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Matérias / Curiosidades

O curioso interior dos bunkers do Dia do Juízo Final

Construídos na Segunda Guerra, abrigos subterrâneos se tornaram uma fonte de esperança para salvar vidas se o mundo ruir

Fabio Previdelli | @fabioprevidelli_ Publicado em 03/04/2022, às 00h00

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Entrada de um bunker - Divulgação/YouTube/Enes Yilmazer
Entrada de um bunker - Divulgação/YouTube/Enes Yilmazer

O mundo já enfrentou diversas ameaças de uma guerra nuclear. Seja com a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, durante a gestão de John Fitzgerald Kennedy; ou até mesmo com a recente invasão à Ucrânia por parte da Rússia, não importa, um colapso mundial poderia ser causado com poucas ordens. 

Pensando em oferecer um local seguro às pessoas, o arquiteto Dante Vicino virou “guru dos bunkers” após começar a investir em redutos fortificados construídos parcialmente embaixo da terra. 

Assim, em 2018, a Vivos Xpoint Shelter — empresa fundada por Vicino que se propõe a reformar e administrar abrigos subterrâneos reforçados projetados para resistir a desastres futuros e catástrofes de extinção de vidas —  comprou uma base do Exército americano, anteriormente conhecida como Black Hills Ordinance Depot, na Dakota do Sul. 

Vista aérea da Black Hills Ordinance Depot, na Dakota do Sul/ Crédito: Divulgação/YouTube/Enes Yilmazer

O complexo de 18 quilômetros quadrados, que possui 575 bunkers subterrâneos feitos de concreto e ferro, foi originalmente construído como uma fortaleza militar. Hoje, entretanto, o local tem a capacidade de receber até cerca de 5 mil pessoas. 

“Anteriormente aqui era o Black Hills Ordinance Depot. Quando os militares construíram isso para a Segunda Guerra, eles tinham tudo: desde a produção até a fabricação e distribuição, o armazenamento para testes de bombas, armas, munições e artilharia”. Era tudo aqui”, explica Dante ao canal do corretor imobiliário Enes Yilmazer, famoso por mostrar os imóveis mais luxuoso de Beverly Hills, em Los Angeles.

Nós transformamos isso na maior comunidade de sobrevivência fora do mapa. E é o único lugar assim não só neste país, mas em todo o mundo”, completa. 

O local abriga bunkers em três diferentes níveis de estágio de desenvolvimento: os abandonados, onde nenhuma modificação foi feita; os que estão em reforma para abrigar moradores; e aqueles que estão aptos para se morar. 

Embora, por fora, todos os bunkers tenham a mesma estrutura, por dentro seus espaços são aproveitados de maneiras diferentes. Um ponto curioso é que todos os espaços possuem as estruturas originais que os engenheiros usaram para moldar o concreto. 

Estrutura original do bunker/ Crédito: Divulgação/YouTube/Enes Yilmazer

“Como arquiteto, eu amo isso. Eu acho incrível quando a estrutura e a engenharia de uma construção, de qualquer coisa, é totalmente indicada e exibida na parte final do design. E não vemos muito disso no desenvolvimento padrão. Essas estruturas não eram para ser obras-primas da arquitetura”, aponta o fundador da Vivos.

Mas o que leva uma pessoa a comprar um bunker?

Embora sua arquitetura pareça rústica, os bunkers da Vivos Xpoint Shelter dispõem de comodidades de última geração: como um sistema interno de geração de energia, poços de água, sistema biológicos, químicos e de filtragem de ar radioativo, descarga de esgotos, equipamentos de suporte críticos e até mesmo acesso à internet. 

Outro ponto interessante é que cada estrutura é reforçada com aço e estão, parcialmente, no subsolo, enterrados e protegidos com uma espessa camada de terra ao seu redor, capaz de resistir a uma onda de explosões da superfície, assim como à precipitação radioativa. 

Imagem aérea de um bunker/ Crédito: Divulgação/YouTube/Enes Yilmazer

“Esse é um local secreto perfeito. A Dakota do Sul, de maneira geral, é um lugar incrível para sair dos grandes centros urbanos que há no país. Para sair da região da costa, das regiões normalmente alvejadas. E muitas pessoas se sentem seguras aqui. E acho que é uma grande alternativa ao que podemos conhecer”, aponta Vicino.

Para se ter uma ideia, segundo o site da Vivos, cada abrigo é capaz de resistir a uma explosão de 500 mil toneladas. Além do mais, o interior de cada bunker é super espaçoso, podendo acolher entre 10 e 24 pessoas com comodidade — dependendo do tamanho de cada bunker, que pode chegar a uma área de cerca de 670 metros quadrados. 

Normalmente, cada uma das construções, dependendo do projeto, é claro, pode contar com quatro quartos e dois banheiro, além de uma sala de estar com cozinha e duas salas para armazenamento de produtos. 

“Se você imaginar vazio, dá pra ver onde as paredes estavam e dá pra imaginar o fundo, né? Temos uma ideia muito clara de um espaço muito bem definido e parecia um pouco mais confinado”, aponta Dante ao comparar um abrigo vazio com outro já pronto, como da imagem abaixo.

Visão da entrada de um bunker reformado, onde fica a sala de estar e a cozinha/ Crédito: Divulgação/YouTube/Enes Yilmazer

Mas quando você começa a otimizar isso, colocando o corredor, organizando como uma sala grande como esta aqui. Isso faz tudo parecer muito maior”, ressalta. 

Preço e população atual

Se você já estiver convencido a se mudar para o local, saiba que o valor de um bunker sai muito mais em conta do que uma residência de preço médio. Segundo a InfoMoney, uma casa em Orlando, considerada a cidade 'mais em conta dos EUA', custa cerca de 100 dólares o pé quadrado. Portanto, uma residência de 2.200 pés, tamanho da área de bunker, sairia por volta de 220.000 dólares (pouco mais de R$1 milhão).

Já para comprar um bunker vazio, é necessário desembolsar 45 mil dólares (cerca de R$210 mil). “Com todos os reparos pesados, no chão, ou com reparos de rachaduras, tudo isso arrumado, limpo e vazio, custa 45 mil dólares por um contrato de 99 anos”, aponta Dante

àreas, em ordem, de um bunker reformado: suíte principal, banheiro, sala de cinema e quarto com beliches/ Crédito: Divulgação/YouTube/Enes Yilmazer

Segundo o fundador da Vivos, das 575 unidades disponíveis, cerca de 200 já foram vendidas. “Estamos quase na metade”, celebra. Deste número, porém, Vicino ressalta que a porcentagem de residentes fixos é bem menor: “Eu diria que há 30 famílias morando aqui em tempo integral”. 

“A sensação de se isolar aqui, de noite, é diferente de tudo que já senti”, aponta Enes, que passou dois dias com sua equipe no abrigo de Vicino. “Dante nos mostrou outros bunkers vazios que não foram tocados ainda. E eu senti uma conexão sombria com o passado e com a história local”. 

Eu sempre era lembrado que, antigamente, cada um desses bunkers estava cheio de armas para a guerra. E agora, quatro anos depois [da compra pela Vivo], eles ganharam uma nova vida como abrigos para salvar vidas se o mundo ruir”, completa.

Por fim, Enes Yilmazer aponta uma das principais coisas que notou depois de passar uma noite dormindo no local. “Quando despertei, pensei: ‘Ah, é. O dia está começando’. Aí pensei: ‘Do que eu estou falando? Não há janela aqui’”, conclui em tom descontraído.