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Matérias / Arqueologia

No século 18, um pesquisador acreditou ter encontrado o fóssil de uma testemunha do Dilúvio

Após estudar teorias que relacionavam os escritos bíblicos com a arqueologia, Johann Scheuchzer revelou seu suposto achado

Pamela Malva Publicado em 13/05/2021, às 17h30

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Representação da Arca de Noé - Divulgação/Pixabay
Representação da Arca de Noé - Divulgação/Pixabay

Muito antes da arqueologia reconhecer fósseis e artefatos como mensagens vindas direto do passado, pesquisadores de todo o mundo tentavam compreender o que eram as formações orgânicas, fundidas em pedras e em grandes parcelas de solo.

Durante séculos, então, estudiosos tentaram explicar de onde surgiam aqueles objetos que pareciam pedras, mas não tinham a mesma textura, cor ou aspecto das rochas. Foi assim que os primeiros pesquisadores sugeriram uma possível teoria.

Com base nos escritos bíblicos, diversos pensadores do século 17 começaram a traçar a hipótese de que os fósseis eram restos mortais de animais arrastados pelo dilúvio narrado no livro de Gênesis. E foi nisso que o naturalista Johann Scheuchzer acreditou.

Representação da Arca de Noé / Crédito: Divulgação/Pixabay

O começo de tudo

Em meados do século 17, enquanto pesquisadores tentavam descobrir do que eram feitas as formações que hoje conhecemos como fósseis, muitos estudiosos pensavam além, a fim de identificar qual era a origem de todos aqueles objetos enterrados.

Eventualmente, mentes como o médico dinamarquês Nicholas Steno e o matemático e filósofo alemão Gottfried Leibniz criaram uma teoria. Segundo os pensadores, os muitos fósseis encontrados nas encostas de montanhas e a diversos palmos da superfície do solo teriam sido deixados lá após o temido dilúvio, segundo a revista Smithsonian.

Foi isso que o inglês John Woodward defendeu em seu ‘Ensaio para uma História Natural da Terra’, redigido em 1695. Para o estudioso, a água teria arrastado restos mortais de pessoas e animais que, por serem pesados, afundaram com facilidade na terra.

Gravura do século 18 do grande dilúvio / Crédito: Thomas Pennant/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

Uma descoberta

A teoria de Woodward e dos outros cientistas era tão convincente que permaneceu entre as hipóteses mais aceitas durante um certo tempo. Foi assim que, décadas depois, o naturalista Johann Jakob Scheuchzer colocou suas mãos no ensaio do estudioso inglês.

Fascinado com as palavras de Woodward, o médico suíço nascido em Zurique até traduziu o estudo para o latim, a língua mais falada pela classe estudiosa na época. O trabalho, inclusive, ajudou a difundir ainda mais a teoria do dilúvio pela Europa.

Acontece que, após estudar a hipótese e reunir diversos fósseis, Scheuchzer chegou a uma conclusão que, hoje, pode parecer bizarra. Na época, no entanto, ele acreditava ter descoberto os ossos de um homem que presenciou a construção da Arca de Noé.

O suposto fóssil descoberto por Scheuchzer / Crédito: Haplochromis/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

Testemunha do dilúvio

Em meados do século 18, Scheuchzer havia se formado em medicina e matemática. Morando em Zurique, ele trabalhava na área da saúde e como professor na universidade local e, em seu tempo livre, coletava fósseis para que pudesse estudá-los.

Sempre muito curioso, o estudioso traçou as poucas informações que sabia sobre cada um dos ossos e, dessa forma, se convenceu de que era dono da "estrutura óssea de um homem" que se afogou durante o dilúvio, uma testemunha do episódio bíblico.

Descoberto em uma pedreira de calcário na região da cidade de Öhningen, localizada no sul da Alemanha, o fóssil foi chamado de Homo diluvii testis. Em estudo publicado em 1726, o médico explica que o nome significa "homem, testemunha do Dilúvio".

Esquema do fóssil encontrado por Scheuchzer / Crédito: Cuvier/ Creative Commons

Controversas

Logo depois de anunciar sua descoberta, Scheuchzer passou a ser amplamente questionado por outros estudiosos. O problema é que, para muitos pesquisadores, o fóssil classificado pelo médico pertencia a um peixe ou antigo lagarto.

Convencido que sua teoria estava certa, o naturalista morreu jurando que aqueles eram os ossos de uma testemunha do dilúvio, em 1733. Décadas mais tarde, no entanto, o zoólogo e paleontólogo francês Georges Cuvier desmentiu completamente a hipótese.

Tendo acesso ao fóssil, que estava exposto no Museu Teylers em Haarlem, na Holanda, o pesquisador fez questão de estudar cada detalhe dos testos, em meados de 1811. Foi o fim da curiosa e injustificável teoria de que aquele era um homem da época de Noé.

REconstrução da salamandra gigante pré-histórica / Crédito: Michael BH/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

Teoria desbancada

Com a rocha porosa em mãos, Cuvier conseguiu isolar os ossos ainda mais, revelando sua estrutura em detalhes. Com isso, o zoólogo revelou a cintura escapular e os braços do que, mais tarde, ele classificou como uma salamandra gigante extinta há séculos.

Em seguida, o estudioso observou a própria pedra onde o fóssil foi eternizado, descobrindo que o conjunto tinha cerca de 13 milhões de anos, período que remonta à Época Miocena, e fora formado em um lago dentro de uma cratera vulcânica extinta.

Uma vez derrubada a teoria, estudiosos do século 19 questionaram como um médico tão respeitado quanto Scheuchzer teria confundido os restos de uma salamandra gigante com os ossos de um ser humano. A explicação mais aceita é de que, em busca de provas do dilúvio, o naturalista acreditou ter encontrado apenas aquilo que queria ver.

De qualquer forma, por mais que o médico tenha acreditado em uma teoria infundada — ainda que as salamandras gigantes, as chamadas Andrias scheuchzeri, não fossem conhecidas em sua época —, Scheuchzer teve um pensamento à frente de seu tempo ao perceber que os fósseis, na verdade, eram restos de animais que já se foram.


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