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Matérias / Brasil

Há 109 anos, começava a Revolta da Chibata

Em uma marinha caracterizada por castigos corporais e péssimas condições de vida, marinheiros protagonizaram um episódio que entrou para a História

Jânio de Oliveira Freime Publicado em 21/11/2019, às 11h03

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Num ato de ousadia, os marinheiros apontaram seus canhões para o Rio de Janeiro exigindo melhores qualidades de trabalho - Domínio Público
Num ato de ousadia, os marinheiros apontaram seus canhões para o Rio de Janeiro exigindo melhores qualidades de trabalho - Domínio Público

Se voltarmos ao início do século 20, as condições de trabalho seriam de uma precariedade insalubre. Porém, não teria como estar numa situação pior do que ter ingressado na Marinha brasileira: remetendo-se à época da escravidão, os castigos físicos, o acúmulo de homens e a falta de cuidado dos oficiais caracterizavam a instituição. Por esse motivo, era de se esperar que uma revolta de marinheiros tomasse conta da situação, como aconteceu diversas vezes ao longo do século.

Sua principal era a Revolta da Chibata, comandada por João Cândido durante seis dias de 1910. Refletindo a insatisfação dos marujos em relação à situação precária com a qual eram obrigados a lidar, sua principal reinvindicação era o fim do uso da chibata nas dependências da instituição. Esse uso foi comum desde a época colonial, instituída pelos portugueses.

Encouraçado São Paulo dominado pelos revoltosos / Crédito: Domínio Público

O uso de castigos físicos como forma de punição era uma marca das marinhas ao redor do mundo. Sua naturalização, com requintes de crueldade, existia no Brasil, mas não era parte da realidade das Forças Armadas pelo mundo, principalmente Europa. Descobrir isso foi essencial para a organização da revolta.

Devido o uso de um navio de guerra de origem inglesa – o Minas Gerais –, alguns marinheiros brasileiros foram encaminhados pelo governo para passar um tempo na Inglaterra, onde seriam familiarizados com o equipamento europeu. Entre os comissários, estava João Cândido, de 29 anos. Lá na Inglaterra, Cândido e seus companheiros descobriram que a tortura em embarcações não era uma prática comum fora do Brasil.

Enquanto estava na Europa, Cândido ficou sabendo de uma atrocidade relevante: naquele tempo, houve a famosa revolta do Encouraçado Potemkin, onde marinheiros na Ucrânia se revoltaram contra seus oficias e foram duramente reprimidos pelo czar.

João Cândido / Crédito: Prefeitura de São João de Meriti

Além disso, é importante recordar dos diversos marujos dentro da Marinha brasileira que, sendo estrangeiros, contribuíram com a fagulha da revolta, trazendo uma brutal insatisfação e relatos da inexistência dos castigos físicos nas Marinhas de muitos lugares do mundo.

A revolta não se deu somente pela questão da chibata, pois a maioria dos soldados rasos, que estavam nas condições deploráveis de trabalho, eram oriundos de famílias pobres, ex-escravos e homens negros marginalizados. A questão era a melhoria de vida. 

O levante teve ocorreu depois que um dos marinheiros fluminenses, Marcelino Rodrigues Menezes, agrediu um companheiro com uma lâmina de barbear e foi condenado a 250 chibatadas em público – o número ainda é discutida. Sem direito a tratamento médico, Menezes saiu do tronco com as costas todas abertas, marcado “como uma tainha aberta para salgar”, relatou um ex-oficial.

A maioria dos soldados rasos da Marinha eram descendentes de escravos / Crédito: Wikimedia Commons

A data dos acontecimentos ainda é discutida, pois Zachary Morgan considera que tudo ocorreu na manhã do dia 16 de novembro. Porém, o historiador Joseph Love afirma que a sentença e a sessão de chicotadas ocorreram no dia 21 de novembro, abrindo espaço para que Cândido e seus homens organizassem o motim para a noite seguinte, dia 22, quando eles tomaram o primeiro navio.

No dia 22 então, começou o motim. Diversos marinheiros se rebelam contra seus oficiais e tomaram quatro navios: Minas Gerais, São Paulo, Bahia e Deodoro. Para assegurar a vitória, o Almirante Negro posicionou os quatro navios apossados na Baía de Guanabara, apontando os canhões para a cidade do Rio de Janeiro: se suas reivindicações não fossem ouvidas, abririam fogo e destruiriam a capital (o que era plenamente possível).

Cândido lê o manifesto com as reivindicações / Crédito: Domínio Público

Os revoltosos escreveram um manifesto com suas exigências, enviando-o para o gabinete do presidente no Catete. Hermes da Fonseca decidiu, então, participar pessoalmente das negociações e pediu permissão de subir no Minas Gerais. Lá, combinou com os marinheiros que, se o motim fosse encerrado e os navios devolvidos, suas pautas seriam plenamente aceitas e todos os homens anistiados.

Num primeiro momento, parecia uma verdadeira vitória. Fonseca realmente instituiu uma lei que bania os castigos físicos nas instituições do governo. Porém, quando o quadro da Marinha voltou à normalidade, o próprio presidente decretou a dispensa de mais de mil marinheiros e a prisão de alguns.

Assim ocorreu uma nova revolta na Ilha das Cobras, que foi rápida e violentamente repreendida: muitos de seus participantes foram fuzilados ou enviados para trabalhar nos seringais da Amazônia.


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