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Matérias / Colonização

Por que os portugueses ganharam as primeiras guerras coloniais?

Entenda o contexto e as razões da vitória dos colonizadores europeus contra os indígenas na América

André Nogueira Publicado em 25/10/2019, às 10h00

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Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 - Crédito: Oscar Pereira da Silva
Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500 - Crédito: Oscar Pereira da Silva

Imagine o cenário: século 16, à beira do mar, um navio carrega até a costa um grupo de militares portugueses que caminham em direção à guerra contra os nativos no novo continente.

Sendo o possível para uma nau, chegam cerca de 2.000 europeus, um batalhão menor, se comparado aos milhões de índios que estavam na terra onde ocorrerá a guerra, que é a terra que eles usam e conhecem. Diante desse cenário, parece até inacreditável pensar que os portugueses irão vencer essa guerra e tomar o território para a empresa de colonização.

Em primeiro lugar, é importante destacar a imprudência de um argumento que normalmente se solta quando se trata deste assunto: a ideia de que a tecnologia de guerra e as capacidades técnicas dos portugueses eram superiores às dos indígenas. Esse conceito parte de uma associação falaciosa entre "armas de fogo" e superioridade armamentista.

Além de anacrônico, por pensar que as armas de fogo do 16 eram tão sofisticadas e potentes quanto às atuais, essa teoria ignora a situação real de batalha que atesta as capacidades bélicas do arsenal de cada lado.

Ao contrário do que se pensa, as armas dos índios no Brasil, no México, nos Andes e no Prata eram muito mais práticas e de maior capacidade de dano que as espadas e escopetas lusitanas e espanholas.

Numa situação de guerra na floresta, flechas a longa distância, zarabatanas e o uso do veneno eram mais letais e de maior capacidade de derrubar o inimigo que uma espada empunhada e o trabalhoso uso da ara de fogo, que exige tempo para recarregar e certa distância para mira.

Mas não foi a capacidade tecnológica o agravante que determina a vitória nessas guerras coloniais. Para entender esse processo, é necessário conceber que não eram apenas os portugueses que planejavam vantagens em cima do contato com um povo desconhecido.

Os indígenas não eram burros e viam nos portugueses a possibilidade de aumento de poderes regionais a partir de critérios de capacidade de influência. Por isso muitos irão aceitar presentes como machados e espelhos: entre outros grupos, esses são elementos que possibilitam distinção social e destaque.

Partindo da ideia de que os índios também foram estratégicos e pretenciosos no contato e depois com a guerra, podemos pensar que as guerras coloniais foram guerras que exigiram associações e alianças estratégicas que contribuíram para as batalhas.

Os potiguar e as Guerras Cristãs / Crédito: Wikimedia Commons

Não podemos pensar a "América indígena" como um bloco monolítico dos tupis que lutam contra os europeus. Antes da própria chegada dos portugueses, muitas das tribos em território americano batalhavam entre si e possuíam rivalidades históricas. Longe de ser a mesma coisa, as diferentes tribos disputavam batalhas e territórios e é esse o quadro encontrado pelos navegadores ao chegarem na América.

Diante dessa situação, é possível perceber a oportunidade que os povos tinham de se associarem em alianças para a guerra. Um caso famoso que ilustra essa forma como as guerras se desenvolveram é a Guerra dos Tamoios: não foi uma disputa entre os portugueses e os índios, em que os portugueses ganharam por capacidade estratégica.

Ao contrário, foi uma guerra entre a aliança de Portugal com as tribos tupi e a aliança dos franceses com os tamoios, em que duas rivalidades são concomitantes.

É a partir dessa lógica que os historiadores hoje falam em "cumplicidade indígena", ou seja, a aliança entre europeus e americanos que desencadeia uma série de agravamentos e dinamizações dos conflitos entre tribos internas ao continente, levando à vitória dos tupis aliados aos portugueses sobre diversos outros grupos, que são rivais tradicionais dos tupi.

Com isso, Portugal elimina uma boa parte do contingente indígena guerreiro. Outros grupos, não ligados à guerra, poderão servir como escravos nas expedições de extração de produtos naturais e, depois, nos engenhos de açúcar, antes mesmo do fenômeno das bandeiras.

Ao mesmo tempo em que há esse enfraquecimento dos guerreiros no mundo indígena, os portugueses foram responsáveis por outro aspecto de enfraquecimento das tribos e até o extermínio de comunidades inteiras: infecções biológicas.

Varíola, uma série de infecções bacterianas, viroses e doenças venéreas, uma série de agentes infecciosos relevantes que levarão a uma queda populacional entre os indígenas que muda completamente a equação da guerra.

Mesmo depois da vitória das tribos tupi, esses mesmos grupos se encontrarão, no fim do 16, extremamente debilitados, tornando-se incapazes de uma vitória real contra a segunda investida dos lusitanos: dessa vez não em aliança com os tupi, mas contra os tupi, pela ocupação do território e fornecimento de mão-de-obra servil.


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