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Matérias / Personagem

O Homem da Face Demoníaca: Edward Mordake existiu de verdade?

Mordake teria vivido até os 23 anos atormentado pelo rosto que havia na parte de trás de sua cabeça

Letícia Yazbek Publicado em 02/10/2019, às 15h47

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Crédito: Reprodução
Crédito: Reprodução

Protagonista de uma lenda urbana popular, Edward Mordake teria sido um nobre herdeiro inglês nascido no século 19 que tinha uma segunda face na parte de trás da cabeça.

De origem americana, a história de Mordake se tornou popular na Internet, promovida por websites que tratam de temas paranormais. No entanto, a identidade do homem nunca foi provada, e sua existência é discutida até hoje.

A segunda face de Edward, embora fosse incapaz de enxergar, comer ou falar em voz alta, seria capaz de rir e chorar. Ela causava espanto nas pessoas, que acreditavam que os olhos desse segundo rosto as seguiam.

Edward teria sido atormentado por sua segunda face, que supostamente sussurrava “coisas que alguém só falaria no inferno”. Além disso, fazia piadas quando Edward estava feliz e ficava sorridente quando ele chorava.

Segundo a lenda, Mordake teria implorado aos médicos que removessem sua “face demoníaca”, mas nenhum deles aceitou fazer o arriscado procedimento. Então, aos 23 anos, ele cometeu suicídio, deixando aos seus familiares um bilhete no qual suplicava que o segundo rosto fosse retirado e destruído antes de seu enterro, para que não o incomodasse durante a eternidade.

A primeira descrição de Edward Mordake foi feita em um artigo publicado no jornal Boston Post, em 1895. Escrito pelo autor de ficção Charles Lotin Hildreth, o artigo descreve casos considerados “aberrações humanas”. Hildreth afirmou ter encontrado esses casos em relatórios da Royal Scientific Society, uma sociedade cuja existência não foi comprovada.

Na enciclopédia médica Anomalias e Curiosidades da Medicina, de 1896, George M. Gould e Walter L. Pyle reuniram os casos mais estranhos da medicina, citando a história de Mordake:

“Sua figura era notável por sua graça, e seu rosto — isto é, seu rosto natural — era de beleza grega. Porém, na parte de trás da cabeça havia outro rosto, a de uma linda garota, adorável como um sonho, medonho como um demônio.”

Trecho sobre Mordake em Anomalias e Curiosidades da Medicina / Crédito: Reprodução

A inclusão da história em uma publicação médica forneceu mais veracidade à narrativa. No entanto, Gould e Pyle nunca revelaram de onde tiraram o caso de Mordake — disseram apenas que foi extraída a partir do relato de pessoas comuns.

O caso de Edward Mordake poderia ser explicado por uma condição médica extremamente rara, chamada Craniopagus parasiticus, que ocorre entre 4 a 6 nascimentos em cada dez milhões. Ela acontece quando a cabeça de um gêmeo sem corpo desenvolvido fica única à cabeça de um gêmeo dominante, com corpo desenvolvido.

No entanto, a maioria dos bebês com essa condição morre antes do nascimento ou durante o trabalho de parto. Apenas 10 casos foram registrados na literatura médica, e somente três sobreviveram. Por isso, é pouco provável que Mordake tenha realmente existido com essa condição.

Além disso, nos casos de Craniopagus parasiticus, a face do gêmeo não dominante não demonstra sinais de inteligência. Ao contrário da face demoníaca de Edward, capaz de rir, sorrir e sussurrar.

Acredita-se que, se a história de Mordake fosse realmente verídica, haveria mais informações e fontes confiáveis sobre sua existência, devido à raridade de sua condição médica.

Estátua de cera representando Mordake / Crédito: Reprodução

Os nomes de dois supostos médicos de Edward, Manvers e Treadwell, nunca apareceram no Dictionary of National Biography, publicação que lista as figuras mais notáveis da história da Inglaterra. Se os dois fossem médicos importantes da realeza britânica, deveriam aparecer na publicação.

A foto mais famosa atribuída a Mordake mostra, na verdade, uma das diversas estátuas de cera construídas para ilustrar como seria o homem. O fato de estar em preto e branco traz a falsa ideia de que se trata de uma foto antiga e, portanto, verdadeira.