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Matérias / Brasil

A morte de Celso Daniel: o caso que continua sem respostas quase duas décadas depois

Possivelmente envolvido em um esquema de desvio de dinheiro, o prefeito de Santo André teria sido vítima de um dos crimes políticos mais marcantes — e brutais — do país

Fabio Previdelli Publicado em 03/11/2020, às 18h00

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Foto de Celso Daniel - Wikimedia Commons
Foto de Celso Daniel - Wikimedia Commons

Jogado ao chão da BR-116, com onze marcas de tiro em seu corpo e sinais de tortura. Foi assim que Celso Daniel, prefeito de Santo André filiado ao PT, foi encontrado no dia 20 de janeiro de 2002.

O sequestro

Dois dias antes, Daniel era sequestrado quando saía de uma churrascaria na região dos Jardins, em São Paulo. Segundo foi relatado na época, o prefeito estava em um Mitsubishi Pajero blindado que era dirigido por seu amigo Sérgio Gomes da Silva — conhecido como Sombra.

Os dois passavam pelo bairro do Sacomã, zona sul da capital, quando três veículos cercaram o carro do prefeito. Logo em seguida, os criminosos dispararam contra o carro do petista, que foi arrancado de lá e levado embora. Sombra foi deixado no local sem nenhum ferimento.

O inquérito policial, o suposto envolvimento do PT e as acusações de familiares

O primeiro inquérito da Polícia Civil de São Paulo, divulgado no dia 1 de abril, concluiu que a quadrilha da Favela Pantanal, localizada na zona sul, havia cometido o crime. O delito teria sido feito por acaso. Frustrados por terem perdido de vista o carro de um empresário, o veículo em que estava Celso Daniel teria chamado a atenção dos bandidos.

Na época, o prefeito de Santo André era coordenador da campanha vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência daquele ano — com sua morte, ele foi substituído por Antônio Palocci.

Apesar do inquérito policial, Bruno José Daniel Filho e João Francisco Daniel, irmãos de Celso, contestaram o resultado das investigações, alegando que o petista havia sido vítima de um crime político.

Segundo a dupla, o assassinato de Celso Daniel estava vinculado ao fato dele pertencer a um esquema de corrupção envolvendo empresários do setor de transporte e membros da prefeitura de Santo André.

João Francisco Daniel durante depoimento / Crédito: Wikimedia Commons

João Francisco acreditava que a morte do irmão se tratava de uma queima de arquivo. Ele afirmava que Celso Daniel era condescendente com um esquema de corrupção que desviava dinheiro para o Partido dos Trabalhadores. Segundo ele, o ato também envolvia José Dirceu e André Gilberto Carvalho, secretário de Governo de Santo André.

Para os dois irmãos, o petista teria suspeitado que Sombra, o empresário Ronan Maria Pinto e o secretário de Serviços Urbanos da cidade. Klinger de Oliveira Souza, estariam se beneficiando do esquema de corrupção e, por isso, Daniel teria decidido cortar os desvios; posteriormente, Sombra foi apontado como o mandante do assassinato — ele, Ronan e Klinger foram condenados devido à máfia dos transportes na prefeitura de Santo André.

Em agosto de 2002, o Ministério Público decidiu reabrir o caso para apurar a relação de André Gilberto Carvalho e José Dirceu com o crime, já que, segundo os irmãos de Celso Daniel, os dois estariam se beneficiando com o esquema.

Os petistas negavam as acusações e alegavam que elas eram infundadas, já que Francisco Daniel era filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB, além de fazer oposição ao irmão — com quem havia rompido qualquer relação pessoal e política.

No entanto, apesar das denúncias, Nelson Jobim, ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, decidiu não levar o processo adiante.

Uma nova teoria passa a ser investigada

Para o MP de Santo André, que investigou o caso, foi um crime de mando. Para a Polícia Civil (DHPP), foi um crime comum. Esse é o grande e eterno embate sobre o caso. A tese de que o assassinado do petista foi planejado por Sombra, que seria chefe da quadrilha da favela do Pantanal, só surgiu em 2012, em uma nova abertura do caso — desta vez pelo Ministério Público de São Paulo.

Com ela, chegou-se a conclusão de que Celso Daniel foi complacente com o esquema de desvio de dinheiro ao PT. No entanto, ao que tudo indica, ele não compactuava com as verbas serem desviadas para o enriquecimento de pessoas envolvidas na operação.

Segundo João Francisco Daniel, ao descobrir o envolvimento dos empresários e de seu secretário no esquema, ele teria preparado um dossiê para incriminar o trio, que teria desaparecido após seu assassinato.

A prisão dos envolvidos e a morte de alguns deles

Após o encerramento dos inquéritos, os membros da quadrilha da favela do Pantanal foram julgados e condenados por crime comum. Entre eles estão: Marcos Roberto Bispo dos Santos, o Marquinhos; Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho;  José Edison da Silva, o Zé Edison; Ivan Rodrigues, o Monstro; Elcyd Oliveira Brito, o John; Itamar Messias Silva dos Santos, o Olho de Gato e Laércio dos Santos Nunes, o Lalo.

Sombra durante depoimento / Crédito: Reprodução

Sombra teve sua prisão decretada em 2003 — ficando detido de dezembro daquele ano até julho de 2004, quando conseguiu um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, o STF.

Segundo o Ministério Público, Sombra, que morreu de câncer em 2016, contratou Dionísio de Aquino Severo para orquestrar a ação e contratar a quadrilha da favela do Pantanal. Um fato curioso desse processo, é que Dionísio foi resgatado de helicóptero de um presídio em Guarulhos apenas um dia antes do sequestro de Celso Daniel.

Severo foi preso no mesmo ano do crime, sendo morto dentro da prisão dois dias depois, enquanto falava com sua advogada. Além dele, outras seis pessoas ligadas ao crime também foram mortas — o que incluiu algumas testemunhas e até mesmo o médico legista que constatou que o corpo de Celso Daniel tinha algumas marcas de tortura. A sequência de mortes relacionadas ao assassinato do prefeito petista só enfraqueceu ainda mais a hipótese sustentada pela polícia de que tudo se tratava de um crime comum.


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