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Matérias / Brasil

O maratonista que se perdeu no litoral do Rio Grande do Sul

Carlos de Freitas passou 58 horas perdido em uma das maiores praias do mundo. Descubra como ele sobreviveu à assustadora experiência

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 21/11/2021, às 10h00

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Fotografia de Carlos de Freitas no início da competição - Divulgação/ Extremo Sul Ultramarathon
Fotografia de Carlos de Freitas no início da competição - Divulgação/ Extremo Sul Ultramarathon

A edição de 2021 da Extremo Sul Ultramarathon, que foi realizada na semana passada, durante os dias 12,13 e 14 de novembro, quase terminou em tragédia. 

Isso pois um dos competidores, Carlos de Freitas, que tem 68 anos de idade e muita experiência com maratonas, acabou se desviando do trajeto que deveria percorrer, e precisou ser resgatado. 

A prova desafiadora se dá na Praia do Cassino, que fica localizada no Rio Grande do Sul e é conhecida por conta de seu tamanho, já tendo inclusive ocupado o posto de maior praia do mundo no passado. 

A extensão da região tornou as buscas angustiantes, e fato de o atleta ter ficado desaparecido por mais de dois dias foi, por si só, suficiente para fazer com que muitos perdessem as esperanças.

Felizmente, no fim, eles foram capazes de localizar Carlos, que, para a surpresa de todos, havia conseguido se manter vivo e relativamente bem durante aquelas longas 58 horas, segundo informações divulgadas pelo Estadão na última quinta-feira, 18.

Condições desfavoráveis

A disputa em território gaúcho, que atrai atletas de diferentes partes do mundo, permite um máximo de 80 competidores, conforme consta em seu site oficial

Este ano, contudo, havia apenas 49 corredores, e 20 deles, quase metade, acabou desistindo no meio do caminho devido às condições climáticas desfavoráveis — soprava um vento fortíssimo na região litorânea, vindo bem de encontro com os competidores.

Fotografia ilustrativa de um corredor durante a competição / Crédito: Divulgação/ Extremo Sul Ultramarathon

Assim, era necessário mais esforço do que o normal para cobrir a distância de 226 quilômetros que possui o trajeto total, uma vez que os esportistas precisavam vencer a resistência do vento, o que, no longo prazo, os deixavam bem mais cansados. 

Quando deu errado

A orientação dada aos participantes é para que mantenham o oceano à sua direita a fim de permanecerem na direção certa. Freitas, contudo, acabou confundindo um riacho que encontrou a certa altura do caminho com o mar, e foi a partir daí que tudo degringolou. 

Ainda conforme o Estadão, era a manhã do dia 14, o último da competição, quando o senhor se desviou totalmente do trajeto esperado por conta de seu pequeno equívoco. Eventualmente, ele acabou se perdendo entre as dunas e uma mata que ficava nas proximidades. 

A pior parte de sua situação era a extrema exaustão que sentia. Carlos foi capaz de percorrer por volta de 160 quilômetros. Ele havia sido desclassificado mais no início da disputa após pegar uma carona em um veículo, e continuava apenas por conta de seu espírito esportivo. 

Seu cansaço tornou-se perigoso, porém, quando começou a causar alucinações. "Eu via casas e uma estrada, mas eram dunas. Isso já era miragem. Via casa, cavalos, casas com antena parabólica, gente de bicicleta, gente de carro", relatou, segundo repercutido pelo UOL. 

"[Ele] Me relatou que começou a ver crianças, foi pegar na mão de uma criança e na verdade era um galho. Ali ele começou a se sentir mal e se deitou", contou Rudimar Machado, que é coordenador de Defesa Civil do estado e esteve presente na equipe de buscas. 

Luta pela sobrevivência

A partir de então, a prova esportiva se converteu em uma experiência de luta pela sobrevivência para Carlos

Ele ligou para sua esposa para avisar que havia se perdido, e depois deu início à sua longa espera até que a ajuda chegasse. Felizmente, estava bem equipado.

Em sua mochila, trazia um cobertor térmico para se cobrir, alimentos como nozes, castanhas e damascos, e ainda itens que poderiam ajudar em sua localização, como uma blusa fluorescente e luzes de sinalização.

"Passei duas noites parado no mesmo lugar. Chegou uma hora que acabou a água, mas eu sempre carrego na mochila um comprimidinho de purificador de água. Eu filtrava água na máscara (de proteção ao coronavírus) e aplicava o comprimido. Também carrego sal e açúcar, e fazia um tipo de soro fisiológico, para me hidratar", contou ele.

A certo ponto, Freitas também se moveu para um local um pouco mais aberto, que permitia que fosse visto de longe. Apesar dessa troca de lugar, porém, o atleta tomou cuidado para não se afastar muito do ponto onde havia feito sua ligação telefônica, que imaginou que poderia ser usada para rastrear sua localização. 

E sua previsão acertou na mosca: o senhor foi encontrado justamente com a ajuda das coordenadas emitidas por seu celular. 

Trecho de vídeo que mostra Carlos sendo encontrado / Crédito: Divulgação/ Youtube/ Record TV

"Eu estava lá quando o encontramos. Ele estava com muita saúde e muito bem. Estava até melhor que eu, com toda aquela preocupação, adrenalina elevada, afinal se tratava de uma vida. Ele ria, era inacreditável", revelou Machado ainda.