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Matérias / Estados Unidos

O massacre de Wilmington: a tragédia do único golpe de estado dos EUA

“Este é um país do homem branco, e os homens branco devem controlá-lo e governá-lo”. Entenda o ataque violento implantado por supremacistas brancos em uma das cidades mais progressistas do Sul

Fabio Previdelli Publicado em 11/01/2021, às 17h00

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Afro-americanos sendo massacrados pelos brancos - Wikimedia Commons
Afro-americanos sendo massacrados pelos brancos - Wikimedia Commons

Em 1898, um grupo de vigilantes brancos, zangados e temerosos com o governo multirracial recém-eleito juntou forças com as milícias da região para causar terror em Wilmington, na Carolina do Norte, até então a cidade de maioria negra mais progressista do Sul.  

Depois de alimentar o medo que uma suposta revolta negra causaria no local, alterando o modo de vida dos cidadãos brancos — colocando em risco as mulheres e trazendo uma nova realidade americana, na qual as “pessoas de cor” governariam e lideravam —, mais de 100 funcionários negros do governo (como vereadores, tesoureiros e outros) foram forçados a deixar seus cargos. Além disso, entre 60 e 250 negros foram assassinados na revolta.  

Parte da população negra de Wilmington / Crédito: Wikimedia Commons

Depois do mais bem-sucedido e duradouro Golpe de Estado da história americana, a supremacia branca foi instituída como política oficial da região por meio século, impedindo que cidadãos negros votassem em números significativos até a aprovação da Lei de Direitos de Voto, em 1965. Dois anos antes do golpe, 126 mil homens negros se registraram para votar na Carolina do Norte. Quatro anos após, o número era de 6.100. 

Wilmington, a comunidade negra que prosperava 

Nos anos anteriores a 1898, Wilmington se destacou como a cidade mais progressista do Sul. Apenas três décadas após a Emancipação, os republicanos negros ocupavam vários cargos no poder, servindo como vereadores, magistrados e outras autoridades eleitas.  

A integração resultou na chamada política de Fusão, um fenômeno na Carolina do Norte que juntou o Partido Populista (formado principalmente por fazendeiros brancos e pobres) ao Partido Republicano (a afiliação política escolhida pelos negros americanos libertos), que se tornaram uma única entidade.  

Juntos, eles se alinharam contra os democratas, um partido composto de segregacionista brancos e ricos, que acabaram sendo “varridos” em 1894, quando os republicanos foram eleitos em maioria para assentos estaduais e federais.  

Temendo a perda da supremacia branca, os democratas formularam uma estratégia multifacetada para retomar o poder e privar os cidadãos negros de sua agenda política e econômica. Assim, eles contaram com a ajuda de importantes figuras locais. O Partido tinha apenas uma única visão: “Este é um país do homem branco, e os homens branco devem controlá-lo e governá-lo”. 

Assim, jornais locais passaram a relatar casos ‘verídicos’ de uma ameaça negra, publicando histórias e desenhos de afro-americanos atacando mulheres brancas. Além do mais, outro jornal da Carolina do Norte publicou um discurso de uma editora — e futura senado dos EUA —, Rebecca Felton, que disse que apoiaria o linchamento de um homem de cor se isso significasse proteger as mulheres brancas.  

Caricatura que mostra os negros como ameaças para a população branca / Crédito: Wikimedia Commons

Esse discurso levou o jornalista Alex Manly, editor do The Daily Record, principal jornal negro de Wilmington, a escrever uma crítica contundente uma semana antes das eleições, em novembro de 1898, criticando esse pensamento errôneo. Jornais de todo o estado publicaram a coluna de Manly, o que inflamou ainda mais o ânimo dos cidadãos brancos.  

Com isso, nas eleições, os democratas mudaram completamente o sentimento dos brancos contra os negros. Começava ali a violência.  

Um Golpe de Estado e um massacre para não se esquecer 

Durante a campanha, a polícia branca invadiu as casas dos negros, chicoteando-os e ameaçando-os de morte por tentarem votar. No dia da eleição, turbas brancas armadas se reuniram do lado de fora das seções eleitorais de Wilmington, ameaçando qualquer negro que tentasse excercer seu direito civil. Resultado: os democratas conquistaram todas as posições eleitas em que concorreram. 

Uma vez amparados com o poder político, eles se voltaram para seu segundo objetivo: eliminar a riqueza econômica dos negros e instituir um estado de supremacia branca.  

Para tal feito, no dia seguinte as eleições, os democratas publicaram “A Declaração Branca da Independência”, que privou os negros não só de votarem, como exigiu que os empregos ocupados por eles fossem dados aos eleitores brancos. Além do mais, Alex Manley foi obrigado a deixar a cidade, caso contrário seria linchado.  

Na manhã seguinte, milhares de homens brancos armados marcharam contra os escritórios do The Daily Record, que foi depredado e queimado até se tornar pó. A multidão então partiu para a Prefeitura, onde forçaram o prefeito republicano e os vereadores eleitos a renunciarem.  

População negra deixando a cidade de Wilmington / Crédito: Wikimedia Commons

Após o golpe, a multidão aumentou para quase 2 mil homens que aterrorizaram a cidade. Apoiada pela recém-criada força policial racista e pela milícia estadual, armados com metralhadoras .23, que disparavam 420 balas por minuto, 60 negros foram exterminados. Vale ressaltar que esse número é o oficial registrado por golpistas brancos. Muitos historiadores, no entanto, acreditam que ele possa bater a casa das centenas.  

Além dos assassinatos, a multidão forçou praticamente todos os cidadãos negros de classe média e alta de Wilmington a fugir da cidade. Uma vez extinto, o governo local recém-eleito começou a instituir políticas segregacionistas das leis Jim Crow. O golpe dizimou o poder político e econômico negro na cidade por quase 100 anos. 

“A classe média negra e a classe mercantil nunca foram reintegradas até hoje”, diz David Zucchino, o autor do livro Wilmington's Lie, vencedor do Prêmio Pulitzer. “O golpe deixou uma cicatriz permanente na cidade. Wilmington se tornou um lugar onde nenhum povo negro iria, a menos que, para usar uma frase usada no jornal, eles 'conhecessem seu lugar'”.


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