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Matérias / Primavera Árabe

O homem que se tornou o estopim da Primavera Árabe ao queimar o próprio corpo

O vendedor ambulante da Tunísia revolucionou o mundo árabe

Paola Orlovas, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 18/12/2021, às 09h00

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Cartaz com foto de Mohamed Bouazizi, exposto nas ruas da Tunísia durante o ano de 2011 - Getty Images
Cartaz com foto de Mohamed Bouazizi, exposto nas ruas da Tunísia durante o ano de 2011 - Getty Images

Mohamed Bouazizi, um jovem comum da Tunísia, nascido em 1984, que vendia legumes e frutas para sustentar, com 150 dólares ao mês, uma família composta por oito pessoas, mudou o rumo de seu país e de vários outros ao colocar fogo sob si mesmo, em forma de protesto às atitudes de autoridades locais.

Bouazizi trabalhava como vendedor ambulante, e queria trocar seu carrinho de mão para uma caminhonete. Certo dia, três fiscais do governo foram lhe pedir propina para que deixassem com que ele continuasse a trabalhar, mas ele se recusou. 

Com isso, seus produtos foram apreendidos e colocados dentro do carro das autoridades, mas Mohamed não queria que eles pegassem as balanças que ele usava, o que fez com que os policiais o agredissem, momento que ficaria gravado em suas memórias, e que faria com que ele questionasse figuras do governo mais tarde. 

Preocupado com a sua venda, Bouazizi se dirigiu até as autoridades locais em uma tentativa sem sucesso de ser ouvido e pegar seus produtos de volta, já que o governador não quis recebê-lo. Foi então que Mohamed comprou um latão de gasolina, que acabou usando para se incendiar na frente da sede do governo, junto com um fósforo. 

Levado até o hospital após seu ato de desespero, Bouazizi chegou ao local com queimaduras em 90% de seu corpo, e perdeu sua vida no dia 5 de janeiro de 2011.

Frank Gardner, jornalista da BBC News, escreveria que o sentimento de Mohamed “levou multidões enfurecidas às ruas”, e assim se deu início a uma série de manifestações contra problemas que assolavam o país, como a alta de preços, a falta de oportunidade e a corrupção oficial.

As autoridades tentaram repreender os manifestantes usando a brutalidade, mas aqueles que participavam dos protestos não recuaram. Com a morte de Mohamed, os protestos se tornaram maiores, e a polícia prendeu milhares de pessoas, também matando centenas.

Em meio a tudo que acontecia, Ben Ali, o então presidente da Tunísia, que se manteve no poder durante 23 anos por meio de uma autocracia militar, pediu calma aos tunisianos em discurso na televisão. Ele dizia:' “Desemprego é um problema global”, enquanto colocava a culpa da violência que tomava o país em “terroristas”.

Pouco tempo se passou, e apenas nove dias após a morte de Mohamed Bouazizi, já era anunciado pelo primeiro-ministro do país que Ben Ali se encontrava “impossibilitado de exercer suas funções” como presidente. 

A realidade, segundo a BBC, é que o antigo presidente da Tunísia havia fugido de avião com sua família, tentando primeiro ir para a França, que não deixou seu avião pousar, e depois para a Arábia Saudita, que fez com que ele renunciasse às atividades políticas com o objetivo de receber asilo, e assim seu governo chegou ao fim.

Hoje o nome de Mohamed Bouazizi, um vendedor ambulante, é lembrado em diversos poemas, canções e discursos, e sua ação na frente da sede do governo é vista como o estopim da Primavera Árabe, essa que estava para acontecer na região durante décadas.