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Matérias / Brasil

Passado nazista: o que aconteceu com a fazenda paulista repleta de suásticas?

Mais lidas do ano: A propriedade do interior de São Paulo, palco de trabalho infantil e saudações a Hitler, teve um destino curioso

Redação Publicado em 23/04/2022, às 09h00 - Atualizado em 30/12/2022, às 14h14

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Trecho de reportagem mostrando tijolos marcados com suásticas - Divulgação/Youtube/Folha
Trecho de reportagem mostrando tijolos marcados com suásticas - Divulgação/Youtube/Folha

Em 2011, um artigo científico do professor e historiador Sidney Aguilar Filho revelou um episódio perturbador da história brasileira que havia ficado enterrado durante muito tempo. 

O alvo da pesquisa era uma fazenda localizada em Campina do Monte Alegre, um município do interior de São Paulo que, durante as décadas de 1930 e 1940, havia sido palco de uma intensa exploração do trabalho infantil de meninos negros.

As crianças, que, ao longo dos anos, somariam por volta de 50, eram retiradas do Romão de Mattos Duarte, um orfanato do Rio de Janeiro, e forçadas a viverem em condições análogas à escravidão até alcançarem a maioridade. 

De acordo com o artigo, os donos do local eram adeptos ao integralismo, uma ideologia de extrema-direita próxima do fascismo e do nazismo, que é o motivo pelo qual teriam tijolos com suásticas gravadas, um fato que foi descoberto em 2003 por aqueles que eram, então, os donos da propriedade. 

Horrores até então esquecidos

A existência da fazenda entrou no radar do professor Aguilar em 2005, quando Senhorinha Barreta da Silva, que vivia no local, enviou um dos peculiares tijolos até ele, conforme repercutido pelo portal Criança Livre de Trabalho Infantil em 2016. 

O pesquisador iniciou uma intensa busca através de documentos históricos para conseguir juntar as peças do quebra-cabeça.

Sua tese contou ainda com entrevistas de sobreviventes do episódio, que foram explorados como órfãos. A rotina detalhada por eles envolvia trabalhos intensivos, punições físicas severas, proibição do direito de ir e vir e forte presença do nazismo. 

Trecho de documentário mostrando Argemiro dos Santos / Crédito: Divulgação/ Youtube/ Menino 23

O resultado de seus esforços foi divulgado no artigo de 2011, que se chamava “Educação, autoritarismo e eugenia: exploração do trabalho e violência à infância desamparada no Brasil (1930-1945)”.

"Memórias difíceis"

No último mês de março de 2022, a fazenda paulista foi tombada como Patrimônio Histórico e Cultural pelo governo de São Paulo.

Em uma entrevista recente ao UOL, a historiadora Deborah Neves esclareceu qual a motivação do ato: 

"A apresentação dos lugares de "memórias difíceis" pode, em um primeiro momento, parecer controversa. Por exemplo, quando se faz o tombamento do Deops [Departamento Estadual de Ordem Política e Social], onde hoje funciona o Memorial da Resistência, surge a crítica de que estaria sendo preservada a memória da ditadura", apontou ela. 

"Mas o que estamos preservando são os lugares onde ocorreram violações de direitos humanos. A partir do conhecimento dos lugares, criamos políticas de prevenção", explicou Neves, ainda de acordo com o veículo. 
Nome do rancho esculpido em sino / Crédito: Divulgação/Youtube/Folha

O chocante acontecimento histórico também foi a inspiração por trás do filme documental "Menino 23 - Infâncias perdidas do Brasil", dirigido por Belisário França e lançado em 2016, que reconta a trajetória de Aguilar na busca por respostas.

O título, por sua vez, faz referência às experiências de Aloisio Silva, um outro sobrevivente do episódio que relata ser chamado simplesmente pelo número "23" durante sua infância trabalhando na fazenda.

Confira abaixo o documentário, que foi disponibilizado na íntegra no Youtube pelo canal Tamuia Ateu Ita: