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Matérias / Personagem

O triste fim de Samantha Smith, a garota que tentou acabar com a Guerra Fria

A menina se tornou uma ativista pela paz durante um dos períodos mais tensos da história moderna, no qual a ameaça nuclear pairava sobre o planeta

Vanessa Centamori Publicado em 08/08/2020, às 08h00

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Samantha Smith no Programa Tonight Show com Johnny Carson - Divulgação/Youtube/Programa Tonight Show com Johnny Carson
Samantha Smith no Programa Tonight Show com Johnny Carson - Divulgação/Youtube/Programa Tonight Show com Johnny Carson

Muito antes de Greta Thunberg, outra jovem também ficou conhecida por uma causa importante — só que não era o meio ambiente, mas a paz. Isso ocorreu durante a Guerra Fria, um dos períodos mais tensos da história moderna, quando o mundo, com medo constante de uma destruição nuclear, se dividia em uma bipolarização de duas potências: Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS)

Na ocasião, a americana Samantha Smith, de 10 anos de idade, fez o que muitos adultos não ousariam fazer: questionou uma autoridade política. Por consequência, a menina se tornou uma ativista pela paz e foi apelidada de a mais jovem "Embaixadora da Boa Vontade" dos Estados Unidos. 

Tudo começou em novembro de 1982 quando Samantha viu uma edição da revista Time cuja matéria de capa era bastante negativa a Yuri Andropov, recém-nomeado Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética. Aquilo a sensibilizou, e a fez dialogar com a mãe, Jane Smith.

“Se as pessoas estão com tanto medo dele, por que alguém não escreve uma carta para ele, perguntando se ele vai provocar uma guerra ou não?”, perguntou a menina. E Jane respondeu: “Por que você não faz isso?”. E assim foi: a carta da americana mudaria a vida dela para sempre. Porém, os dias da criança seriam curtos. 

Selo da URSS de 1985 com o rosto de Samantha Smith / Crédito: Wikimedia Commons 

Infância politizada 

Já era hábito de Samantha Smith se interessar por política e assuntos internacionais. Nascida em 29 de junho de 1972, em uma pequena cidade do Maine, aos cinco anos de idade, ela havia escrito uma carta de admiração à rainha Elizabeth II.

A criança terminou a segunda série na primavera de 1980. Nessa época, a família de Samantha se mudou para Manchester, onde a menina começou a estudar na escola Manchester Elementary School.

O pai dela trabalhava como instrutor no Ricker College em Houlton e depois começou a dar aulas de literatura e escrever na Universidade do Maine. A mãe, por sua vez, trabalhava como assistente social do Departamento de Serviços Humanos do Maine.

O fatídico episódio 

Na carta a Yuri Andropov, Samantha escreveu ao soviético perguntando se o líder político realmente seguiria em frente com as ameaças de guerra. O texto dizia: 

"Prezado Sr. Andropov,

Meu nome é Samantha Smith. Tenho dez anos de idade. Parabéns pelo seu novo emprego. Eu estou preocupada sobre a Rússia e os Estados Unidos estarem se preparando para iniciarem uma guerra nuclear. O senhor votará para que haja uma guerra ou não? Se não, por favor diga-me como o senhor vai ajudar a não haver uma guerra. O senhor não precisa responder esta pergunta, mas eu gostaria de saber por que o senhor quer conquistar o mundo ou pelo menos nosso país. Deus fez o mundo para nós vivermos juntos em paz e não para brigarmos. Sinceramente, Samantha Smith".

Samantha Smith (centro) visitando a URSS / Crédito: Wikimedia Commons 

A carta de Samantha não teve uma resposta imediata. Entretanto, foi publicada no jornal soviético Pravda. Mesmo sem ter sido respondida, a garota voltou a redigir, questionando por uma resposta. Só que o novo documento, desta vez, foi enviado para a Embaixada Soviética em Washington, D.C, com direcionamento para o embaixador da URSS nos EUA, Anatoly Dobrynin. 

Samantha se impôs ao embaixador, ao escrever: “Acho que minhas perguntas foram boas e não deveria importar se eu só tenho 10 anos”. Pouco mais de uma semana depois, chegou uma resposta dele, em russo, porém acompanhada de uma tradução em inglês. O texto dizia que a questão da menina era "a mais importante de todas aquelas que colocam o homem a pensar". 

Depois, continuava: "Eu vou responder-lhe de forma séria e honesta. Sim, Samantha, nós da União Soviética estamos fazendo de tudo para que não haja guerra na Terra. Isso é o que todos soviéticos querem. Isso é o que o grande fundador do nosso estado, Vladimir Lenin, nos ensinou. Os soviéticos sabem bem que a guerra é uma coisa terrível. [...]".

Escultura em homenagem à Samantha Smith / Crédito: Biblioteca do Congresso Washington, DC/Divulgação

Repercussão 

Quando a informação de que Samantha Smith tentou conter a Guerra Fria chegou à imprensa, a menina ficou muito famosa e ganhou grandes oportunidades, sendo entrevistada por âncoras como Johnny Carson e Ted Koppel.

Em 7 de julho de 1983, ela foi para Moscou com os pais e passou duas semanas como convidada de Andropov. Entretanto, nunca chegou a vê-lo, somente conversou com ele por telefone. Boatos da época diziam que o político estava doente e queria se afastar dos holofotes. 

Samantha visitou Leningrado e preferiu ficar hospedada no acampamento infantil Artek. Por lá, dormiu em um dormitório com outras nove meninas. Fez amizade com crianças soviéticas e participou de uma coletiva de imprensa. Sobre a experiência no local, a menina descreveu tudo no livro Viagem à União Soviética, lançado dois anos depois. 

Viagens 

Como a garota tinha ganhado a atenção da imprensa, ela não só foi muito elogiada, como também foi alvo de críticas. Muitos afirmavam que Samantha Smith  estava sendo usada pelos soviéticos. De qualquer forma, quando retornou aos Estados Unidos, ela foi apelidada de "Embaixadora da Boa Vontade" nos EUA. 

Em outras palavras, muitos consideraram Samantha a mais jovem diplomata da história. No mês de dezembro de 1983, ela continuou a se envolver em relações internacionais. Visitou o Japão, ainda acompanhada dos pais. Se encontrou com o primeiro-ministro Yasuhiro Nakasone e participou do Simpósio Internacional Infantil, em Kobe.

Durante o Simpósio discursou para a plateia. “Conheci tantas pessoas maravilhosas que parecem um pouco diferentes da minha aparência — talvez a pele, os olhos ou a linguagem não sejam as minhas — mas eu posso imaginá-los se tornando meus melhores amigos ”, disse. 

Em 1984, Samantha cobriu a campanha presidencial e entrevistou vários candidatos, como George McGovern e Jesse Jackson. O acontecimento fez parte de um especial de política para crianças do Disney Channel. Um ano depois, a americana também se tornou atriz e atuou no seriado Agente de Alto Risco (Lime Street), ao lado do ator Robert Wagner.

Samantha Smith Alley, lugar dedicado à menina, no acampamento Artek / Crédito: WIkimedia Commons 

Fim trágico 

No dia 25 de agosto de 1985, Samantha Smith e seu pai, Arthur Smith, estavam voltando no voo 1808 da Bar Harbor Airlines para casa deles, no Maine. A ativista mirim tinha acabado de filmar para o Agente de Alto Risco (Lime Street). Ela também se preparava para muitos planos na agenda. 

Entretanto, nada mais seria possível. A aeronave, ao se aproximar do aeroporto, falhou no alinhamento de rotina e atingiu o solo. Todos a bordo morreram. A jovem Samantha tinha apenas 13 anos de idade. 

A menina foi velada diante de mais de mil pessoas em Augusta, Maine. A ativista e o pai foram cremados e suas cinzas enterradas no cemitério de Estabrook. Em resposta ao triste acontecimento, Mikhail Gorbachev, o sucessor de Andropov (depois que o último faleceu de falência renal), enviou uma mensagem em homenagem aos parentes vivos da família Smith.

O anúncio dizia que todos da URSS se lembrariam da garota americana que "sonhou com a paz e a amizade entre os povos dos Estados Unidos e da União Soviética”. Em 2008, postumamente, ela ganhou o Prêmio de Coragem da Consciência da Abadia da Paz por "ajudar a promover um melhor entendimento entre os povos dos [EUA e da URSS] e, como resultado, reduzir a tensão entre as superpotências que estavam prontas para se envolver em guerra nuclear". 


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