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Matérias / Personagem

Owen Hart, o lutador que caiu de uma altura de sete andares durante um intervalo comercial

Em decorrência de uma briga corporativa contra uma família tradicional, o atleta foi obrigado a assumir o papel que lhe custou a vida

Wallacy Ferrari Publicado em 26/04/2020, às 14h01

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O lutador em pose (à esq.) e desacordado após a queda (à dir.) - Divulgação
O lutador em pose (à esq.) e desacordado após a queda (à dir.) - Divulgação

Em 1999, a World Wrestling Federation (WWF) liderava a audiência na TV por assinatura nas noites de segunda-feira nos Estados Unidos. O Raw is War não somente era um sucesso, como vencia concorrentes históricos na TV americana e transformava a luta livre em um símbolo dos anos 1990, com a era dourada obtida graças as ‘Monday Night Wars’, que era a batalha pública da WWF com as empresas concorrentes do ramo.

Se tratando de um monopólio no entretenimento das lutas, a liderança começou a ser ameaçada, pela primeira vez em sua história, em 1995, com a chegada da World Championship Wrestling (WCW) investindo alto, contratando lutadores de peso da WWF. Entre eles, Bret Hart, um carismático ídolo canadense com uma família de tradição na luta livre. Seu irmão Owen, entretanto, preferiu ficar na WWF e tentar obter mais espaço longe das asas do irmão mais velho.

Em decorrência de uma saída conturbada, a família Hart cortava os laços com a diretoria da companhia. Owen, que manteve seu contrato, acabou pagando o pato, sendo escalado para lutas de menor expressão e, gradativamente, submetido para papéis vexatórios. Sua empreitada final seria uma ideia de Vince Russo, um então redator da empresa, para impulsionar Owen: o personagem Blue Blazer.

Com uma roupa de fibra sintética azul colada em seu corpo, uma capa de plumas e uma máscara mal confeccionada, Owen personificava um personagem ridículo que tentava tirar algumas risadas da plateia. Sempre se mostrando um desastrado, Blue Blazer dava a oportunidade para Hart reascender sua carreira na empresa, inclusive sendo escalado para os eventos mensais de pay-per-view.

Para melhorar a figura, Russo deu uma ideia ainda mais arriscada ao personagem: fazer com que suas entradas ao ringue partissem de uma corda suspensa, no teto dos ginásios onde os eventos eram realizados, e dessem a impressão de que Blue Blazer estivesse voando com sua capa. Sem ensaios, Owen topou a realização da entrada, chegando até a testar o equipamento em um evento em 1998, porém, ficou preso na ocasião.

Owen usando as roupas de Blue Blazer e fazendo a entrada com a corda suspensa, em 1998 / Créditos: Divulgação

A ideia foi levantada novamente em 23 de maio de 1999, durante a realização do especial Over The Edge. A luta de Blue Blazer contra Godfather valendo o Título Intercontinental não seria o evento principal da noite, mas marcaria a ocasião para toda a história da modalidade.

A tragédia

Enquanto o intervalo comercial ia ao ar, Owen subiu na estrutura de aço que estava instalada no topo da Kemper Arena, em Kansas. Em uma altura de 21 metros, equivalente a um prédio de sete andares, o atleta tinha que aproveitar a rápida pausa para instalar o cabo de aço em travas de tecido amarrado. Em um instante de descuido, o lutador escorregou da plataforma.

Sua queda, acompanhada por mais de 16 mil pessoas presentes na arena, fez com que Hart não apenas caísse no ringue duro, mas acertando o ‘turnbuckle’ — a peça de aço que liga as cordas nas barras de ferro do ringue. Os fãs que acompanhavam a transmissão em espanhol, que era via satélite e não tinha intervalos, se surpreenderam com um forte barulho de queda e a surpresa dos comentaristas mexicanos.

“Estamos muito preocupados. Não podemos mostrar na câmera o que está acontecendo agora, porque é algo muito trágico, entendemos que isso não está de acordo com o programa. Estamos tentando descobrir o que está acontecendo aqui”, disse o comentarista Carlos Savinovich minutos depois da queda, quando tentavam reanimar o atleta.

O momento da queda, com Owen caído no ringue, em fotografia feita por fã / Créditos: Knarley.net

Já a transmissão americana entrava no ar com um clima ainda mais pesado. De acordo com o narrador Jim Ross, a constatação de que o coração de Hart não batia teria que ter sido dada ao vivo: “Me disseram [no ponto eletrônico] que ‘Hart está morto’ e em seguida falaram ‘No ar em 7, 6, 5’”. Quando a transmissão voltou, Jim foi franco: “Isso não faz parte do entretenimento desta noite. Isso é tão real quanto o real pode ser” e anunciou o falecimento de Owen, aos 34 anos.

A relação comercial

A já desgastada relação da família Hart com a WWF, em decorrência de quebras de contratos e manipulação de resultados, ficou ainda mais estreita após o falecimento do atleta. A decisão, na noite do evento, de prosseguir com as lutas seguintes e não anunciar para os torcedores presentes na arena, foi controversa e não agradou os outros lutadores da empresa, que estavam arrasados com a notícia recém-chegada.

O ocorrido ajudou a manchar a imagem de Vince Russo com a diretoria da empresa, que acabou se transferindo para a WCW, principal rival. Em entrevista ao The Steve Austin Show em 2014, Russo fez questão de deixar suas intenções explicitas sobre o episódio: “Penso que essa seria realmente uma entrada espetacular para Owen. Isso será bom para Owen. Isso fará Owen parecer ótimo".

Buscando evitar maiores problemas, as fitas das câmeras — que já estavam posicionadas e registraram a morte do lutador — foram recolhidas e levadas para a sede da WWF, onde está catalogada no arquivo da empresa com as instruções de “nunca ser destruída, reproduzida ou duplicada”, justificando que não só influenciaria na imagem comercial da instituição, mas também como um pedido dos familiares.

Em seu funeral, as rivalidades comerciais foram deixadas de lado com o comparecimento de colegas de profissão com contratos em ambas as empresas. Quatro semanas após o evento, a família do lutador processou a WWF, alegando que o sistema de suspensão estava com defeito, além de ser mal planejado. O processo foi concluído em 2000, com a acusada tendo que pagar US$ 18 milhões para a família Hart.


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