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Matérias / Múmias

A Múmia de Guanche: o corpo embalsamado de um aborígene das Canárias

Considerado o cadáver mais bem preservado da população pré-hispânica, o indivíduo antigo já foi até mesmo um mórbido presente dado a um importante rei espanhol

Isabela Barreiros Publicado em 03/04/2020, às 07h00

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A Múmia Guanche do Barranco de Herques - Wikimedia Commons
A Múmia Guanche do Barranco de Herques - Wikimedia Commons

Mesmo que a técnica de embalsamamento tenha ficado conhecida por fazer parte da realidade dos antigos egípcios, ela foi utilizada por muitas outras civilizações ao longo da História. Exemplo disso é que arqueólogos das mais diversas partes do mundo muitas vezes se deparam com corpos mumificados que podem datar de milhares de anos, para além das descobertas feitas nos sarcófagos do Egito.

Nas Américas, na Ásia e até mesmo na Europa já existiram casos de múmias frequentemente bem preservadas sendo descobertas. Uma das mais intrigantes foi encontrada no arquipélago espanhol das Ilhas Canárias, onde antes de colonizadores espanhóis chegarem, vivia uma grande população aborígene nativa — os guanches.

O povo pré-hispânico seguia rituais embalsamamento para enterrar seus mortos, utilizando técnicas semelhantes às dos egípcios. Além de mumificar uma pessoa por crenças religiosas, para proteger o corpo para a vida após a morte, o procedimento também tinha um cunho econômico e social. O intuito era distinguir o indivíduo — mesmo falecido — por sua relevância social na comunidade da época. Pessoas comuns eram encarregadas de fazê-lo, demonstrando a desigualdade presente na sociedade.

Crédito: Wikimedia Commons

São poucas as múmias encontradas desse povo, porque muitas delas foram saqueadas por vândalos que invadiam túmulos para roubá-las. Alguns espécimes, porém, ultrapassaram essas adversidades e conseguiram sobreviver, sendo recuperadas por arqueólogos e despertando ainda hoje um grande interesse na comunidade científica.

Um dos mais bem preservados foi um corpo mumificado encontrado em Barranco de Herques, no sul de Santa Cruz de Tenerife, entre as cidades de Fasnia e Güímar. Embora a prática tenha sido utilizada em quase todas as Ilhas Canárias, foi na ilha de Tenerife que ela alcançou a perfeição — e onde a mais importante múmia guanche foi descoberta.

Sendo provavelmente o principal vestígio para o estudo da pré-história canária, o cadáver embalsamado era de um homem que provavelmente faleceu entre seus 30 e 35 anos. Com uma impressionante cabeça cheia de cabelos, o corpo possui seus dentes muito bem preservados, "feições negroides" e mãos delicadas que revelam que o homem não foi um trabalhador braçal em vida.

Além disso, estudos realizados por meio de uma da tomografia axial computadorizada (TC) revelaram o interior da múmia sem que ela fosse minimamente danificada pelo equipamento. O que o exame mostrou foi que o cuidadoso embalsamamento conservou os órgãos do indivíduo praticamente intactos, as vísceras não foram removidas e que até mesmo o cérebro permaneceu preservado ao longo desses anos.

Crédito: Wikimedia Commons

Acredita-se que ele tenha vivido entre os séculos 11 e 13, antes de os colonizadores da Espanha chegarem e estabelecerem a região. Pelo fato de estar mumificado, seguindo o consenso da cultura guanche, os pesquisadores sugerem que o homem provavelmente foi uma figura importante na sua época.

Devido ao seu excelente estado de conservação, o corpo se tornou objeto de desejo de muitas pessoas ao longo da História. Perturbada ainda em seu descanso eterno, a múmia chegou a Madri no século 18 como um presente — no mínimo, mórbido — a ninguém mais ninguém menos que o rei Carlos III da Espanha.

No entanto, sua trajetória estava apenas começando: depois disso, passou por muitos museus na Espanha. Da Biblioteca Real da Espanha à Exposição Universal de Paris de 1878, o corpo foi mudado de local inúmeras vezes, até, em 2015, ser transferida para seu destino final, o Museu Arqueológico Nacional da Espanha, onde permanece até hoje em uma exposição dedicada à cultura pré-hispânica das Canárias.

Hoje, a Múmia Guanche do Barranco de Herques, conhecida também como Múmia Guanche de Madri é um dos mais importantes vestígios da sociedade que viveu nas Ilhas Canárias antes da colonização europeia. Ela é um exemplo marcante das complexas técnicas de embalsamamento utilizadas pelo povo nativo. Especialistas ainda afirmam que essa é a mais preservada múmia de Guanche no mundo, e ela permanece como atração principal na exposição na qual está sendo exibida.


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