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Matérias / Personagem

Por trás de um craque: A comovente história do pai de Cristiano Ronaldo

Idolatrado por diversas torcidas, o craque português teve um adversário que jamais conseguiu superar: a ausência de uma figura paterna em sua vida

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 24/01/2021, às 10h00 - Atualizado em 31/01/2021, às 10h00

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O jogador português Cristiano Ronaldo - Getty Images
O jogador português Cristiano Ronaldo - Getty Images

Bolas de Ouro, artilharia em Ligas dos Campeões, dribles fantásticos e gols inesquecíveis. É difícil falar sobre Cristiano Ronaldo sem olhar para tudo o que ele conquistou e fez em campo.

Afinal, o português parece fadado ao sucesso, como se fosse uma figura mitológica, igual Midas, já que tudo que ele toca parece se transformar em ouro... em títulos. 

Quem o vê em campo hoje tem a certeza que se trata de um craque inabalável, não à toa ganhou o apelido carismático de “robozão”. Mas a história de Ronaldo nem sempre foi assim, sua infância lhe fez suar mais do que driblar qualquer adversário e ter mais incertezas do que qualquer lesão. Mesmo assim ele venceu. Fruto da força de vontade que seu pai nunca demonstrou ter.  

O amor de uma figura paterna, inclusive, é algo que, infelizmente, o gajo jamais conseguirá alcançar ou pendurar em sua estante cheia de troféus. Não por culpa dele, que fique claro, mas por conta de traumas que marcaram seu pai e Portugal — que tentava se erguer como sociedade após a árdua ditadura que assolou o país.  

A história de José Dinis Aveiro

Em 4 de setembro de 1974, José Dinis Aveiro e seu amigo, Alberto Martins, tomaram o mesmo rumo que muitos portugueses e embarcaram em um avião até a África. Chegando à Angola, pegaram um trem que os levariam até uma vila na Zâmbia, perto da fronteira onde a guerra acontecia.  

Cristiano Ronaldo ao lado de um quadro com o retrato de seu pai / Crédito: Divulgação/NOS Audiovisuais

Dinis participara do impopular conflito que pretendia impedir a independência de Angola. Essa luta da nação africana começou em 1961 e terminou em 1974, embora tenha sido imediatamente seguida por uma sangrenta guerra civil entre os guerrilheiros que haviam tomado o poder — quando o país deixou de ser colônia da nação europeia. 

O pai de Ronaldo havia viajado para uma guerra que já estava acabada, onde ele tinha como único objetivo sobreviver. Os homens vindos da Ilha da Madeira já sabiam que o Exército lusitano tinha perdido e que eles estavam lá apenas para entregar a ex-colônia para as vitoriosas forças rebeldes.  

De lá, os combatentes português foram levados de trem para Luso, de onde partiriam para variados postos, com ordens para impedirem diferentes facções rebeldes de lutarem entre si. Eles também receberam ordens para escoltar caminhões de comida para as estradas lotadas de minas. 

Apesar do batalhão de Aveiro não ter presenciado nenhum conflito, a insanidade começou a assolar os combatentes. Sob péssimas condições de estrutura, eles passaram a sofrer por conta de uma praga que varreu o campo e infectou milhares deles: a malária.  

Muitos ficaram doentes, sofrendo com calafrios, tremores e febre que os acompanhavam ao longo das semanas. Como se não bastasse, a comida não resistia a falta de refrigeração do transporte e apodrecia antes de chegar nas bases, o que os obrigava a caçar toda a vez que quisessem se alimentar. 

Outro ponto crítico era a qualidade da água. Sempre quente, ela era retirada do rio para uma reserva. Por lá, no entanto, não recebia qualquer tratamento antes de ser distribuída, sendo usada apenas para banho, na cozinha e na lavanderia. Nunca para consumo. 

O único líquido potável era uma cerveja local, a Cuca, que passou a ser consumida diariamente pelos lusitanos. Foi aí que Aveiro começou a destruir o seu corpo com o álcool. Treze meses depois, Dinis regressa a Portugal. Ele já não era o mesmo. 

O alcoolismo fatal 

O país europeu entrou em profunda crise econômica, cuja principal consequência foi o aumento do desemprego e da pobreza. Neste contexto, sem trabalho e com o olhar crítico da sociedade sobre os veteranos, o único local que Aveiro encontrou para passar os dias longe da realidade foram as tabernas da Ilha da Madeira. 

“Estávamos abandonados. Os veteranos de guerra não tinham dinheiro nem trabalho. Os amigos compravam-lhe bebidas. Ele não tinha dinheiro. Não comia bem”, explicou o amigo José Manuel Coelho à ESPN. 

Os poucos empregos que conseguiu foram informais, como a limpeza de bares e jardinagem. Mas, finalmente, o pai de Ronaldo começou a trabalhar em um clube da região, o Andorinha, onde cuidava dos uniformes dos jogadores.  

 José Dinis Aveiro quando esteve em Angola / Crédito: Divulgação/Arquivo Pessoal

Foi lá, inclusive, que Cristiano iniciou seu sonho de ser jogador de futebol. Porém, fora dos campos, era constantemente agredido por vários de seus companheiros de equipe, que zombaram do trabalho de seu pai e o chamavam de pobre. 

Aos 12 anos, o futuro craque se mudou sozinho para Lisboa, onde apostou tudo para tentar ser alguém na vida. O resto da história todos já conhecem. Porém, o que quase ninguém sabe é o que aconteceu com seu pai.  

Com o dinheiro que começou a ganhar, Cristiano esperava que sua família pudesse se reestruturar. No entanto, parte do valor enviado para eles era usado por seu pai para custear sua bebedeira. Quando o garoto começou a conquistar o mundo, atuando pelo Manchester United, da Inglaterra, o pior aconteceu.  

Em 2005, o fígado de seu pai parou de funcionar. Ronaldo pagou um avião privado para que ele fosse tratado na Inglaterra, mas já era tarde demais. Nada foi suficiente. A morte de José Dinis Aveiro ganhou as manchetes dos jornais na Terra da Rainha  

Cristiano teve que se despedir antes de conseguir concretizar algo que seu pai profetizou anos antes. "Meu filho vai ser o melhor jogador do mundo", disse Dinis certa vez, sem saber que o filho ganharia cinco bolas de ouro — sendo a primeira delas três anos depois de sua morte. 

Ao longo de sua carreira, o craque português foi empilhando títulos como se precisasse se provar para alguém. Como se o vazio deixado em sua infância pudesse ser preenchido com conquistas e glórias. Como se o espaço vazio em seu coração pudesse ser acalentado com as milhares de vozes que gritam seu nome.

Embora seja impossível substituir a perda de um pai, nada foi em vão. Cristiano Ronaldo segue com seu legado inspirando gerações, dando ao mundo do futebol e ao seus fãs aquilo que ele pouco teve: alguém em quem se espelhar.  


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