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Matérias / Ciência

Como Einstein aconselhou Marie Curie a lidar com uma campanha difamatória

Após ter cartas íntimas reveladas, o físico alemão orientou a amiga cientista para deixar de ler "bobagens"

Éric Moreira, sob supervisão de Wallacy Ferrari Publicado em 14/08/2022, às 07h00 - Atualizado em 26/09/2023, às 20h03

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Albert Einstein (à esquerda) enviou carta em 1911 à Marie Curie (à direita) - Fotos por autor desconhecido e Henrie Manuel pelo Wikimedia Commons
Albert Einstein (à esquerda) enviou carta em 1911 à Marie Curie (à direita) - Fotos por autor desconhecido e Henrie Manuel pelo Wikimedia Commons

Hoje em dia, uma estratégia comum utilizada por figuras públicas para lidar com comentários negativos partindo de críticos e haters é, simplesmente, não lê-las. No entanto, já no início do século passado, o físico alemão Albert Einstein instruiu a física e química polonesa Marie Curie, naturalizada na França, a fazer algo semelhante, após ataques sofridos advindos da mídia francesa.

As críticas à cientista ocorreram em 1911, ano em que recebeu seu segundo Prêmio Nobel — e fez dela a primeira pesquisadora da história a ser laureada com o prêmio em duas áreas distintas, de física e de química. Na época, aproveitando-se da força do nome de Marie Curie, a mídia francesa publicou um escândalo sensacionalista e desrespeitoso sobre sua vida, o que fez com que sofresse muitos ataques.

Cientista polonesa Marie Curie
Cientista polonesa Marie Curie / Foto por autor desconhecido pelo Wikimedia Commons

O 'escândalo'

Marie Curie, polonesa naturalizada na França, começou suas pesquisas envolvendo radiação a princípio ao lado de seu marido, Pierre Curie, que faleceu em 1906. Com elas, em 1903 ela ganhou o Nobel de Física, por suas pesquisas sobre o fenômeno da radiação, prêmio esse dividido também com Pierre e o francês Henri Becquerel.

Fotografia de Pierre e Marie Curie
Fotografia de Pierre e Marie Curie / Foto por Smithsonian Institution pelo Wikimedia Commons

Então, em 1911 ela voltou a receber um prêmio Nobel, mas dessa vez na categoria de química, graças a sua contribuição na área e por descobrir os elementos químicos rádio e polônio. No entanto, poucos meses após a conquista, a imprensa da França — onde ela vivia desde desde 1891 — realizou uma campanha difamatória intensa contra a cientista.

Na época, os jornais publicaram uma série de cartas de amor que ela havia trocado com o também físico Paul Langevin, que havia sido um doutorando do marido de Marie. No entanto, o que foi julgado por muitos como uma relação extraconjugal, não era uma de fato, visto que o marido de Marie já havia falecido cinco anos antes, e Langevin estava separado da esposa, como informado pela revista Galileu.

As correspondências entre Curie e Langevin foram entregues à imprensa, porém, pela ex-esposa do físico francês — aparentemente mal-resolvida com a separação. Com isso, ela queria, e conseguiu, pintar na mídia uma imagem de que a pesquisadora era uma 'destruidora de lares', o que interessava aos jornais da época, pois a história definitivamente chamaria muita atenção.

As publicações foram feitas no outono de 1911, na mesma época em que ocorria uma conferência em Bruxelas, capital da Bélgica, que reunia os maiores nomes da ciência da Europa. Foi no evento em questão que a cientista conheceu o físico alemão Albert Einstein, com quem cultivou uma boa amizade.

Fotografia colorida digitalmente de Albert Einstein e Marie Curie conversando
Fotografia colorida digitalmente de Albert Einstein e Marie Curie conversando / Foto por QUANTAGEM pelo Wikimedia Commons

Depois de retornar para sua casa, na França, porém, ela encontrou sua casa rodeada por uma multidão de pessoas enfurecidas pelo que leram nos jornais. Isso fez com que Marie Curie, juntamente a suas duas filhas, que tinham 7 e 14 anos na época, se refugiassem na casa de uma amiga até que a história esfriasse.

Carta de Einstein

Enraivecido com a tentativa de desmoralizar a cientista por parte dos jornais franceses e pela invasão de privacidade, Albert Einstein, que tinha 32 anos na época, escreveu uma carta à amiga. No conteúdo, ele lamenta o acontecimento e expõe solidariedade, além de aconselhá-la a não ler as 'bobagens' ditas sobre ela. Confira tradução da carta:

"Muito estimada Sra. Curie,

Não ria de mim por lhe escrever não tendo nada sensível a dizer. Mas estou tão enraivecido pela forma com a qual o público presentemente tem ousado a se interessar por você que eu absolutamente preciso dar vazão a este sentimento. Contudo, estou convicto de que você despreza consistentemente esta ralé, quer obsequiosamente esbanje respeito por você, quer ela tente saciar seu desejo por sensacionalismo! Eu estou impelido a lhe dizer o quanto vim a admirar seu intelecto, seu ímpeto, e sua honestidade, e que eu me considero sortudo por ter lhe conhecido pessoalmente em Bruxelas. Qualquer um que não se enquadre entre estes répteis está certamente feliz, tanto agora quanto antes, que nós tenhamos entre nós figuras como você, e Langevin também, pessoas reais com quem qualquer um se sente privilegiado por manter contato. Se a ralé continuar a se ocupar com você, então simplesmente não leia esta bobagem, mas sim a deixe para o réptil pela qual ela foi fabricada.

Com os mais amigáveis cumprimentos a você, Langevin e Perrin, atenciosamente,

A. Einstein."