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Matérias / Cazuza

O tempo não para: Há 65 anos, nascia Cazuza

Dono de uma voz única, Cazuza se tornou um dos mais importantes nomes da música brasileira

Gabriel Ferreira | @santanagabriel Publicado em 03/07/2022, às 00h00 - Atualizado em 04/04/2023, às 10h46

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Cazuza em foto pessoal - Divulgação/Viva Cazuza
Cazuza em foto pessoal - Divulgação/Viva Cazuza

Agenor Miranda de Araújo Neto, mais conhecido como Cazuza, nasceu no Rio de Janeiro, em 04 de abril de 1958. O famoso apelido surgiu antes mesmo de seu nascimento. Isso porque, em sua família materna só havia mulheres. Contudo, seu pai apostava que seria um “Cazuza”. Ou seja, uma expressão comum no nordeste para se referir a um menino.

A infância de Cazuza

Ainda na infância, Cazuza estudou em colégios tradicionais, como Santo Inácio de Loyola e Colégio Anglo-Americano. No colégio Santo Inácio, o artista conheceu o futuro apresentador Pedro Bial, com quem teve uma amizade duradoura.

Um fato curioso sobre a amizade foi revelado em 2019. Em entrevista ao programa Amigos, Sons e Palavras, comandado por Gilberto Gil, Bial contou que o seu primeiro “porre” foi aos 11 anos, junto com o melhor amigo quando entrevistaram Vinicius de Moraes para um trabalho escolar, sendo algo bem inusitado.

O pai de Cazuza sempre esteve ligado à música. Portanto, conseguiu uma entrevista com o aclamado poeta e compositor. Vinicius de Moraes, por sua vez, recebeu a dupla em sua banheira e deu uísque para os garotos.

Ainda na escola, Cazuza também começou a escrever poemas, fato que se estendeu até os seus últimos dias de vida.

O amor pela poesia era tão grande, que aos 15 anos, ele tinha o costume de seguir o poeta Carlos Drummond de Andrade. Embora os alertas de sua mãe, Cazuza dizia que o escritor não reparava e que fazia isso pois o admirava profundamente.

Além de Carlos Drummond de Andrade, o cantor era um grande admirador dos poemas de Augusto dos Anjos e, na prosa, de Clarice Lispector, especialmente de seus livros “A descoberta do mundo” e “Água Viva”.

Cazuza no palco em 1988 / Crédito: Divulgação / CAFé Simone Pedaços/ Wikimedia Commons

Poeta nato, aos 17 anos, Cazuza escreveu um poema em memória a sua avó materna, chamada Maria. Mais tarde, o texto se tornaria uma linda canção, intitulada 'Poema', na voz de Ney Matogrosso, com quem viveu um intenso relacionamento amoroso. 

Paixão por Ney

Ney Matogrosso tinha 39 anos e Cazuza 17 anos quando se conheceram. No início, Ney não teria dado tanta atenção ao futuro companheiro, mas logo a história se reverteu com um beijo. 

Na época, Cazuza foi a casa de Ney Matogrosso acompanhado de uma amiga. Mais tarde, naquele mesmo dia, o cantor perguntou ao anfitrião se poderia lhe dar um beijo, dando início a uma intensa história de amor. 

Embora curta, a relação marcou a vida de ambos. Ney, por exemplo, já chegou a declarar que os quatro meses de namoro foram o suficiente para que o amor permanecesse até hoje. 

Ney Matogrosso ao lado de Cazuza/ Crédito: Divulgação/Instagram/NeyMatogrosso

O relacionamento não durou, mas os artistas continuaram amigos até o fim. Em uma entrevista ao jornalista Pedro Bial, o artista declarou que teve um relacionamento de 13 anos e que Cazuza tinha muito ciúmes disso.

Admiração pelas artes

Cazuza chegou a ser aprovado no vestibular de Comunicação, mas acabou desistindo do curso em poucas semanas. Isso porque, começou a levar uma vida mais boêmia, passando a frequentar o Baixo Leblon. 

Já em 1979, Cazuza foi estudar fotografia na Universidade de Berkeley, em São Francisco, nos Estados Unidos. Por lá desenvolveu o gosto pela literatura da Geração Beat, um movimento de poetas e escritores norte-americanos que se tornaram conhecidos no final da década de 1950 e no começo da década de 1960. Em sua maioria, eram artistas que levavam uma vida nômade. Além disso, são considerados os "embriões" do movimento hippie.    

Cazuza, por sua vez, admirava profundamente a cultura da Geração Beat, tomando gosto por essa literatura. No ano seguinte retornou ao Brasil e ingressou como ator no grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, no Circo Voador. 

No teatro, se aprofundou em mais uma de suas paixões: a música. Ele cantou pela primeira vez no palco a ilustre canção “Odara”, de Caetano Veloso, durante uma apresentação teatral.

A música não tinha como sair do seu redor. Filho do produtor musical, João Araujo e da cantora Lucinha Araújo, Cazuza desde sempre conviveu com grandes nomes da MPB, fato que corroborou para o seu desenvolvimento artístico e musical.

Cazuza durante a performance de Faz Parte do Meu Show, em 1988 / Crédito: Divulgação/Youtube/ Sergio Valério do Sacramento

O seu pai, o fundador da Som Livre, trouxe o filho para trabalhar na gravadora. Por lá, Cazuza realizava triagem de novos cantores e escrevia releases para promover os artistas. 

Na década de 1980, mais especificamente em 1981, conheceu Roberto Frejat, Dé Palmeira, Guto Goffi e Maurício Barros, músicos que estavam procurando um vocalista para a banda Barão Vermelho.

O cantor Léo Jaime indicou Cazuza para ser vocalista da banda. Assim se formou o grupo com Cazuza no vocal, Maurício Barros no teclado, Roberto Frejat na guitarra e Guto Goffi na bateria.

Logo Cazuza começou a mostrar suas letras e passou a compor com Frejat. Até então a banda só tocava covers, mas com Cazuza passaram a ter repertório autoral.

Por sua vez, Ezequiel Neves, produtor da Som Livre, ouviu uma fita da demo da Barão Vermelho e enviou para o diretor artístico da gravadora, Guto Graça Mello, que acabou convencendo João Araujo a lançar a banda. 

Com isso, em 1982, foi lançado o primeiro disco do grupo, "Baralhão Vermelho”, que contém canções brilhantes como “Bilhetinho Azul", “Todo Amor Que Houver Nessa Vida”, “Ponto Fraco”, entre outras.

O sucesso do Barão Vermelho e a carreira solo

O sucesso foi tanto, que a banda realizou uma série de shows entre São Paulo e Rio de Janeiro.  Logo no ano seguinte, o grupo retornou aos estúdios e gravaram “Barão Vermelho 2”, álbum que trouxe como destaque uma das músicas mais conhecidas da banda “Pro Dia Nascer Feliz”, faixa composta por Cazuza e Frejat.

E as coisas não paravam para o Barão Vermelho. No ano de 1984, o grupo gravou a música tema do filme “Bete Balanço”, que acabou se tornando um grande sucesso de bilheteria. No ano de lançamento do filme, ainda lançou “Maior Abandonado” , álbum que rendeu ao grupo o Disco de Ouro.

As conquistas continuaram ano após ano. Em 1985, o Barão Vermelho participou da primeira edição do Rock in Rio, abrindo o terceiro dia de shows que contava com AC/DC e Scorpions. Além disso, se apresentaram no quinto dia do festival, para 200 mil pessoas.

No Palco Mundo, eles performaram grandes clássicos, como “Pro Dia Nascer Feliz” e “Beth Balanço”, sendo ovacionados pelo público do festival. 

Cazuza durante apresentação/ Crédito: Divulgação/Instagram

Contudo, no mesmo ano, Cazuza deu início a sua carreira solo, gravando seu primeiro disco intitulado “Exagerado”, que rendeu grandes sucessos da sua discografia, como “Codinome Beija-Flor” e “Exagerado”, a faixa é uma composição autoral do cantor com Leoni.

Frejat, por sua vez, assumiu o vocal do Barão Vermelho. Vale ressaltar que o cantor queria focar no rock, enquanto Cazuza apostava mais na MPB. Em 1987, Cazuza lançou o seu segundo disco chamado “Só Se For a Dois”, que traz uma veia romântica do artista. Com brilhantes canções como “Ritual” e “Solidão Que Nada”.

A luta contra o HIV

Desde julho de 1985, Cazuza já sofria com as drásticas consequências da infecção pelo HIV. Naquele ano, o artista precisou ser internado após uma febre incessante e convulsões. No entanto, somente em 1987 foi diagnosticado com a doença, após os sintomas se intensificarem.

A notícia veio diante do lançamento de seu segundo álbum solo, “Só se For a Dois”. Até então com 29 anos, o artista chorou no ombro do amigo e produtor Ezequiel Neves, mas mesmo assim fez um show do novo disco e posteriormente seguiu para o primeiro tratamento, em Boston, nos Estados Unidos.

Os meses seguintes foram marcados por sucessivas internações e luta diária contra a doença. Nessa mesma época, grandes clássicos da música surgiram como: “Boas Novas”, “Brasil”, “Blues da Piedade” e  “Ideologia”, faixas que o artista gravaria em seu melhor disco, intitulado Ideologia, de 1988. O álbum foi criado sob os fortes efeitos colaterais do AZT, até então única droga usada no tratamento do vírus HIV.

Já no ano de 1989, Cazuza lançou “O Tempo Não Para”, que foi gravado durante um show no Canecão. O disco se tornou um grande sucesso, vendendo mais de 500 mil cópias. Embora estivesse cada vez mais debilitado, ele fez a turnê nacional dirigida por Ney Matogrosso, considerada o último registro ao vivo do cantor. 

No mesmo ano foi lançado o último álbum em vida, “Burguesia”. O disco foi dividido em faixas do rock brasileiro e canções românticas. No entanto, foi gravado com o artista em uma cadeira de rodas e com a voz mais enfraquecida, devido aos avanços da doença.

Embora já tivesse dado indícios sobre a doença que estava enfrentando, através de suas letras como nos versos "Meu prazer agora é risco de vida", em Ideologia, e "Eu vi a cara da morte, e ela estava viva", em Boas Novas, foi somente no dia 13 de fevereiro de 1989, que o cantor falou abertamente sobre a doença. Em entrevista à Zeca Camargo, publicada na Folha de S.Paulo, falou em primeira mão sobre o vírus. 

Em março de 1990, Cazuza voltou aos Estados Unidos para realizar o tratamento. No entanto, na manhã do triste dia 07 de julho daquele mesmo ano, há 32 anos, o artista veio a falecer na casa de seus pais, mas cercado do amor e dos cuidados da família. Em sua lápide foi escrito “O Tempo Não Para”. 

E não parou mesmo!! A obra de Cazuza está eternizada na música brasileira. As visões de mundo que o artista trazia em suas ilustres músicas estão presentes nas vidas das pessoas e em parte da sociedade brasileira como um todo.

A postura do cantor em entrevistas era de combate, sempre trazendo questionamentos e reflexões. Algumas frases atemporais do compositor ainda hoje chamam a atenção como “Ser marginal foi uma decisão poética”e “Tudo de noite é mais interessante”.

Cazuza e a mãe, Lucinha Araújo/ Crédito: Divulgação/Sociedade Viva Cazuza

Em 17 de outubro de 1990, Lucinha Araújo, mãe do artista, fundou a instituição Sociedade Viva Cazuza, em que ajudou diversas crianças infectadas com o vírus da aids. 

Em vida, Cazuza ajudou a romper tabus enquanto a AIDS dizimava milhares de pessoas ao redor do mundo e ainda hoje, seu legado é de extrema importância na luta contra o preconceito. Sua perda é imensurável para a arte e cultura brasileira, mas sua chama sempre será eterna!


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