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Matérias / Arqueologia

O estiloso sapato de 1.500 anos encontrado nas montanhas da Noruega

A princípio, o calçado sofisticado parece pouco adequado para o terreno acidentado e as temperaturas frias da região

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 17/04/2022, às 09h00

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Fotografia do sapato com uma peça de espuma no formato de um pé dentro - Divulgação/ Espen Finstad/ Glacier Archaeology Program Innlandet
Fotografia do sapato com uma peça de espuma no formato de um pé dentro - Divulgação/ Espen Finstad/ Glacier Archaeology Program Innlandet

No verão de 2019, uma equipe de arqueólogos liderados por Espen Finstad resgatava artefatos arqueológicos nas montanhas geladas de Lendbreen, na região central da Noruega, quando recebeu uma mensagem inusitada em seus celulares. 

O recado foi enviado por um guia que já era conhecido dos pesquisadores, e alegava ter encontrado em meio ao gelo um calçado de aparência antiga, entre outros objetos, durante uma caminhada pelas montanhas. 

Foi para cima e para baixo no mesmo dia. Encontramos aquele sapato — era um sapato — e muitas outras coisas também. Estrume de cavalo, tecidos, forragens de folhas, hastes de flechas e outros itens que conseguimos trazer para baixo”, explicou Finstad, segundo repercutido pelo portal Science Norway. 

Um detalhe peculiar é que, no dia seguinte, uma baixa das temperaturas fez com que a região onde a descoberta ocorreu fosse coberta de neve fresca, mostrando que, caso eles não tivessem localizado os itens logo após receberem a mensagem, os artefatos seriam enterrados pelo gelo novamente. 

Fotografia do sapato ainda na neve / Crédito: Divulgação/ Espen Finstad/ Glacier Archaeology Program Innlandet

Na última quarta-feira, 13, o grupo de arqueólogos publicou um relatório científico a respeito do achado. O calçado encontrado, que possuía um estilo simular ao das sandálias romanas,  foi datado do período entre os anos 200 d.C e 500 d.C, época em que o Império Romano se aproximava de seu fim.

Moda nas montanhas

É impressionante porque estamos aqui a quase 2.000 metros e encontramos um sapato com elementos de moda, semelhantes aos encontrados no continente na época", pontuou Finstad

Isso, pois embora outros calçados já tenham sido descobertos nas montanhas norueguesas, eles costumam ter aspectos muito diferentes desse: bem menos sofisticados, geralmente são feitos de uma única peça de pele de animal que cobre o pé inteiro.

O item, embora rústico, serve bem à finalidade de proteger o corpo durante uma viagem pela paisagem gelada. 

"É fácil brincar que [o sapato] era de um turista romano que não entendia muito sobre o país que estava visitando. Mas acredito que as pessoas que percorreram essas rotas provavelmente sabiam o que estavam fazendo. Eles teriam usado algo dentro desse sapato que o fizesse funcionar. Talvez pedaços de tecido ou pele de animal [para terminar de cobrir o pé]", explicou o pesquisador, ainda de acordo com Science Norway. 

Pedaço de tecido encontrado durante mesma descoberta / Crédito: Divulgação/ Espen Finstad/ Glacier Archaeology Program Innlandet

Assim, os romanos que ousaram cruzar as montanhas da Noruega teriam sido eficientes com o vestuário que usaram para o trajeto, porém sem deixar seu estilo requintado para trás.  

Já quanto ao objetivo dessas travessias através do gelo, os pesquisadores especularam que seria para fazer trocas comerciais de couro, sal, galhadas e peles de animais. 

Quem cruzava as montanhas?

Anteriormente, uma série de marcos de pedra pré-históricos foram encontrados no terreno montanhoso, indicando que as viagens pelos picos gelados datam de milênios. 

Ainda falta muito, no entanto, para entendermos completamente a história das montanhas norueguesas e como ela se conecta com o que conhecemos das civilizações da época. 

Você tem esse vasto deserto, sem vestígios de humanos. Mas então você percebe que na verdade está cheio de pistas. Pequenas pistas no início, mas quando elas se multiplicam, e você pode vê-las juntas, toda essa nova história aparece (...) É uma quebra-cabeça gigante”, concluiu Espen Finstad, que passou mais de uma década estudando a região, também conforme o Science Norway.