Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Hollywood

Náufrago: O evento real que originou a criação da bola Wilson

Personagem responsável por um dos pares mais improváveis do cinema foi criado depois de inusitadas experiências vividas pelo roteirista William Broyles Jr

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 18/07/2020, às 08h00 - Atualizado em 28/12/2023, às 15h37

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Cena do filme Náufrago (2000) - Divulgação/ 20th Century Fox
Cena do filme Náufrago (2000) - Divulgação/ 20th Century Fox

Chuck Noland tem tudo sob controle, ele precisa ter, afinal, é o responsável por solucionar todos os problemas da FedEx em relação ao transporte de produtos em todo o mundo: Quando eles vão chegar? Como vão chegar? Eles chegam ao seu destino inteiros?

"O mundo na hora certa". Esse é lema estampado em cada caixa da companhia e cabe a Noland garantir que essa palavra seja cumprida.

Em um jantar na véspera de Natal com sua família em Memphis, os negócios o chamam inesperadamente para uma missão no exterior. "Eu já volto", diz à sua namorada. Mas ele não vai, pelo menos não agora.

Em algum lugar do Pacífico, seu avião está fora de rota. De repente, a coisa toda está chocalhando violentamente, arremessando-o pelo espaço e entrando na água bem abaixo. É um mergulho doloroso e prolongado.

Em uma cadeia de eventos desconcertante e em movimento rápido, Chuck é jogado de um lado para o outro, mergulhado debaixo d'água antes de ressurgir, ofegando por ar, ainda agarrado ao bote salva-vidas amarelo que ele pegou a bordo do avião. E enquanto a coisa toda desmorona na água, Chuck Noland é deixado no oceano furioso e magnífico. À deriva.

Cena do filme Náufrago (2000) / Crédito: Divulgação/ 20th Century Fox

Provavelmente você conhece esse roteiro, afinal, o filme 'Náufrago' foi um dos grandes lançamentos do final do século passado. Estrelado por Tom Hanks em 2000, o longa marcou a carreira do ator, que chegou a ser indicado ao Oscar por sua atuação.

Além do mais, a produção cativou a todos apresentando ao público o improvável laço de amizade em Chuck e seu amigo semi-imaginário Wilson — uma bola de vôlei na qual Noland, durante um excesso de raiva, a agarra com sua mão sangrando e a joga para longe. Assim, o material esportivo ficou com uma mancha semelhante a um rosto humano. Mas como surgiu essa ideia?

Experiência pessoal

Durante a produção, ficou decidido que as filmagens parariam por um ano, enquanto Hanks passava por um processo para perder cerca de 25 quilos para dar vida a uma nova fase de seu personagem.

Nesse meio tempo, o roteirista William Broyles Jr também tentou se aprofundar mais em perguntas crucias que o filme levantava: Chuck está sozinho na Ilha? Como ele consegue água para beber? Como ele come? Que barulhos ele ouve e quais o devem lhe preocupar?

Esse seria um grande desafio para Broyles, embora não seja algo inédito em sua carreira, afinal, já tinha certa experiência em trabalhar em filme onde as pessoas se perdem. Foi assim com o roteiro de Apollo 13 (1995) e seria assim com seu próximo projeto, o Planeta dos Macacos (2001), de Tim Burton.

Para ajudar nessa resolução de Chuck, William passou um período em um campo de sobrevivência em uma ilha perto do Mar de Cortez, no México. Lá, ficou sozinho por alguns dias, onde caçou arraias e as comeu cruas, e também teve de aprender a abrir coco para drenar sua água.

Ele construiu para si um tecido de bambu e folhas de palmeira, e passou um dia e meio tentando fazer fogo. "Esfreguei paus. Girei-os. E finalmente tive que chamar esses caras de tecnologia primitiva e dizer 'Socorro, não posso mais comer arraia'."

Quase todos esses momentos foram direto para o filme. A experiência também deu a Broyles uma compreensão mais profunda do que significa estar verdadeiramente sozinho. O tempo começou a assumir um significado diferente — rastreado pelas estrelas e pelas marés. Ele lutou com a solidão e o tédio. "Foi quando eu percebi que não era apenas um desafio físico. Também seria emocional e espiritual."

Tudo mudou quando, um dia, o roteirista viu uma bola de vôlei parada na praia e começou a conversar com ela, chamando-a de Wilson, em referência à marca esportiva que a produzia. O que resultou disso é o que Broyles chama de seu "personagem favorito no filme" e um dos pares mais improváveis, ​​em algum tempo, do cinema.

Cena do filme Náufrago (2000) / Crédito: Divulgação/ 20th Century Fox

Wilson significa muito, ele é a saída para o desejo de Noland de compartilhar risos e desespero, um personagem que se torna quase mais real do que o lar que Chuck deixou anos atrás. "Aqui está um homem cujas conexões emocionais não foram tão profundas ou simples e honestas quanto poderiam ter sido", diz Broyles, "e ele está aprendendo a se comunicar e a formar esse apego profundo não a outro ser humano, mas a uma bola. De certa forma, para sua própria projeção".

No entanto, ao contrário do que muitos pensam, as cenas com Wilson não foram as mais desafiadoras a serem feitas. O roteirista explica que o enlace amoroso entre Noland e sua namorada Kelly Frears, estrelada por Helen Hunt, foi mais complicado por ter que ser estabelecido rapidamente logo na parte inicial do filme.

A coisa mais difícil de fazer", revelou Broyles, "é mostrar pessoas reais agindo de maneira simples e honesta — principalmente homens e mulheres. Todo mundo tem um tipo de detector de besteira embutido nessas cenas".