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Matérias / Crimes

O caso de estupro que condenou o homem errado

Alice Sebold foi violentada aos 18 anos e a Justiça norte-americana prendeu um homem por isso — porém, ele não era o verdadeiro responsável

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 11/12/2021, às 09h00

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Anthony Broadwater durante o julgamento - Divulgação/Vídeo/Youtube
Anthony Broadwater durante o julgamento - Divulgação/Vídeo/Youtube

O ano era 1981, e Alice Seboldera uma jovem universitária de 17 anos de idade quando sofreu um traumático episódio de violência sexual.

Cinco meses mais tarde, a norte-americana pensou que viu seu estuprador andando pela rua e contatou a polícia. Era Anthony Broadwater, um homem negro de 20 anos. 

Não demorou para que ele fosse colocado atrás das grades por conta do crime, o que, na época, com certeza foi um alívio para a jovem.

40 anos mais tarde, ou, mais especificamente, no último mês de novembro, um tribunal revisando o caso concluiu que Anthony era, na verdade, inocente, e havia sido condenado injustamente, sem que houvessem evidências suficientes apontando para ele.

Anthony recebeu a sentença com base no fato da vítima tê-lo reconhecido durante aquela ocasião, ainda que não fosse compatível com o retrato falado feito na época do crime, e ainda que ao precisar apontar para seu agressor em meio a um grupo, a moça falhou em identificá-lo, tendo escolhido outra pessoa.

Outra suposta prova que indicaria sua culpa foi uma análise de seu cabelo. A técnica dos anos 80, contudo, é considerada hoje ultrapassada e insuficiente como evidência, de acordo com informações repercutidas pela BBC em um artigo de novembro. 

O erro judiciário fez com que Anthony tivesse de cumprir uma sentença de 16 anos de prisão e passando o restante de sua vida adulta na lista de agressores sexuais do sistema de justiça norte-americano. 

Estar fichado desta forma, o que no país é um registro público, costuma fazer com que as oportunidades de emprego diminuam e o tratamento da sociedade em geral seja marcado pela desconfiança. 

Assim, tragicamente, o estupro de Alice fez duas vítimas. Não apenas ela, mas também Broadwater, que, devido ao julgamento equivocado dos profissionais da época, acabou precisando pagar por um crime que não cometeu, enquanto o verdadeiro agressor da autora nunca foi responsabilizado pelo ato. 

Injustiça antiga

Quem percebeu a inconsistência do caso foi Timothy Mucciante, um produtor executivo que estava trabalhando em uma adaptação para o cinema do famoso livro "Lucky" (Ou "Sortuda", em tradução livre), que foi escrito por Sebold e recontava suas experiências e pensamentos do período de seu abuso. 

"Comecei a ter algumas dúvidas, não sobre a história que Alice contou sobre sua agressão, que foi trágica, mas sobre o julgamento na segunda parte do livro, que não fazia sentido", explicou ele em uma entrevista ao The New York Times. 

"Certas coisas me pareceram estranhas — especificamente o procedimento de seleção em que Alice escolheu a pessoa errada como seu agressor. Mas eles condenaram Broadwater igual", acrescentou. 

As dúvidas de Timothy o levaram a abandonar a produção do longa, e ainda a contratar um investigador particular para tentar chegar ao fundo daquela questão. Rapidamente ficou claro que um erro grave fora cometido durante o julgamento que condenara o suposto agressor da escritora. 

Restauração

Anthony foi inocentado no dia 22 de novembro, uma notícia que teria recebido com "lágrimas de alegria e alívio", conforme relatou ele à AFP.

O fato do nome do homem ter permanecido por tantos anos na lista de agressores sexuais afetou profundamente sua vida.

"Posso contar nos dedos das mãos as pessoas que me permitiram entrar em suas casas. Isso é muito traumático", contou. 

"Só espero e rezo para que a Sra. Sebold venha e diga: 'Ei, cometi um erro grave' e me peça desculpas. Eu simpatizo com ela. Mas ela estava errada", comentou ele durante uma conversa com o The New York Times. 

Pouco tempo mais tarde, felizmente, Alice Sebold de fato enviou um pedido de desculpas a Broadwater pelo papel que teve em sua condenação. 

"Lamento, acima de tudo, pelo fato de que a vida que você poderia ter tido foi injustamente roubada de você, e eu sei que nenhuma desculpa pode mudar o que aconteceu com você e nunca mudará", escreveu ela, de acordo com informações da BBC, uma mensagem que também teria sido recebida com "alívio" pelo norte-americano.

Atualmente, o livro da autora foi retirado das prateleiras para que a história seja revisada à luz das novas informações.