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Matérias / Personagem

Otto Rahn, o Indiana Jones da vida real

O pesquisador nazista era um fanático pelo paradeiro do Santo Graal, assim como o personagem de Harrison Ford

André Nogueira Publicado em 04/10/2019, às 08h00

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Imagem Otto Rahn, o Indiana Jones da vida real

Você sabia que Indiana Jones, o arqueólogo mais famoso do cinema, foi inspirado num pesquisador nazista da época da Guerra? O caricato personagem de Steven Spielberg é originado na trajetória curta e insana de Otto Rahn, apesar de o homem em nada se parecer com o Jones do cinema: era magro, feio e pequeno.

Para começar, tanto o alemão quanto o personagem de Harrison Ford são arqueólogos que se tornaram inimigos orgânicos do nazismo e acabaram numa busca pelo Santo Graal, taça presente na Ceia e que teria sido usado na recolha do sangue de Cristo.

Porém, diferentemente da vitória do Dr. Jones em encontrar o enganoso Graal em A Última Cruzada, Rahn teve como resultado de seus esforços uma busca confusa que lhe custou a vida. A missão era uma verdadeira saga onírica: mesmo recebendo ilimitados recursos para sua busca, Rahn estava procurando um item religioso perdido há mais de 2 mil anos, de possível natureza mitológica.

Rahn em seu gabinete / Crédito: Reprodução

A vida de Rahn é pouco elucidada e cheia de lacunas. Sabe-se que ele nasceu em 1904 e, desde jovem, tinha fascínio pelo Santo Graal. Na universidade, teve contato com H. Schliemann, grande arqueólogo que encontrou possíveis vestígios de Troia na Turquia. A partir dessa técnica de cruzamento de fontes, Rahn queira partir do épico Parsifal (século 13) para encontrar o Cálice Sagrado.

Estudioso e sério, Rahn se aprofundou nos estudos do Parsifal e, então, se convenceu de que o segredo sobre o Cálice era guardado por uma seita cátara medieval. Segundo a tradição, essa comunidade cristã teria sido atacada e destruída por uma cruzada católica e, numa fuga, três cavaleiros desapareceram com a posse de uma xícara que se alega ser o Graal.

Rahn, então, vai a Montsegur (onde teria acontecido a fuga) em 1931. Não encontrou o Graal lá, mas se deparou com um complexo de cavernas que era usado como templo entre os cátaros. Ele, então, explora o local e escreve o livro Crusade against the Graal.
Este livro abriu espaço para sua maior relevância no mundo acadêmico.

Crédito: Reprodução

Graças a ele, Rahn recebeu um misterioso telegrama em 1933 convocando uma sequência da obra, que depois se descobriu vir de H. Himmler em pessoa, oferecendo 1.000 marcos por mês pela missão. Himmler era fissurado pelo paradeiro do Graal e até preparou um local para coloca-lo, o que nunca ocorreu.

Após um primeiro momento de relutância, Rahn, que não queria ingressar na SS de Himmler, acabou se juntando à milícia nazista, na busca do Graal que tanto agradaria o oficial alemão. Uma vez, ao ser visto com a roupagem negra dos paramilitares de Hitler, Rahn retrucou: "Um homem tem que comer. O que eu deveria fazer? Recusar Himmler?“

Com apoio da SS, publicou o segundo livro, chamado A Corte de Lúcifer: A Jornada de um Herege em Busca dos Trazedores de Luz. A obra não foi bem-escrita, mas ganhou o coração de Himmler, que ordenou a distribuição de cinco mil cópias, com algumas alterações (como um trecho abertamente antissemita que forçou Rahn a refletir sobre suas escolhas).

“Eles [Rahn e Himmler] costumavam escalar juntos, explorar cavernas e assim por diante. Eu ouvia falar dele quando criança. O sentimento em minha família era que Rahn era um homem honrado que se metera nesse terrível vínculo. Ele não era antissemita, mas havia aceitado o dinheiro da SS porque precisava de financiamento para seus projetos arqueológicos. Então, tendo feito isso, ele não conseguiu sair”, conta Jeremy Morgan, cujo pai foi amigo de Rahn.

Exploração de caverna / Crédito: Reprodução

Porém, alguns detalhes corroeram a relação do arqueólogo com o líder da SS. Há hipóteses de que Rahn era judeu, e já se sabe que ele era homossexual. Além do mais, ele começou a participar de círculos anti-nazi e, ainda, falhou em sua missão de achar o Santo Graal. "Basicamente, ele voltou de mãos vazias", diz Nigel Graddon.

“Essa foi sua maior ofensa. É verdade que Rahn expressou sentimentos antinazistas, mas ele sempre foi bastante discreto. O que teria sido muito mais problemático para Himmler era que Rahn era abertamente homossexual. Nos primeiros dias, Himmler estava preparado para fechar os olhos. Mas com o passar do tempo, sua tolerância diminuiu.”

Em 1937, foi convocado para uma missão de três meses no campo de Dachau, como punição de uma briga bêbado. Lá, teve contato com os horrores do Holocausto e saiu traumatizado, mas consciente de que o Reich não era lugar para ele. Então, escreveu a Himmler renunciando à SS (o que, convenhamos, não se faz). A partir daí, pouco se sabe do que aconteceu.

Como represália de Himmler, é possível que Rahn tenha sido ameaçado de ter sua sexualidade exposta, ou ainda que tenha começado a ser perseguido pelas milícias assassinas da SS. Deram-lhe a opção do suicídio e, a partir disso, Rahn subiu, em 1939, uma montanha nas encostas do Tirol e deitou-se para morrer, possivelmente após ingerir veneno. Morreu congelado aos 34 anos.