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Curiosidades / Personagem

Paulo Freire também foi alvo da ditadura militar

Patrono da Educação Brasileira, ele passou 70 dias preso, teve de prestar inúmeros depoimentos e ainda foi forçado ao exílio

Isabela Barreiros, sob supervisão de Pamela Malva Publicado em 19/09/2021, às 09h00 - Atualizado em 08/04/2022, às 09h00

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Fotografia do educador Paulo Freire - Divulgação/ Instituto Mosaico
Fotografia do educador Paulo Freire - Divulgação/ Instituto Mosaico

Considerado um dos pensadores mais importantes de todos os tempos, Paulo Freire já teve muitas de suas obras reconhecidas internacionalmente. Seu método pedagógico é reproduzido e estudado até hoje, fazendo parte de diversos debates educacionais.

O educador transformou a maneira como o ensino pode ser visto por meio de seus métodos revolucionários, que têm como objetivo a libertação e a autonomia popular. Seu pensamento dava importância aos mais pobres por meio da alfabetização de todos.

A ideia é que o ensino deve estar relacionado ao repertório social e cultural de cada aluno, não apenas uma educação “bancária”, em que o estudante recebe informações de forma passiva. Freire, então, enxerga a educação como uma maneira de transformar as pessoas em indivíduos conscientes das suas posições no mundo.

Com toda essa bagagem, o projeto do educador chegou inclusive ao Governo Federal, quando o presidente João Goulart o chamou para organizar um Plano Nacional de Alfabetização. Freire também foi secretário de Educação da Prefeitura de São Paulo na gestão de Luiza Erundina, durante os anos de 1989 e 1992. 

Os pensamentos críticos e revolucionários de Freire, portanto, estavam expostos e ganhavam cada vez mais repercussão. O problema foi que, junto da divulgação do pensamento do educador, também veio a ditadura militar brasileira e sua censura.

Luiza Erundina e Paulo Freire, seu secretário da Educação / Crédito: Centro de Referência Paulo Freire

Entre censura e repressão

Durante a ditadura militar, inúmeras pessoas foram presas por seus ideais, que incomodavam o status quo que se estabeleceu desde 1964. A partir do golpe, Freire passou a ser pressionado e interrogado inúmeras vezes, mas ainda não acreditava que poderia ser preso pelo regime.

No livro O educador: um perfil de Paulo Freire (2019), Sérgio Haddad explica que, no dia 27 de abril, João Alfredo, o reitor da Universidade de Recife, onde Freire trabalhava, organizou uma reunião que tinha como objetivo investigar a responsabilidade dos docentes na “prática de crime contra o Estado e seu patrimônio, a ordem política e social, ou atos de guerra revolucionária”.

Freire escreveu um documento respondendo às inúmeras perguntas que revelariam seu envolvimento “revolucionário” na universidade. “Nego, pois, a veracidade das acusações assacadas contra o SEC, anteontem, ontem e hoje. Nego que o SEC […] exerça atividades subversivas ou contrárias ao regime democrático. Horroriza-me o assanhamento destas acusações”, escreveu.

Ele foi considerado um doutrinador, embora seus métodos fossem, em essência, anti doutrinários. Mas isso não interessava aos militares, que o coagiram novamente no dia 1º de julho, quando um inquérito chefiado por Hélio Ibiapina Lima fez com que ele fosse à uma delegacia. 

Ele teria que prestar depoimento sobre “atividades subversivas antes e durante o movimento de 1º de abril, assim como suas ligações com pessoas e grupos de agitadores nacionais e internacionais”.

Paulo Freire em depoimento / Crédito: Domínio Público

Depois do depoimento, Freire foi encaminhado a um interrogatório, onde foi questionado sobre sua área e sobre os autores com os quais sustentava suas teses, métodos e resultados no campo da pedagogia. Os temas das perguntas foram diversos, mas o objetivo principal era o mesmo: mapear a ideologia e as posições do professor e entender seu nível de periculosidade.

Ele ficou três dias preso na delegacia e foi solto apenas no dia 3. No entanto, não ficou muito tempo fora das grades e logo foi encarcerado novamente. Sem mandato ou explicações, foi encaminhado ao Quartel de Obuses, em Olinda. Primeiramente, o educador ficou em uma cela solitária no piso inferior, em condições insalubres, mas logo foi transferido para a enfermaria, pois possuía curso superior.

No total, Freire passou mais de 70 dias em cárcere, somando a passagem na cadeia em Olinda e Recife, enquanto lia, discutia e jogava xadrez e palavras cruzadas. No entanto, mesmo depois de solto, não tinha liberdade: ele era obrigado a comparecer regularmente às instalações do Exército para registrar suas últimas atividades. 

Foi, inclusive, durante um desses inquéritos que ele teve de ir ao Rio de Janeiro, onde, contra a própria vontade, aceitou a recomendação de amigos e buscou exílio na embaixada da Bolívia.

Ibiapina Lima, responsável pelo relatório final do inquérito sobre o pensador, considerou-o um fugitivo. Poucos dias depois da ida para o exílio, acusou Freire de ser “um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos. Sua atuação no campo da alfabetização de adultos nada mais é que uma extraordinária tarefa marxista de politização dos mesmos”.


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