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Matérias / Civilizações

Os momentos finais da União Soviética: 'Indiretamente, o fim abalou a esquerda em seu conjunto', reflete historiador

Em entrevista exclusiva ao AH, o historiador da USP Lincoln Secco, que é autor do livro "História da União Soviética - Uma Introdução" falou sobre o tema

Giovanna Gomes, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 03/07/2021, às 09h00 - Atualizado em 26/12/2021, às 13h59

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Lenin e Stalin em setembro de 1922 - Domínio público/Maria Illyinichna Ulyanova
Lenin e Stalin em setembro de 1922 - Domínio público/Maria Illyinichna Ulyanova

A União Soviética foi uma grande organização política que surgiu na segunda década do século 20 como resultado da Revolução Russa e que teve seu fim em 1991, quando uma crise política se instaurou na região.

Relembrando os 99 anos da criação e os quase 30 anos de seu fim, o site Aventuras na História, entrevistou o historiador Lincoln Secco, da Universidade de São Paulo (USP). Professor livre docente de História Contemporânea, ele é autor do livro "História da União Soviética - Uma Introdução", lançado no ano de 2020.

O declínio de um gigante

De acordo com o historiador, o declínio da URSS costuma ser atribuído ao período do governo de Leonid Brejnev, em meados dos anos 1970, quando a Revolução Informática avançou e os soviéticos acabaram ficando para trás. Porém Secco discute outra visão.

Para ele, houve de fato uma queda nas taxas de crescimento da economia do país, contudo, esse fenômeno não teria sido exclusivo da URSS.

"Eu argumento no meu livro que ninguém forçou os comunistas soviéticos a saírem do poder. Eles perderam crença no seu sistema e preferiram passar de comunistas a acionistas. O socialismo foi derrotado ideologicamente," afirma o professor.

Tanques na Praça Vermelha, durante o golpe de agosto de 1991 / Crédito: Wikimedia Commons/Almog

Antigos líderes

Quando questionado acerca das possíveis influências de Lenine Stalinnos últimos anos da URSS, Lincoln destaca que o primeiro não acreditava na construção do socialismo em um único país, "mas introduziu uma nova política econômica (NEP) com alguns elementos de mercado", o que Gorbatchov, último líder da URSS também fez, em uma série de medidas que o historiador chamou de uma “volta a Lenin”.

No entanto, ele ressalta que as circunstâncias em que essas novas políticas foram introduzidas foram muito distintas. Já Stalin, buscou estabilizar o poder e "praticamente estatizou todo o campo." Mas, "ele governou numa etapa de isolamento internacional da URSS e de triunfo de um fenômeno novo: o nazi-fascismo."

As políticas de Gorbachov

Secco aponta que as medidas de reestruturação econômica e de abertura política, respectivamente chamadas de Perestroika e Glasnost foram cruciais. Mas ele ressalta que "não foi Gorbachov quem promoveu a mudança de sistema", argumentando que o político ainda afirmava ser um socialista. O historiador ainda considera que Gorbachov poderia almejar um modelo social democrata como o sistema nórdico.

Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev / Crédito: Domínio público/White House Photographic Collection


Impacto no mundo

"A queda da URSS foi uma das faces da crise geral do capitalismo em nosso tempo. Por mais que levemos em conta os problemas do socialismo, nenhum país capitalista melhorou o padrão de vida de sua população como o fazia até os anos 1970", considera o professor, afirmando que houve a partir de então uma reversão das políticas sociais e um grande aumento da desigualdade.

"A crise climática, o desemprego estrutural, as crises econômicas e a volta de políticos fascistas mostram que o capitalismo pode até ter vencido por algum tempo, mas a classe trabalhadora perdeu no mundo inteiro", disse ele, destacando que a União Soviética tinha um importante papel conter a exploração nos outros países.

A URSS e a esquerda

Questionado sobre o que a queda da URSS teria significado para a esquerda ao redor do mundo, Secco logo apontou que parte dela, principalmente a parcela formada por sociais-democratas e pequenas correntes mais radicais, ironicamente, comemorou o fim do socialismo.

"O que unia a todos era a expectativa de que uma era de liberdade e progresso se abriria e a democracia seria finalmente um valor universal para a esquerda. Mas nada disso aconteceu. A URSS já não era uma esperança para a revolução mundial desde o período de Stalin, mas muitos movimentos de libertação nacional viam sua economia como um modelo a ser seguido por países subdesenvolvidos", explicou.

"Indiretamente, o fim da URSS abalou a esquerda em seu conjunto, mesmo aquela que surgiu negando o seu legado. Sem a URSS, desapareceu um grande polo ideológico socialista". 

Kremlin, em Moscou / Crédito: Getty Images

Lincoln acredita que a queda poderia ter sido evitada caso o regime político não tivesse sido mudado de maneira brusca. Ele explica seu ponto de visto utilizando a China como exemplo.

"Na China, a sociedade e a economia passaram por mudanças estruturais, mas o Partido permaneceu forte e centralizado. Também foi importante a decisão soviética de não interferir mais em outros países socialistas, o que abriu caminho para as chamadas revoluções de 1989. Com o abandono do socialismo pelos antigos aliados na Europa, o prestígio soviético desabou". 

Como seria URSS hoje em dia, caso não tivesse caído?

O historiador respondeu à nossa pergunta chave considerando diferentes respostas para diferentes momentos políticos.

Caso a pergunta tivesse sido feita em meados dos anos 1990, "talvez eu dissesse que a URSS seria muito melhor" disse Lincoln referindo-se ao governo de Ieltsin, ao qual chamou de desastroso.

Mas hoje em dia, "com Putin, o país voltou a ter um papel que é inescapável: a Rússia continua sendo uma potência econômica e militar. Nesse aspecto talvez não fizesse muita diferença", declarou.

"No entanto, em três aspectos que estão longe de serem secundários a sobrevivência da URSS hoje faria enorme diferença. O primeiro diz respeito ao papel do Estado na vida da população; o segundo é o território que voltou a dimensões anteriores a Pedro, o Grande (1672-1725). E o terceiro é o drama dos milhões de russos étnicos que vivem nas antigas repúblicas soviéticas e em alguns casos proclamam repúblicas separatistas," finaliza Secco.


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