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Matérias / Hollywood

Por trás do glamour: a vida de Clara Bow, a primeira It Girl de Hollywood

A vida da controversa It Girl dos EUA — antes e depois da fama — foi marcada por episódios insólitos

Caio Tortamano Publicado em 08/05/2020, às 10h00 - Atualizado em 06/02/2024, às 15h34

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Clara Bow em imagem pessoal - Wikimedia Commons
Clara Bow em imagem pessoal - Wikimedia Commons

Nos critérios de Hollywood, uma It Girl pode ser definida como uma jovem — geralmente famosa — reconhecida por sua sexualidade e também pela forte personalidade. Entre elas, estava Clara Bow, tida como o primeiro sex symbol do cinema.

Sua vida, porém, não foi nenhum conto de fadas. Crescendo em uma família humide, Bow tinha certeza que sua mãe, Sarah, não amava seu pai, Robert, do jeito que ele a amava. Além disso, a mulher descrevia seu pai como um homem esperto e proativo, mas que apesar dessas características nunca teve sucesso em sua vida.

Desde que nasceu, em 1905, a família Bow mudou de endereço 14 vezes por conta dos problemas financeiros do pai de Clara por conta de sua falta de trabalho.

Sarah, por sua vez, foi diagnosticada com psicose, explica o The Independent. Com esses problemas, Clara teve que aprender a lidar com os surtos de sua mãe, isso ainda durante a juventude, retirando a parte lúdica da sua criação, tendo que ser introduzida muito cedo a um mundo obscuro.

Apesar do sonho de ser atriz de cinema, sua mãe repudiava o sonho dizendo que preferia ter filha morta a vê-la nas telonas Devido à psicose, Sarah demostrava comportamentos agressivos, e, certa vez, enquanto Clara estava dormindo, a garota acordou subitamente com sua mãe com uma faca em seu pescoço, explica a obra "A Star is Born: The Moment an Actress Becomes an Icon", de George Tiffin.

"Estava nevando. Minha mãe e eu estávamos com frio e fome. Estávamos com frio e fome há dias. Deitamo-nos nos braços um do outro, choramos e tentamos nos manter aquecidos. Foi ficando cada vez pior. Então, naquela noite, minha mãe... mas não posso lhe contar sobre isso. Só quando me lembro disso é que me parece que não posso viver", registrou Clara ao relembrar o episódio.

A filha conseguiu desviar de sua mãe e trancá-la em seu quarto. Depois, Robert a enviou para um sanatório, local onde morreria. Já o pai da jovem foi descrito por David Stenn, biógrafo, como abusivo. 

O pai encorajava a filha a investir nas atuações. Ele estava certo, a garota chegou a ganhar um concurso de novos talentos da revista Brewster, chamando a atenção de agentes de cinema. Certa vez, depois de falar com o diretor Elmer Clifton, ela soube de um papel em que era necessário uma "tomboy" (ou seja, uma menina que gostasse de atividades relacionadas a homens).

Clara, já adulta, ao lado de seu pai / Crédito: Wikimedia Commons

O filme mudo Down to the sea in ships (1949) marcou o começo da carreira de Clara, e contava a história do cotidiano de um grupo de caçadores de baleias em alto mar. A produção não contava com rostos famosos, e Clara se destacou.

A sua ascensão para o estrelato estava pronta. Ela recebeu uma oferta para se mudar do Brooklyn, em Nova York, e estrelar filmes em Hollywood. Bow deixou para trás o pai e o namorado (que era operador de câmera e a conheceu durante a filmagem do filme Grit).

Seu sucesso era absurdo: apenas em 1924 ela apareceu em oito filmes, e logo seu rosto era reconhecido em todos os lugares.

“Ela foi o primeiro símbolo sexual americano”, afirmou Stenn, conforme o The Washington Post. "As mulheres queriam ser ela e os homens queriam estar com ela. Ela tinha um calor e uma vulnerabilidade que agradavam a todos.”

Bow em cena do filme Dancing Mother (1926) / Crédito: Wikimedia Commons

Mas, quando estava por trás das câmeras e, principalmente, quando sua vida nas telas passou a ser a sua trajetória fora, as pessoas, que antes tinham ajudado Clara a crescer, passaram a ignorá-la.

Seu auge, durante os anos 20, não foram páreos para os rumores em torno de sua vida, e sua suposta promiscuidade. Bow, também, nunca teve um apoio por trás dela.

"Os estúdios estavam trabalhando com ela até a morte", explicou Elaine Shepherd, que produziu um documentário da BBC4 sobre a artista em 2012. "Ela tomava montes de pílulas primitivas para tirá-la da cama de manhã e fazê-la dormir à noite. Os executivos tentavam explorá-la o máximo possível, as revistas de fofocas escreviam as mentiras mais terríveis sobre ela e ela estava lidando com tudo isso sozinha, sendo uma mulher na casa dos 20 anos. Ela simplesmente achou isso muito estressante". 

A falta de afeto fez com que a famosa atriz somente se envolvesse com rapazes de maneira sexual, explicou Stenn, conforme o LA Times. Os costumes da época, porém, fizeram com que noivasse cinco vezes em quatro anos, explica o LA Times.

Cansada de Hollywood, o último filme de Bow foi lançado em 1933. Ela deixou os holofotes e passou a viver numa fazenda em Nevada com Rex Bell, seu marido. Até o final de seus dias, batalhou contra doenças mentais. Ela morreu aos 65 anos na Califórnia.


*Errata: A reportagem errou ao afirmar que Clara Bow foi casada cinco vezes. Na realidade, ela foi pedida em casamento em cinco diferentes momentos.