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Matérias / Economia

Muito além de viagens para a Disney: os tempos em que o dólar foi mais barato em relação ao real

Num momento como hoje, em que o dólar ameaça chegar ao valor de 5 reais, esquecemos que o Brasil já teve uma moeda muito mais valiosa, chegando a índices surpreendentes

André Nogueira Publicado em 10/03/2020, às 10h56

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O famoso Disney Dólar - Divulgação/Disney
O famoso Disney Dólar - Divulgação/Disney

Nos últimos dias, o Brasil tem visto sua moeda se desvalorizar verticalmente frente ao mercado internacional, pautado no dólar, a moeda estadunidense. Numa subida impressionante, a moeda americana cresceu em 15,50% só neste início de ano. Como resultado de um complexo processo que somou a inflação brasileira, a queda na renda popular, a desindustrialização e a epidemia internacional do coronavírus, o que torna os produtos de importação no Brasil (como o trigo) mais caros e os de exportação (commodities) mais lucrativos.

Entretanto, o Real Brasileiro já foi uma moeda muito mais valorizada internacionalmente, e seu projeto como unidade de valor monetário surgiu da ideia de tornar o consumo internacional do Brasil mais acessível e, portanto, facilitar a retomada da economia nacional pelo consumo e pela circulação financeira. Tudo isso a partir da Medida Provisória nº 434: o Plano Real.

No governo Itamar Franco, a criação da Unidade Real de Valor, que teve como principal articulador político Fernando Henrique Cardoso, possibilitou a realização de transações comerciais e depósitos domésticos que, progressivamente, substituíam o desvalorizado Cruzeiro e desindexavam a economia com uma nova cédula. No final desse programa, era institucionalizado o Real: formalmente, se equiparava o Real ao Dólar, tornando a compra internacional igual ao mercado interno.

Cédulas criadas em 1994 / Crédito: Wikimedia Commons

Isso possibilitou a retomada completa do consumo popular, que resgatou bens duráveis importados e dissolveu o medo causado pela hiperinflação do aumento abrupto dos preços. Itamar, manchado pelo escândalo do Sambódromo, recuperou a popularidade e completou seu mandato. FHC, que capitalizara um projeto que apenas articulara politicamente, usou o caso para se eleger presidente enquanto o Plano era prosseguido por Rubens Ricupero e Ciro Gomes.

Desde então, o dólar passou a oscilar, no entanto, nos anos iniciais à implantação, antes dos novos picos percebidos no início do segundo mandato de FHC, o desempenho da moeda estrangeira surpreendeu o povo e o mercado financeiro: já fixado na relação 1 a 1, o Real passou a se valorizar, se tornando superior ao dólar. Em julho de 1994, com o Ministério da Fazenda caminhando para a Inflação-zero, a moeda americana era vendida por R$ 0,80, um dado inédita inédito.

As consequências foram insólitas: os turistas brasileiros, no exterior, pagavam mais barato do que gastariam em solo brasileiro, em termos relativos. Itens em real eram mais valiosos, e os produtos básicos de importação (trigo, aço, produtos eletrônicos, etc.) geravam lucro à balança brasileira. Em compensação, o baronato agropecuário foi prejudicado. Isso porque o lucro com a venda de commodities em dólar não era mais proveitoso como outrora.

Cédula de 1 dólar / Crédito: Wikimedia Commons

No Brasil e no mundo, aqueles que recebiam em Real tiveram um momento de consumismo exacerbado, retomando a moral brasileira e reanimando a economia, que sofria com a desvalorização da renda doméstica. O pão ficou mais barato e muitas famílias tinham condições de comprar bens supérfluos, possibilitando uma melhoria na qualidade de vida que durou até, pelo menos, 1999, quando o dólar quase bateu os R$ 4, 40.

Porém, o momento em que o dólar foi essencialmente mais barato, segundo alguns economistas, foi em 2007, em plena pompa das reformas econômicas do Governo Lula, antes da crise internacional: considerando a inflação da época, o dólar equivaleria a R$ 0,68, o que tinha como consequência direta o aumento desenfreado do consumo internacional. “O dólar nunca comprou tão pouco no Brasil. E o real nunca valeu tanto lá fora”, afirmou Tomás Málaga, do Banco Itaú, à revista Época.


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