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Matérias / Personagem

Os dois militares soviéticos que salvaram o mundo de uma possível segunda catástrofe nuclear

Em 1962 e em 1983, momentos decisivos salvaram o planeta de uma potencial aniquilação

Isabela Barreiros Publicado em 03/09/2020, às 18h25

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Os russos Vasily Arkhipov e Stanislav Petrov, respectivamente - Wikimedia Commons
Os russos Vasily Arkhipov e Stanislav Petrov, respectivamente - Wikimedia Commons

Entre os dias 6 e 9 de agosto de 1945, o mundo ficou assustado com o impacto devastador causados por bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos às cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. A Segunda Guerra Mundial estava chegando ao fim, tornando-se o único evento histórico em que armas nucleares foram utilizadas.

Essa afirmação, no entanto, já foi desafiada por inúmeros países diversas vezes ao longo da história posterior ao conflito. Existiram pelo menos dois momentos importantes em que uma segunda catástrofe nuclear quase aconteceu: em 1962, durante a crise dos mísseis cubanos e em 1983, durante a Guerra Fria.

Voto de Minerva

O submarino soviético B-59 / Crédito: Wikimedia Commons

A Crise dos Mísseis de Cuba foi um dos pontos mais delicados da Guerra Fria, período histórico em que as superpotências mundiais Estados Unidos e União Soviética estavam competindo pela hegemonia global. O conflito não chegou a ter embates físicos, mas quase culminou em um novo ataque nuclear.

O intervalo entre 16 e 28 de outubro de 1962 foi decisivo para decidir se haveria ou não uma nova guerra que poderia destroçar o mundo. Isso somente não aconteceu devido à ação de apenas uma pessoa: a ação cautelosa do russo Vasily Arkhipov fez com que isso, felizmente, não ocorresse.

O momento crucial aconteceu no dia 27 de outubro, quando a bordo do submarino B-59, carregado com armas nucleares, oficiais da Marinha Soviética tiveram que fazer uma escolha. Na superfície, a Marinha dos Estados Unidos começou a sinalizar que estava lançando cargas de profundidade.

Os estadunidenses estavam cheios de armamento, tinham 11 navios de guerra e o porta-aviões USS Randolph, e ainda demonstravam que poderiam começar o ataque. Isso era um sinal muito grave para os russos, pois essas cargas poderiam acabar com o submarino devido ao seu grande poder de destruição.

Para piorar a situação, eles não estavam conseguindo contato com Moscou, não captando nenhum sinal de rádio. Os oficiais russos não sabiam o que fazer e altas doses de dióxido de carbono no interior do veículo faziam com que uma decisão racional fosse cada vez mais difícil de ser tomada.

Naquele momento, uma ideia surgiu do capitão Valentin Grigorievitch Savitsky: lançar um torpedo nuclear. No entanto, para que a movimentação pudesse ser realizada, ela deveria ser aceita pelos três militares que estavam a bordo do B-59. Uma discussão calorosa começou e dois foram convencidos de que essa era a melhor medida, — mas não era isso que Vasily Arkhipov acreditava ser o correto.

O comandante da flotilha estava certo de que o lançamento não deveria ser feito, e, muito provavelmente, levaria ao início de um conflito nuclear mundial. Assim, ele conseguiu persuadir os outros oficiais, que mudaram suas mentes. Para o historiador e consultor de John F. Kennedy, Arthur Schlesinger, aquele “não foi apenas o momento mais perigoso da Guerra Fria. Foi o momento mais perigoso da história humana".

Intuição

Stanislav Petrov foi premiado pela Association of World Citizens / Crédito: Wikimedia Commons

Outro momento decisivo em que o mundo quase começou a vivenciar uma guerra nuclear apenas foi levado à público 20 anos depois de ter acontecido. Em 1983, durante a Guerra Fria, o tenente-coronel do exército russo, Stanislav Petrov, estava cobrindo a folga de um colega na base Serpukhov-15, perto de Moscou, na madrugada de 26 de setembro daquele ano.

Naquele período, a ameaça era a maior aliada dos países em conflito. Estados Unidos e União Soviética trabalhavam com o medo do oponente, e essas bases tinham um papel fundamental nisso. Nelas, oficiais eram responsáveis por gerenciar a grande rede de radares, satélites e analistas que monitoravam o território soviético, atentos a qualquer possibilidade de ataque dos estadunidenses.

Caso o tenente-coronel percebesse qualquer mudança, deveria informar as autoridades, e se a movimentação fosse percebida como um ataque, a estratégia era clara: eles teriam exatos 12 minutos para acionar o sistema de retaliação. E, desse momento, o início de um conflito nuclear estaria iminente.

Observando os computadores, Petrov percebeu que eles indicavam que um míssil americano voava em sua direção a 24 000 quilômetros por hora. Receoso, o oficial decidiu esperar, “afinal, se fosse uma guerra, os americanos não lançariam só um míssil”. Considerou o sinal como um erro, um alarme falso. Mas a coisa piorou: o monitor mostrava pelo menos mais quatro mísseis.

Ancorado apenas em sua intuição, o russo, contra as ordens que vinham de cima, decidiu que não acionaria nenhum tipo de retaliação. Ele apenas aguardou durante longos 13 minutos até que os computadores mostraram exatamente o que ele precisava ler. Não havia nenhum míssil, nem ataque, nem conflito nuclear.

Para não expor a falha grotesca de seu sistema, os soviéticos mantiveram a atitude heroica de Petrov como um segredo, que foi revelado apenas 20 anos depois. Mesmo que ele tivesse salvado o mundo, não foi tratado como um herói pois não havia espaço para a subjetividade e pressentimento no mundo da Guerra Fria.


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