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Matérias / Bizarro

Cão de duas cabeças, um projeto ambicioso de Vladimir Demikhov

Apesar de inusitado e até mesmo bizarro, o experimento do médico russo foi fundamental para desenvolver uma área da saúde que salva milhares de vidas hoje

Caio Tortamano / Atualizado por Alana Sousa Publicado em 19/02/2021, às 15h00

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Médico cirurgião Vladimir Demikhov - Divulgação
Médico cirurgião Vladimir Demikhov - Divulgação

11 de abril de 1959, a mídia estrangeira ficava sabendo de uma notícia bizarra vinda da, então União Soviética. Um cachorro filhote teve a sua cabeça implantada no corpo de um pastor alemão, e agora o animal tinha duas cabeças e um estado de saúde aparentemente normal.

O responsável pela inusitada surpresa foi o cirurgião russo Vladimir Demikhov, que fazia experimentos de cirurgias em cachorros há cinco anos. Até então, nenhum dos animais tinha sobrevivido mais do que seis dias, mas com o cachorro — ou os cachorros — em questão foi diferente.

Pirat (pirata, em russo) sobreviveu por três semanas tendo duas cabeças e reagia a diferentes estímulos dados a ele. Foi assim que a história do médico começou a ser disseminada na classe científica da época e, expandiu os horizontes da capacidade tecnológica em transplantes.

O cachorro Pirat na foto que chocou o mundo / Crédito: Divulgação

Carreira promissora

Antes de ingressar na Universidade Estatal de Moscou, Demikhov era apenas um filho de camponês que tinha trabalhado como mecânico e técnico de consertos mas que, dois anos depois de ingressar na vida acadêmica se destacou.

Em 1937, o russo criou um coração artificial que conseguiu ser implantado com sucesso em um cachorro, que chegou a viver duas horas depois da cirurgia. Apesar do pouco tempo de vida pós-operatório, foi uma conquista e tanto que nunca tinha sido realizada em toda comunidade médica no planeta.

Até então, por conta do conservadorismo da época, muito pouco era estudado a respeito do transplante de órgãos, com as visões menos aprofundadas se limitando ao conto de Mary Shelley, o Frankenstein. O feito do russo foi muito importante nesse sentido.

Médicos e pesquisadores aceitavam a ideia irredutível de que transplantar um órgão era impossível, já que o sistema imunológico de um corpo tende a rejeitar tudo aquilo que não pertence a ele mesmo, o que valeria para um apêndice. Depois de 1937, Demikhov continuou a ousar cada vez mais em seus experimentos, e atrair cada vez mais atenção.

Antes e depois

Curiosamente, um professor americano da Universidade de Washington conseguiu, em 1908, um feito muito parecido com o de Vladimir. Entretanto, o experimento de Charles Guthrie foi ignorado pela comunidade científica muito motivado pelo ceticismo que era ainda mais forte naquela época de que cirurgias do tipo dariam certo.

Médico cirurgião Vladimir Demikhov / Crédito: Divulgação

Depois da difusão do resultado positivo e promissor de Demikhov nos Estados Unidos, muitos médicos americanos quebraram com o clima tenso da Guerra Fria e foram até a União Soviética para entender como o médico soviético conseguiu tamanha façanha. 

Uma das novidades que ele apresentou foi uma técnica utilizada até hoje em cirurgias de transplante, que é o uso de grampos para comprimir o fluxo de sangue em veias e artérias. Com a diminuição do sangramento, o tempo das cirurgias era reduzido consideravelmente.

Esse foi um ponto de mudança fundamental para as transplantações de órgãos no mundo todo. A comunidade internacional — principalmente a americana — percebeu que poderia ser possível uma operação surreal até então, deixando todos muito empolgados.

Fim de um sonho

Aproveitando o sucesso de seu experimento, Vladimir realizou diversas palestras em inúmeras conferências médicas, mas uma em específico marcou negativamente a sua carreira — bem como a sua vida.

Em 1965, em uma de suas palestras o médico propôs a criação de um local onde órgãos saudáveis poderiam ficar enquanto não eram utilizados em pacientes que precisassem desse tipo de intervenção. O que é basicamente conhecido hoje em dia como banco de órgãos foi extremamente mal recebido na época, e provocou uma verdadeira revolta entre os médicos, que já achavam que Vladimir estava indo longe demais.

Com isso, tanto sua reputação como suas pesquisas foram cada vez mais recebendo menos atenção. Demikhov ainda era diretor do Centro Republicano para Reprodução Humana do Ministério da Saúde da Rússia, mas aquilo pelo que ele foi reconhecido já não era dado mais importância.

O médico morreu aos 82 anos em um pequeno apartamento em Moscou, no ano de 1998. Seus esforços médicos foram reconhecidos ao final da vida, recebendo um prêmio pela Ordem de Serviços a Pátria pouco antes de morrer, depois de ter prolongado a vida de tantas pessoas.


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