas com um religioso. Curiosamente, essa lei só foi revogada em 2013.

Rainha Ana no durante reunião no Parlamento / Crédito: Wikimedia Commons

Saúde e a política da Rainha Ana

A rainha sofria de inchaço e de uma série de outros desconfortos, entre eles, um caso não diagnosticado de porfiria – doença sanguínea que afeta o sistema nervoso e outros órgãos. Em sua coroação, ela teve de ser carregada na cerimônia por conta de uma crise de gota.

Em compensação, seu reinado teve um impacto duradouro. Após a morte do rei Guilherme III em 1702, ela nomeou John Churchill (ancestral do primeiro-ministro da Segunda Guerra Mundial Winston Churchill) como seu capitão geral. Sob seu comando, o exército real britânico conquistou sucessivas vitórias na Guerra da Sucessão Espanhola.

Ela também foi responsável por governar uma Grã-Bretanha unida, em 1707 um Ato de União reuniu a Inglaterra e a Escócia sob uma única coroa. A união, que se discutia há décadas, foi implementada em apenas um ano de negociação.

No entanto, o duque de Marlborough se tornou cada vez mais impopular: ele sua esposa eram do partido Whig, que se tronou a minoria do Parlamento. Em 1711, ele foi removido do posto, muito em consequência do rompimento da relação entre a rainha e Sarah, embora seja alegado que ele roubou fundos públicos.

Abigail Hill e Sarah Churchill / Crédito: Reprodução


A nova favorita

Com o ótimo relacionamento, muitos historiadores apontam que elas foram amantes, devido aos apelidos carinhosos que as duas mantinham e a intensa troca de cartas, pelo menos quatro vezes, todos os dias. Muitos apontam que o envolvimento íntimo tenha sido apenas uma atitude prudente da duquesa para garantir seu status de favorita de Ana, mesmo antes se tornar rainha. Outros espalharam que o relacionamento carnal a permitiu dominar decisões importantes da rainha no tribunal.

Depois que Ana virou rainha, Sarah foi promovida a vários cargos, entre eles como Guardiã as Bolsa Privada e Senhora das Vestes – todos os principais escritórios domésticos disponíveis para mulheres pertenciam a ela.

A relação começou a estremecer com a morte do marido de Ana, em 1708. A rainha entrou em depressão profunda, mas Lady Churchill aparentemente não tinha paciência para esse sofrimento. Esse ressentimento e falta de empatia, acabou levando ela a desenvolver outra amizade. Dessa vez, com Abigail Hill, prima de Sarah.

Ana se reestruturou com a nova amizade, muito em conta do comportamento terno e acolhedor. Sarah permaneceu na espreita, até descobrir de um casamento secreto entre Hill e o soldado e cortesão Samuel Masham. O casamento havia sido um ato político para ambos ganharem mais influência na corte da rainha sobre os Marlborough.

Sarah ficou extremamente chocada ao saber que a rainha deu a Abigail - que inicialmente havia sido trazida para o palácio para trabalhar como empregada doméstica – uma série de privilégios.

Em 1707, o relacionamento havia se dissolvido. A rainha se recusava a se dirigir a Sarah, exceto por escritos. Em contrapartida, ela tentava chantagear Ana, ameaçando a divulgação de suas cartas pessoais. Ela também espalhou o boato que a rainha e Hill eram sexualmente íntimas.

As duas não se reconciliaram antes da morte da rainha. Ane faleceu em 1714, aos 49 anos, depois de sofrer derrame um dia antes. George I, seu primo em segundo graus, sucedeu no trono da Grã-Bretanha.

O filme indicado ao Oscar de 2018 sobre Ana e suas duas favoritas (Sarah Churchill e Abigail Hill) foi uma mistura típica de história factual e exageros hollywoodianos. No entanto, as tensões, rivalidades e esquemas, que foram retratados no filme, para atrair o favor da rainha não eram desconhecidos durante esses tempos.