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Peng Shuai: O misterioso desaparecimento da tenista chinesa

A atleta fez uma denúncia de assédio sexual contra um ex-político chinês no começo de novembro

Pedro Paulo Furlan, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 20/11/2021, às 08h00

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Peng Shuai em meio a uma partida de tênis - Getty Images
Peng Shuai em meio a uma partida de tênis - Getty Images

No começo de novembro, dia 3, a campeã internacional de tênis Peng Shuai, chinesa, fez um post na rede social Weibo, conhecida como ‘Twitter chinês’, acusando um político de alto escalão do Partido de ter a assediado sexualmente em uma visita a sua casa. Deletada em menos de uma hora, a publicação foi capturada e tornou-se um assunto público.

"Mesmo que seja como atirar um pedregulho em uma rocha, ou uma mariposa atacar uma chama e causar sua autodestruição, eu irei contar a verdade sobre você”, disse ela ao finalizar seu post.

No entanto, o que se seguiu, e continua até hoje, faz mais de duas semanas, chocou a comunidade internacional e tornou-se assunto de atenção para a ONU.

Desde a postagem, Peng Shuai não foi vista por ninguém e qualquer forma de contato com a atleta tem sido em vão, já que ninguém mais encontrou à campeã. 

O seu desaparecimento é ainda mais suspeito devido a um e-mail divulgado pela imprensa governamental chinesa, que afirma que Shuai está “descansando”.

Mas, o que que aconteceu? Do que o político chinês foi acusado e como um sumiço desses é possível? 

A denúncia

Zhang Gaoli, ex-vice-premiê da China, em 2017 - Foto: Getty Images

Na China, poucas redes sociais funcionam como no resto do mundo, o website Weibo é uma das que podem ser utilizadas e foi através dele que Peng Shuai postou sua acusação ao ex-vice-premiê Zhang Gaoli, que, mesmo fora de seu cargo político, continua sendo um dos maiores aliados do presidente atual, Xi Jinping.

Sabendo que seria criticada por sua, suposta, falta de provas, a tenista contou detalhadamente suas memórias do assédio.

“Só tenho minha experiência distorcida mas extremamente real”, apontou a campeã internacional em seu post.

A atleta já recebeu títulos em Wimbledon e no torneio Roland Garros, além de ter sido a líder mundial do ranking de duplas por anos. Um dos maiores nomes do tênis chinês, Peng Shuai foi convidada à propriedade de Zhang Gaoli para jogar uma partida.

Anteriormente a Gaoli receber a posição de vice-premiê, a tenista narrou que eles mantiveram um relacionamento extra-marital, que era de conhecimento da esposa do político, no entanto, o caso foi finalizado antes mesmo de sua ascensão, em 2013.

Em 2018, Peng Shuai foi chamada para um jogo amistoso de tênis com o casal e foi neste momento que a violência denunciada ocorreu.

Segundo seu relato, o funcionário do Partido a forçou a ter relações sexuais com ele, enquanto a sua esposa vigiava a porta. A atleta contou que recusou diversas vezes os avanços de Zhang Gaoli e ficou muito assustada.

"A princípio, rejeitei e continuei chorando", relatou Peng Shuai no post forçosamente deletado.

A repercussão

Steve Simon, diretor da WTA, em 2020 - Foto: Getty Images

Em apenas 20 minutos, a publicação original de Peng Shuai já tinha sido deletada da rede social e seu nome estava censurado de quaisquer buscas na internet chinesa — no entanto, capturas de tela do post já tinham sido tiradas e, rapidamente, o assunto chegou à mídia internacional.

O problema tornou-se explícito nos dias que se seguiram, a tenista nunca mais postou em suas redes sociais e não foi mais vista em público, enquanto pessoas ao redor do globo ficavam cada vez mais alarmadas com sua segurança.

Mais cedo nesta última semana, a WTA (Associação de Tênis Feminino), no domingo, 14, expressou sua preocupação com Peng Shuai e exigiu uma investigação transparente e confiável em cima dos paradeiros da campeã.

No entanto, o caso de Shuai tornou-se ainda mais preocupante após um e-mail recebido pela WTA e divulgado pela mídia oficial do governo chinês que, supostamente, foi escrito por Peng Shuai. No texto, a atleta afirma que a acusação era falsa e que toda a cobertura do ocorrido está sendo feita sem o consentimento dela.

Não estou desaparecida nem em perigo. Estou apenas descansando em casa e tudo está bem. Obrigado novamente pela preocupação comigo”, está escrito no e-mail.

Devido à linguagem extremamente formal e diplomática utilizada no comunicado, inúmeras pessoas começaram a apontar que o e-mail era suspeito. 

Como consequência, o diretor da WTA, Steve Simon, afirmou que não acredita que o e-mail foi escrito por Peng Shuai e exigiu provas concretas de que a campeã está em segurança. 

A última atualização que temos do caso, entretanto, vem da própria Organização das Nações Unidas. Na manhã de sexta-feira, a ONU solicitou à China que local em que a tenista está seja revelado, além de comprovações de que ela está bem. O órgão também pede uma investigação aberta sobre as acusações de abuso sexual.