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Matérias / Brasil

Os horrores da Casa da Torre, palco para a tortura de escravos no século 18

Um documento perdido nos arquivo secretos da Inquisição de Lisboa revelou a brutalidade do escravista Garcia d’Ávila

Nicoli Raveli Publicado em 23/04/2020, às 08h00

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Casa da Torre na praia do Forte, na Bahia - Divulgação
Casa da Torre na praia do Forte, na Bahia - Divulgação

Em 1551, um colonizador português decidiu construir uma casa a 70 quilômetros de Salvador, localizada na praia do Forte, em um local alto e repleto de pastagens. Nos meses seguintes, o homem decidiu reunir diversos escravos da Guiné para que a construção medieval da Torre de São Pedro de Rates fosse realizada. Anos depois, Garcia d’Ávila, latifundiário e senhor de escravos, decidiu realizar uma exploração pelo Nordeste.

Torre de São Pedro de Rates, a Casa da Torre / Crédito: Divulgação

Seu filho, Francisco Dias de Ávila, deu sequência à construção do castelo em 1624. Mais tarde, a residência ficou conhecida como Castelo Garcia D’Ávila e Casa da Torre. Por mais de 200 anos, o único forte do Brasil e a única construção baseada no estilo medieval da América Latina foi moradia das famílias mais ricas e donos de escravos.

A vida sob tortura

O século 18 marcou os primeiros passos do mais cruel de todos os brasileiros escravistas. Segundo o antropólogo e historiador Luiz Mott, Garcia d'Ávila era um torturador sádico e o maior carrasco da história do Brasil.

De acordo com o pesquisador, o homem tinha uma rotina macabra com as escravas: como punição, ele utilizava ventosas com algodão e fogo; em seguida, colocava nas partes íntimas das mulheres. Entretanto, qualquer motivo poderia ser uma punição, desde uma dança realizada pelos escravos ou até mesmo um deles dormindo antes da hora estabelecida pelo senhor.

Antropólogo e historiador Luiz Mott / Crédito: Divulgação

Além disso, o estudo realizado por Mott – que foi baseado em documentos encontrados no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Portugal – também revelou que Garcia não poupava seus escravos nem mesmo na sexta-feira da Paixão. Isso porque ele, que era católico, saía em busca de pessoas para açoitar.

"O objetivo deste artigo é divulgar um medonho documento conservado até hoje escondido debaixo de sete chaves nos arquivos secretos da Inquisição de Lisboa: trata-se da denúncia das crueldades extremadas e inauditas praticadas contra seus escravos pelo homem mais rico da Bahia, e de todo o Brasil na segunda metade do século XVIII, o Mestre de Campo Garcia d’Ávila Pereira de Aragão", afirmou Mott no artigo Tortura de Escravos e Heresias na Casa da Torre.

Dessa maneira, o latifundiário andava pelo castelo e escolhia suas vítimas. Mais tarde, ele voltava a caminhar pelo local somente para observar os cachorros beberem o sangue das pessoas que haviam sido torturadas. Os animais também comiam os restos mortais dos escravos.

Crianças e idosos

Todavia, o homem tinha suas preferências. Crianças e idosos eram os alvos preferidos para a realização das práticas. Certo dia, uma criança negra tornou-se uma de suas vítimas. O pequeno Arquileu havia sido encarregado de cuidar de uma figueira.

Entretanto, um passarinho passou por perto e bicou a fruta. Isso foi o suficiente para que o garoto fosse torturado e chegasse próximo à morte. D’Ávila o bateu diversas vezes com um chicote em suas costas e barriga.

Ruínas da Casa da Torre, na Bahia / Crédito: Divulgação

Em outro episódio insólito, uma criança que tinha entre seis e oito anos também foi vítima do sádico. Manoel, que era filho da escrava Rosaura foi obrigado a "com a via de baixo para cima mandando o arreganhasse bem com as duas mãos nas nádegas, estando com a cabeça no chão e a bunda para o ar, estando neste mesmo tempo o dito Mestre de Campo Garcia D’Ávila Pereira Aragão com uma vela acesa nas mãos, e quando ajuntava bem cera derretida, a deitava e pingava dentro da via", revela a obra do historiador. 

Além disso, um homem de 30 anos também sofreu nas mãos de Garcia. Após ser flagrado tocando uma espécie de um violino, o escravo enfureceu o senhor e foi amarrado e açoitado por cerca de sete horas seguidas.

Casa da Torre com capela ao lado / Crédito: Divulgação 

“Quando o pobre rapaz desmaiava, Garcia D’Ávila colocava, com a “sua própria mão” limão com sal nos seus olhos, com uma pena de galinha para acordá-lo e continuar os suplícios”, afirmou Mott. Por sua vez, Antônio Magro, um idoso de aproximadamente 80 anos, sofreu por ter um objeto introduzido em seu ânus.

O fim das torturas

Após a morte de Garcia, em 1805, a residência passou a pertencer a Joaquim Pires de Carvalho e Albuquerque, Visconde de Pirajá. Mais tarde, em 1822, o local serviu como base do exército durante a Guerra da Independência do Brasil.

A partir de 1835, a Casa da Torre começou a ser abandonada, o que a levou à ruína. Foi somente em 1938 que o local foi intitulado como Patrimônio Histórico e, até hoje, é um dos pontos turísticos mais visitados da praia do Forte.


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