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Matérias / Ciência

Um gato como telefone: O bizarro experimento de Ernest Glen Wever

Tudo começou com uma inusitada hipótese, que foi testada através de uma pesquisa polêmica e com requintes de crueldade

Fabio Marton Publicado em 24/09/2021, às 09h00

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Imagem meramente ilustrativa de um gato - Divulgação/ Pixabay/ ClaudiaWollesen
Imagem meramente ilustrativa de um gato - Divulgação/ Pixabay/ ClaudiaWollesen

Em meados de 1929, um professor da Universidade de Princeton fez-se uma pergunta curiosa. Seriam os tecidos orgânicos capazes de transmitir ligações telefônicas da mesma forma que os fios trançados presentes em equipamentos de comunicação?

Na época, Ernest Glen Wever era oficialmente um psicólogo, mas também era o que, hoje, chamaríamos de neurocientista — termo que ainda não existia. Mais tarde, ele também tornou-se chefe do departamento de psicologia da universidade onde lecionava.

Decidido a testar sua hipótese, Ernest convocou Charles William Bray, seu assistente, para realizar alguns experimentos inusitados. Juntos, os pesquisadores tentaram transmitir uma chamada telefônica através do nervo auditivo de um gato. O problema é que todos os experimentos foram realizados enquanto o gato ainda estava vivo.

Fotografia de Ernest Glen Wever em 1970 / Crédito: Divulgação/ Acoustics Today/ James McCormick

O experimento

Para dar acesso a seu nervo, o animal foi sedado, teve seu crânio aberto e parte do cérebro removida. Wever então ligou um cabo telefônico ao fim do nervo, que ia até uma sala isolada, onde estava Bray. E falou na orelha do pobre animal.

O assistente recebeu uma mensagem clara, como se fosse um cabo normal. O gatofone era um sucesso — provando que qualquer mamífero, até você, também pode ser um cabo telefônico. Mas esse não era o ponto deles.

Aquele se tratava de um experimento neurológico, e o que queriam testar era uma teoria de que os nervos transmitem seus impulsos em frequência maior quando o estímulo é maior. Estímulo, no caso, a amplitude, o volume do som. Wever então falou baixinho e gritou, depois falou fino e falou grosso. Provou que não era como se imaginava. A frequência e a amplitude eram proporcionais.

Também experimentou mudar a posição do cabo para outra parte do cérebro, para verificar se não estava simplesmente conduzindo eletricidade pelos tecidos vivos. Não funcionou. Cortou o suprimento de sangue para o nervo temporariamente. Também nada. Quando o abuso levou ao inevitável e o gato faleceu, nunca mais deu resultado.

Para além de qualquer dúvida, o tímpano pode funcionar como um bocal telefônico; e o nervo, como cabo. O pesquisador e seu assistente foram premiados com a medalha da Sociedade de Psicólogos Experimentais em 1936. Wever passaria o resto de sua vida estudando a audição, cessando suas atrocidades contra felinos. Bray trabalharia com a Marinha dos EUA na Segunda Guerra, desenvolvendo o sonar.

Ambos nunca viram qualquer utilidade prática em seu experimento. Mas tem. E, nisso, chegamos a um final, na medida do possível, feliz: o gatofone daria origem aos mais modernos aparelhos auditivos, que são ligados direto ao nervo, intracranialmente.