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Matérias / Brasil

Súplicas da imperatriz: Quando uma carta de Leopoldina contribuiu para a independência do Brasil

"Pedro, o Brasil está como um vulcão", afirmou a esposa do imperador em um texto escrito em meio ao caos político do país

Vanessa Centamori Publicado em 07/09/2023, às 15h00

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D. Pedro I e Imperatriz Leopoldina reunidos em retrato oficial - Arnaud Pallière via Wikimedia Commons
D. Pedro I e Imperatriz Leopoldina reunidos em retrato oficial - Arnaud Pallière via Wikimedia Commons

Casada com D. Pedro I por procuração em novembro de 1816, Dona Leopoldina era conhecida por sua vasta inteligência, sendo uma mulher bastante estrategista. E, embora tenha ficado nos bastidores do desligamento de Portugal com o Brasil, o seu papel foi, na verdade, de protagonista. Sem ela, o imperador talvez tivesse pensado duas vezes antes de gritar "Independência ou morte!". 

Como princesa real, Leopoldina já calculava à frente. Isso porque a atuação política de vossa alteza antecede até mesmo sua fase de imperatriz consorte. O seu maior talento talvez seja a influência — em especial sob o seu marido. Por isso, o Dia do Fico (9 de janeiro de 1822), foi tanto uma vitória dos brasileiros quanto da princesa.

Pedro era um infiel que traía Leopoldina com inúmeras amantes, sendo a mais conhecida delas Domitila de Castro, a famosa Marquesa de Santos. Apesar da relação ter sido um fiasco, provando que possuía intelecto e objetivo, a princesa assumiu o papel de regente no lugar do marido, que assim permitiu. 

Como Príncipe Regente, ele havia viajado para São Paulo, em agosto de 1822, para esfriar os ânimos antes da independência. O calor vinha dos temores de que uma guerra civil podia separar a Província de São Paulo do resto do Brasil.

Dona Leopoldina / Crédito: Domínio Público/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

Enquanto isso, por causa do seu estado de gravidez, Leopoldina não pôde acompanhar o esposo até o território dos paulistas e permaneceu no Rio de Janeiro. Foi aí que no dia 13 daquele mês de agosto, Dom Pedro nomeou a mulher como chefe do Conselho de Estado e Princesa Regente Interina do Brasil. 

Neste ínterim, a agitação em Portugal era imensa e os brasileiros estavam cientes que os portugueses podiam chamar D. Pedro I de volta, rebaixando novamente o Brasil ao status de colônia. Dona Leopoldina não podia esperar mais pelo marido. Tomou uma rápida decisão.

Com os conselhos de José Bonifácio de Andrada e Silva, no dia 2 de setembro de 1822, ainda como chefe interina, Leopoldina presidiu uma reunião do Conselho de Ministros: era necessário declarar a Independência.

Leopoldina como Princesa Real-Regente do Reino do Brasil, presidindo a reunião do Conselho de Ministros, em 2 de setembro de 1822 / Crédito: Domínio Público/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

A carta atormentada 

No mesmo dia, a regente enviou uma carta ao marido, pedindo que ele proclamasse a Independência do Brasil. Ela queria que o príncipe visse seu posicionamento antes que o despacho oficial chegasse até São Paulo. Então, Leopoldina deu um jeito de atrasar o correio e escreveu a correspondência. 

O documento original, porém, não mais existe. No entanto, seu texto foi preservado em um folheto raro de 1826, onde foi publicado pela primeira vez. O papel chegou até D. Pedro I em 7 de setembro de 1822, mesmo dia em que ele proclamou o Brasil livre de Portugal.

Na carta, Leopoldina escreve: “Pedro, o Brasil está como um vulcão. Até no paço há revolucionários. Até oficiais das tropas são revolucionários. As Cortes Portuguesas ordenam vossa partida imediata, ameaçam-vos e humilham-vos. O Conselho de Estado aconselha-vos para ficar". 

Além disso, a regente interina alerta o esposo, ao dizer que, se fossem à Lisboa, o destino também não seria o melhor de todos. O rei e a rainha de Portugal estavam submetidos às mãos das cortes liberais. E Leopoldina argumentava também que o Brasil queria D. Pedro I como monarca. Portanto, ele deveria anunciar a emancipação de uma vez por todas.

A independência, conforme foi descrito pela princesa, era já inevitável. "Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele fará a sua separação", registrou. Nesse fogaréu, D. Pedro I cedeu. Às 16h30 do fatídico dia 7 de setembro de 1822 — mesmo que com dor de barriga — nas margens do Rio Ipiranga, ele declarou a independência do Brasil. Vitória dos brasileiros e, em parte, de Leopoldina

Pintura de Dona Leopoldina / Crédito: Domínio Público/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

Veja abaixo o texto da carta de Dona Leopoldina ao marido na íntegra: 

Pedro, o Brasil está como um vulcão. Até no paço há revolucionários. Até oficiais das tropas são revolucionários. As Cortes Portuguesas ordenam vossa partida imediata, ameaçam-vos e humilham-vos. O Conselho de Estado aconselha-vos para ficar. Meu coração de mulher e de esposa prevê desgraças, se partirmos agora para Lisboa. Sabemos bem o que tem sofrido nossos pais. O rei e a rainha de Portugal não são mais reis, não governam mais, são governados pelo despotismo das Cortes que perseguem e humilham os soberanos a quem devem respeito. Chamberlain vos contará tudo o que sucede em Lisboa. O Brasil será em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu monarca. Com o vosso apoio ou sem o vosso apoio ele fará a sua separação. O pomo está maduro, colhei-o já, senão apodrece. Ainda é tempo de ouvirdes o conselho de um sábio que conheceu todas as cortes da Europa, que, além de vosso ministro fiel, é o maior de vossos amigos. Ouvi o conselho de vosso ministro, se não quiserdes ouvir o de vossa amiga. Pedro, o momento é o mais importante de vossa vida. Já dissestes aqui o que ireis fazer em São Paulo. Fazei, pois. Tereis o apoio do Brasil inteiro e, contra a vontade do povo brasileiro, os soldados portugueses que aqui estão nada podem fazer. Leopoldina”.


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