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Os três séculos da invenção do cinema

Como fazíamos sem a sétima arte? Ela foi criada parte a parte

Fábio Marton Publicado em 21/06/2017, às 13h15 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h35

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A lanterna mágica em caricatura política - Wikimedia Commons
A lanterna mágica em caricatura política - Wikimedia Commons

Sonho de recriar imagens em movimento é antigo. Realmente antigo: os desenhos de animais nas cavernas de Chauvet e Altamira, de mais de 30 mil anos, mostram os animais de forma sequencial, em cada fase de sua ação.

Por muitos milênios, tivemos de nos contentar com esses proto-quadrinhos, que também apareceram no Egito, Roma e várias outras culturas. Também com a trivial palavra escrita e falada, imaginando o “filme” na mente. E, claro, com o teatro. Mas o teatro tem suas limitações: ele depende de atores vivos fazendo seu trabalho sem corte, todos os dias, com performances que podem variar em qualidade. Efeitos especiais sempre existiram – nas peças da Grécia antiga atores já “voavam” pendurados em cordas. Mas esses são limitados pela física da vida real, não havia mesa de edição para criar truques mais mirabolantes.

Parte a parte  

O cinema foi inventado parte a parte. A primeira delas, o projetor, foi criada no século 17 pelo astrônomo Christiaan Huygens – o mesmo que descobriu os anéis de Saturno. A invenção, chamada “lanterna mágica”, projetava a luz de velas ou lanternas a óleo por uma lente, contra uma parede. Geralmente as imagens eram estáticas, mas também era possível criar animações primitivas movendo um vidro com um desenho em frente a outro com o fundo. 

Um dos primeiros desenhos criados por Huygens foi uma sequência com a morte tirando a própria cabeça e recolocando-a no lugar. Já prevendo a evolução que se seguiria: a fantasmagoria, espetáculos de projeção em que, em ruínas ou outros lugares macabros, monstros, fantasmas e esqueletos eram exibidos contra telas, paredes e fumaça. Os projetores, escondidos, eram móveis, fazendo com que as imagens parecessem vivas. Os apresentadores juravam que tudo era verdade, uma autêntica assombração – e alguns picaretas chegaram até a usar dessas técnicas em “sessões espíritas”.

A segunda peça surgiu em 1824. Foi quando o britânico Peter Mark Roget descreveu o efeito estroboscópico. Quando os aros de uma roda eram vistos se movendo através de uma cerca, eles apareciam curvos, distorcidos. Foi o primeiro estudo sério sobre o tema, e, oito anos depois, dois outros cientistas, o austríaco Simon von Stampfer e o belga Joseph Plateau, criaram a mesma invenção baseada no efeito. Era um disco com desenhos em sequência que, se girado e visto por certo ângulo, criava uma perfeita ilusão de movimento. Dependendo do país, ele seria chamado de fenacistoscópio, estroboscópio, zootropo, disco mágico etc. 


O zootropo em ação / Domínio Público/Giphy

Quando esses brinquedos surgiram, a última parte, a fotografia, já era conhecida. A primeira foto bem-sucedida data de 1826, pelo francês Nicéphore Niépce, e a técnica entraria em produção comercial em 1839. 

Décadas depois

Mesmo com todas as peças, o cinema só nasceria muitas décadas depois. A fotografia era lenta demais. Como os filmes eram pouco sensíveis, era preciso posar por minutos para capturar uma imagem. 

Em 1872, o fotógrafo Edward Muybridge arranjou 12 câmeras em sequência, disparadas por cordinhas numa pista de corrida. Com isso, conseguiu fazer uma sequência de fotos que mostra o animal galopando. Ele só queria responder uma dúvida científica: se cavalos tiram todas as patas do chão quando galopam (sim, tiram). Na prática, criou o primeiro filme de todos os tempos. 


O estudo do movimento / Edward Muybridge

O cinema finalmente brotaria no final do século 19, com as primeiras câmeras práticas, por vários inventores, como os irmãos Lumiére e Thomas Edison. Por décadas, foi visto com um mero brinquedo. Até diretores como D. W. Griffith (do mais que controverso épico O Nascimento de Uma Nação) provarem que podia ser arte.


Quando o teatro era do povo

Romeu e Julieta, personagens de uma das obras mais famosas de Shakespeare / Wikimedia Commons

Até o cinema se tornar corriqueiro e universal, por volta da década de 1930, o teatro era uma das formas mais populares de entretenimento. Shakespeare não pensou suas peças para serem lidas por acadêmicos refinados, mas como blockbusters para todo mundo – elas incluíam duplos sentidos, piadas grosseiras, todo o tipo de recurso popular. E era uma bagunça: o clichê das pessoas atirando tomates nos atores é real. Os tomates estavam lá porque todo mundo levava comida – e bebida – para o teatro. Falavam alto, interrompiam os atores e chegavam atrasados. O silêncio da plateia era uma conquista reservada apenas aos grandes.