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Matérias / Espanha Franquista

Concordatória: A prisão de Francisco Franco para padres

Durante a ditadura espanhola, religiosos contrários ao regime foram encarcerados em uma prisão especial – e se revoltaram com as condições

Redação Publicado em 05/06/2019, às 09h00

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Encarcerados, os padres sofreram na prisão - Crédito: Getty Images
Encarcerados, os padres sofreram na prisão - Crédito: Getty Images

A ditadura de Francisco Franco (1939-1975) tinha como elemento central uma interpretação extremamente conservadora do catolicismo, que era a religião oficial do Estado. Não havia separação entre Igreja e Estado e os padres ficaram encarregados da educação, atuando como ideológos e censores, denunciando os “vermelhos” escondidos.

Era em parte vingança: durante a Guerra Civil (1936-1939), a Igreja fora sido alvo dos republicanos, com saques e massacres, e defendida pelas forças falangistas de Franco (ainda que essas também tenham matado padres do lado inimigo). 

Mas nem todo o clero estava com Franco. Particularmente mais perto do fim do governo, nos anos 60, alguns padres passaram a tirar símbolos do regime das Igrejas e fazer críticas severas em suas missas. Inicialmente, os rebeldes, recebiam uma multa e, caso o pagamento não fosse realizado, eles eram enviados para uma prisão especial

As lideranças religiosas que se opusessem ao regime ficavam reclusas em um cárcere especial, pois a Constituição não permitia que padres dividissem celas com presos comuns. Essa era a concordata entre o governo e a Igreja. Assim, o ditador inaugurou Cárcel Concordataria de Zamora, para prender padres. 

“O regime de Franco, que deu tanto poder à Igreja, terminou seus dias perseguindo padres. Os mais indisciplinados foram parar na prisão concordatória, em Zamora, reservada especialmente para o clero”, diz o historiador Francisco Fernández Hoyos no artigo La Cárcel Concordataria de Zamora: Una Prisión para Curas en la España Franquista (A Prisão Concordatória: Um Cárcere para Padres na Espanha Franquista).

Um dos primeiros a serem isolados foi o padre Alberto Gabicagogeascoa. Após denunciar as torturas do período e pedir por liberdade de expressão durante um sermão, foi sentenciado a cumprir três meses e um dia em Concordata. Em seguida, sacerdotes bascos e outros párocos de diferentes partes da Espanha foram enviados para o local.

Alguns dos padres que ali estavam reclusos não concordavam com a ordem presente na Constituição. Desde o começo, exigiam que fossem transferidos para prisões comuns. E, como não cooperavam com os guardas, o clima era de constante conflito. Como forma de protesto, os párocos faziam até greve de fome - uma das tentativas de chamar atenção para a situação.

Em um documento, os sacerdotes descreveram como viviam. “Eles reclamaram do tratamento recebido do diretor da prisão e afirmaram que as condições em Zamora nem sequer atendem aos padrões de uma prisão regular: era impossível dormir ou ter qualquer privacidade, devido à rigorosa supervisão das autoridades, e era impossível realizar exercícios físicos”, diz Nicola Roney no artigo A Prison for Priests in a Catholic State: “The Cárcel Concordatoria” in Zamora During the Franco Dictatorship. Além disso, alguns detidos foram cruelmente torturados.

Em 1971, muitos encarcerados tentaram escapar da prisão. Assim construíram um túnel de 15 metros. Contudo, a tentativa foi em vão. Os guardas descobriram a ideia dos padres.

Em novembro de 1973, a situação ficaria ainda mais caótica: os párocos colocaram fogo no altar e destruíram objetos do local. Aos poucos, os prisioneiros foram sendo transferidos de Concordata, os últimos saíram em 1976.

A maioria se desconverteu. A Igreja Católica nunca pediu perdão pelo acontecido, e os antigos carcereiros do local não foram punidos.