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Matérias / Crimes

O crime da rua Cuba: o assassinato que chocou o Brasil

Assim como Suzane Von Richthofen, Jorge Bouchabki foi acusado de matar os pais. Sua culpa jamais foi provada. “Eu não tenho problema em falar sobre o assunto. Eu não matei meus pais”

Fabio Previdelli Publicado em 17/02/2020, às 16h50

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Foto de Jorge Bouchabki - Divulgação
Foto de Jorge Bouchabki - Divulgação

Com tradições conservadoras, uma família da alta classe busca criar seus filhos para que sigam um caminho próspero e promissor. Ao mesmo tempo, eles também se preocupam com as relações pessoais das crias e fazem de tudo para elas se envolvam com “pessoas adequadas” aos padrões familiares.

Contrariados, os jovens se rebelam ao descobrirem o amor singelo e 'proibido' de outra pessoa e pensam que jamais serão felizes com as constantes implicâncias dos pais. Determinados a colocarem um ponto final em todo autoritarismo exacerbado, eles escolhem o pior caminho possível: matar seus progenitores.

O caso logo ganha a mídia. Inquietos, a pressão popular cobra uma rápida ação policial para que os criminosos sejam presos o quanto antes. Neste momento, uma ‘luz’ cai sobre a investigação: foi o filho que assassinou os pais.

Jorge Bouchabki foi acusado de matar os pais em 1988 / Crédito: Divulgação

A narrativa bem que poderia relatar o bárbaro crime cometido por Suzane von Richthofen e os irmãos Cravinhos, no entanto, muitos acreditavam que ela também contaria o que aconteceu por trás do enigmático crime da Rua Cuba. A diferença é que se tratou de uma acusação sem provas. Mas, para entendermos tudo isso, temos que recordar o que aconteceu no local em questão.

O crime da Rua Cuba

Na véspera do Natal de 1988, o casal Maria Cecília e Jorge Toufic Bouchabki foram assassinados dentro de sua casa: uma residência localizada no número 109 da Rua Cuba, no bairro Jardim América — um dos mais ricos e luxuosos de São Paulo.

Na cena do crime, policiais não encontraram sinais de arrombamento e muito menos a arma do delito. Sem suspeitos ou provas concretas, os investigadores levantaram a hipóteses de que a transgressão foi cometida pelo filho mais velho do casal, Jorge Delmanto Bouchabki.

Fachada atual da Rua Cuba, 109 / Crédito: Divulgação Google Street View

Segundo as teorias levantadas na época, na véspera dos assassinatos, Jorge teria discutido com a mãe por causa de seu relacionamento. Ela não concordava com a união e, segundo relatos da empregada da família, os ânimos estavam tão aquecidos, que Maria teria quebrado um taco de sinuca em uma paulada que desferiu contra o filho, repercute o Correio Braziliense.

Vale ressaltar que, em um primeiro momento, a versão da doméstica foi completamente diferente, falando que o lar era harmonioso e tranquilo, mas após a prescrição do crime, ela alterou seu depoimento para essa outra versão mais comprometedora. Porém, por falta de evidências, Jorge, que tinha entre 18 e 19 anos na época, não foi indiciado e o caso foi encerrado. Ele é inocente na história.

A relação do crime da rua Cuba com os Richthofen

Anos depois, uma narrativa parecida voltou a ganhar os noticiários locais. Em 31 de outubro de 2002, Manfred Albert von Richthofen e Marísia von Richthofen foram brutalmente assassinados enquanto dormiam na luxuosa mansão da rua Zacarias de Góes, no bairro do Brooklin, em São Paulo.

Família Richthofen / Crédito: Wikimedia Commons

Apesar da narrativa semelhante, houve um ponto diferente no desfecho desses dois crimes: os verdadeiros homicidas confessaram — o que foi altamente comemorado pelos policiais que investigavam o caso.

“Eufórico com a revelação, Tumani [responsável pelo interrogatório de Cristian Cravinhos] pegou o gravador e saiu correndo pelos corredores da DHPP gritando como se fosse uma vitória do Brasil na final da Copa do Mundo: ‘Ele confessou! Ele confessou! Ele confessou!”, relata Ullisses Campbell no livro Suzana – Assassina e Manipuladora, Editora Matrix.

“Os policiais comemoraram com uma salva de palmas e abraços mútuos a confidência que solucionava um crime de enorme repercussão. O festejo não ocorria à toa. Havia um forte receio por parte da cúpula da Polícia de São Paulo de que o caso Richthofen acabasse sem solução, como ocorreu como crime da Rua Cuba”, descreve Ullisses.

O que Jorge Delmanto Bouchabki declarou sobre o caso e como ele vive atualmente?

O silêncio do rapaz durou quase três décadas. Em 2018, Jorginho, como era chamado, concedeu uma entrevista ao repórter Walter Nunes da Folha de S. Paulo: "Minha mãe não gostava do meu namoro, mas isso não era nada demais. Chegaram a dizer que minha mãe teria me batido com um taco de sinuca nas costas durante uma discussão. Isso é um absurdo. Eu nunca briguei com minha mãe”.

Na mesma entrevista, ele também disse que tinha suspeitas a respeito dos verdadeiros culpados pelo crime. Em duas das suspeitas, ele aponta casos em que o pai contrariou interesses de pessoas. Já a terceira teoria aponta para um assalto. Todavia, Jorge nunca quis apontar suspeitos sem provas, assim como fizeram com ele.

"Eu já fui vítima de uma acusação sem provas e não quero cometer o mesmo erro que cometeram comigo", afirmou ele.

Hoje, Jorge é um advogado criminal bem-sucedido. Aos 47 anos, na época da entrevista, que ocorreu em fevereiro de 2018, Bouchabki trabalhava para cinco réus que tinham processos ligados à Operação Lava Jato.

Sobre o caso do assassinato dos pais ele relembra: “Eu nunca fui tratado como suspeito. Ser tratado como suspeito eu até entenderia. Mas me trataram sempre como culpado. Eu fui condenado pela imprensa”, disse. Com o passar dos anos, ele relata que já superou o trauma vivido. “Eu não tenho problema em falar sobre o assunto. Eu não matei meus pais. Estou tranquilo”.


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