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Matérias / Segunda Guerra

Surpresa do Führer: 79 anos da Operação Barbarossa

Stalin e Hitler tinham um acordo de não-agressão quando o segundo resolveu fazer valer suas opiniões sobre o comunismo

Márcio Sampaio de Castro Publicado em 22/06/2020, às 10h09

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Stalin (à esq.) e Hitler (à dir.) - Divulgação/Klimblim/Wikimedia Commons
Stalin (à esq.) e Hitler (à dir.) - Divulgação/Klimblim/Wikimedia Commons

Era 23 de agosto de 1939 quando a União Soviética e Alemanha assinaram, em Moscou, o Pacto Molotov-Ribbentrop. Válido por 10 anos, o tratado de não agressão faria com que os dois países concordassem em não atacar um ao outro — e também não poderiam apoiar qualquer outro país que fosse visto como inimigo.

Uma cláusula secreta também foi anexada. O item dividia toda a Europa Orinteal em em esferas de influência alemãs e soviéticas. Além disso, acordo também deixava claro que a União Soviética e a Alemanha deveriam resolver as suas diferenças por meio de negociações, sempre evitando um possível conflito.

Quando a Alemanha invadiu a Polônia, em setembro, dando início à Segunda Guerra, a União Soviética fez o mesmo por suas fronteiras, repartindo o país como combinado. 

Acordo rasgado

A aliança durou 2 anos. Até Hitler decidir cumprir sua velha promessa de enterrar o comunismo e ampliar o espaço vital para a raça ariana.

"Só temos de chutar a porta e toda a estrutura podre desmoronará.” Com essas palavras, Adolf Hitler comunicava aos oficiais superiores de seu Exército, em princípios de 1941, sua intenção de atacar a União Soviética para destruir o comunismo e escravizar os povos eslavos que formavam a república socialista.

Em 22 de junho daquele ano, teve início a Operação Barbarossa, uma gigantesca ação militar, envolvendo mais de 3 milhões de homens, 3.580 veículos blindados, 7 mil peças de artilharia e milhares de aviões.

Assim como fizera havia pouco mais de um ano com franceses, belgas e holandeses, Hitler esperava esmagar os soviéticos em oito semanas, empurrando as fronteiras do Reich para a cadeia montanhosa dos Urais, já na fronteira com a Ásia. Uma confiança que era reforçada por outro fator também enxergado como favorável à invasão.

O expurgo patrocinado pelo líder comunista, Josef Stalin, em 1937, quando foram executados quase 37 mil oficiais de seu Exército, debilitara significativamente a cadeia de comando soviética, tornando-a quase acéfala.

Os rastros da Operação / Crédito: Wikimedia Commons

Dividido em três corpos, o Exército alemão avançou de forma avassaladora sobre o território inimigo a uma velocidade média de 40 quilômetros por dia. Em três semanas de combate havia causado mais de 2 milhões de baixas no Exército Vermelho, destruído 3,5 mil tanques e mais de 6 mil aeronaves em seu caminho, rumo ao coração da nação inimiga. Na avaliação do alto comando alemão, Moscou era a chave para a vitória. Por ser a capital, constituía-se num importante entroncamento entre a Rússia europeia e a asiática. Todas as redes de comunicação tinham ali seu centro nervoso e as principais indústrias bélicas do país estavam estabelecidas em seus arredores.

Primeiro, a Ucrânia

Exatamente dois meses após o início da invasão, Hitler convocou os oficiais de seu alto comando para comunicar-lhes uma nova decisão: a conquista da Ucrânia e de sua capital, Kiev, deveria, a partir daquele momento, ser considerada uma prioridade. Moscou ficaria para depois. Para o Führer, a explicação era muito simples. A Ucrânia e seus oleodutos serviam como um corredor para o Cáucaso, região produtora do petróleo, vital ao esforço de guerra nazista. Além disso, seus vastos campos de trigo, soja e milho alimentariam o Exército e o povo alemão por gerações.

O plano era simples. Valendo-se da mobilidade de suas colunas de tanques Panzer e do apoio dos aviões da Luftwaffe, o exército Sul, um dos três corpos da invasão, deveria cercar o Grupo de exército Budienny, nome que fazia menção a seu comandante, marechal Semyon Budienny, e esmagá-lo com maciços bombardeios.

Os soviéticos tinham ordens para resistir até o último homem. Mesmo assim, por via das dúvidas, desde o início de agosto, sob o comando do comissário Nikita Khruschev, as instalações industriais vinham sendo desmontadas e enviadas por trem para a Rússia asiática, onde eram remontadas e imediatamente incorporadas à indústria bélica.

Soldados alemães / Crédito: Wikimedia Commons

Enquanto os alemães se deslocavam em direção a Kiev, recebidos como libertadores por boa parte da população ucraniana nas vilas e aldeias com flores e pães, o chefe do Estado-Maior do Exército Vermelho, Gheorghi Jukov, fazia insistentes apelos a Stalin para que a cidade fosse abandonada. Indiferente, o ditador mantinha sua ordem geral: “Nenhum passo para trás!”. Tanto o povo ucraniano como o líder soviético se arrependeriam profundamente de suas ações. 

Erro tático 

Nos planos do marechal Budienny, a cidade de Kiev, erigida às margens do rio Dnieper, deveria funcionar como o eixo da defesa contra os agressores alemães na Ucrânia. Homens formaram um bolsão onde esperavam deter o avanço nazista. Esse arranjo mostrou-se um erro tático do marechal soviético, que serviria como senha para um dos maiores cercos da história militar.

Após vencer, entre o final de agosto e o início de setembro, pequenas unidades mais afastadas da capital ucraniana, dois grupamentos blindados do Exército alemão provenientes do norte e do sul se encontrariam em 16 de setembro atrás das linhas inimigas, completando o movimento de pinça que haviam iniciado pouco mais de duas semanas antes.

Ao tomar ciência do movimento inimigo, em um de seus ataques de cólera, Stalin destituiu Budienny. Para seu lugar nenhum oficial foi nomeado, ficando cada unidade do Exército Vermelho por sua conta e risco. Ao sobrevoar o bolsão representado pela cidade de Kiev, os comandantes dos aviões da Luftwaffe assinalariam em seus relatórios que grandes colunas de infantaria, massas de cavalaria, carros blindados e comboios de toda natureza moviam-se de forma desordenada sob uma formidável nuvem de poeira. Sob uma chuva de chumbo e pólvora, as unidades soviéticas iam se rendendo uma a uma.

Ao final do cerco, em 19 de setembro, mais de 650 mil homens se renderiam. Grande parte morreria de fome nos campos de detenção improvisados pelos alemães no interior da Ucrânia, assim como muitos dos civis que receberam com festa a chegada de seus supostos libertadores acabariam fuzilados.

Para muitos dos soldados alemães, uma chuva fina e persistente que caía desde o dia 3 de setembro passou despercebida. A Ucrânia estava subjugada e o moral do Exército nazista subia às alturas, apesar do atraso de um mês que a campanha ucraniana representara para a tomada de Moscou. Já para os soviéticos, esse mês a mais possibilitou a organização das defesas de sua capital. Quanto à chuva rala, eles sabiam que era o prenúncio do rigoroso inverno que lhes ajudaria, matando milhares de alemães, como fizera com os soldados de Napoleão no século 19, e impedindo mais uma vez na história que a capital russa fosse conquistada por um exército estrangeiro.

O Führer sempre tem razão

No início de agosto de 1941, uma euforia tomava conta de soldados que marchavam sobre a combalida União Soviética. Todos sabiam que Moscou era o grande prêmio da conquista e esperavam passar o Natal daquele ano guardando a entrada do Kremlin ou gozando suas licenças em casa com suas famílias.

Os atônitos soviéticos das regiões já conquistadas por muitas vezes observaram intermináveis colunas de blindados e caminhões alemães cobertos com a frase Nach Moskau (Para Moscou).

Mas os comandantes da linha de frente sabiam que o Führer estava dividido entre Moscou, Leningrado e Kiev. No dia 23 daquele mês, o general Franz Halder, chefe do Estado-Maior do Exército alemão, retornava preocupado da retaguarda com a última decisão de Hitler: a prioridade era a conquista da Ucrânia.

A ofensiva contra Moscou seria adiada. Os generais que comandavam a Operação Barbarossa sabiam que um desvio naquele momento significaria ter de enfrentar os rigores do inverno russo ainda no campo de batalha.

Reunidos para deliberar a respeito das novas ordens, resolvem enviar para a Toca do Lobo, o bunker onde Hitler tomava suas decisões na Prússia Oriental, o respeitado comandante de Panzers e teórico da blitzkrieg, Heinz Guderian.

Sua missão era convencer o líder nazista a mudar de ideia e apostar todas as fichas em Moscou. Recebido na Toca por Hitler, Guderian trava um breve e tenso debate com o Führer diante dos demais oficiais do alto comando. Ao final, Hitler pergunta aos presentes qual dos dois tinha razão. A plateia é unânime em apontá-lo como vencedor. “Primeiro a Ucrânia, mein Führer!”.

Ao sair derrotado do salão de conferências Guderian é abordado pelo colega Alfred Jodl, que a tudo assistira. “Não se aborreça, Guderian. A intuição do Führer é infalível. Ele sempre tem razão...”.

No começo de dezembro, os nazistas chegaram a 18 km do centro Moscou. Diziam conseguir enxergar as torres da Catedral de São Basílio. Até que não podiam mais: o tempo fechou e a nevasca começou a cair. Em 5 de dezembro, os soviéticos lançam sua contra-ofensiva e, daí por diante, os alemães só ficariam cada dia mais longe de seu objetivo. 

Não é dar spoiler dizer como essa história termina: num certo bunker, com certas cápsulas de cianureto.