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Matérias / Egito Antigo

Por que os antigos egípcios caçavam crocodilos?

Quando a mumificação de animais se tornou um mercado importante no Egito Antigo, foi preciso buscar estratégias brutais para a obtenção de seus corpos

Isabela Barreiros Publicado em 10/12/2020, às 07h00

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Múmia de crocodilo do Egito Antigo - Divulgação - Porcier et al.
Múmia de crocodilo do Egito Antigo - Divulgação - Porcier et al.

O Egito Antigo é famoso por suas impressionantes técnicas de mumificação. Todos os mais importantes faraós da antiga civilização passaram pelo procedimento, o que os permitiu a preservação quase eterna. Mas não só eles eram transformados em múmias: dos mais pobres aos mais ricos, todos eram embalsamados.

Claro que existiam técnicas diferentes, algumas mais desenvolvidas que outras, mas, no final, a maioria das pessoas era submetida a esse processo após a morte. No entanto, não eram nem apenas os humanos. Até mesmo corpos de animais eram moldados como múmias, e muitas delas resistem ainda nos dias de hoje.

Ao longo da exploração do Egito, muitas múmias de animais já foram descobertas por pesquisadores. Os adorados gatos foram os principais, porém também foram identificados cavalos, leões, raposas, crocodilos, entre outros. A mumificação de bichos se tornou uma tradição tão forte quanto a de pessoas.

Crocodilo mumificado / Crédito: Wikimedia Commons

A religiosidade da época acreditava que existia uma vida após a morte, e que o espírito de um indivíduo retornaria para o seu corpo depois de passar por uma transição. Ou seja, ele deveria estar preservado para que pudesse receber a alma novamente. É por isso também que faraós eram enterrados com muitas riquezas e itens funerários, que os ajudariam a passar por esse processo.

A relação do pós-morte com os animais não era tão diferente. Os egípcios consideravam muitos como um intermédio entre os humanos e os deuses, e alguns eram até mesmo encarnações de tais divindades. Os gatos, por exemplo, estava presentes na mitologia egípcia e eram representados pela imagem da deusa Bastet, com cabeça de gato.

Os crocodilos também tinham papel importante na religião dos antigos. Eles estavam associados ao deus Sobek, que trazia fertilidade e proteção aos reis. Essa relação era expressa por meio da representação da divindade, que apresentava corpo de homem, mas cabeça de réptil. 

No entanto, como a prática de mumificar corpos de animais se tornou uma tradição, isso acabou se transformando em um “mercado”. Nem sempre as pessoas queriam esperar um bicho morrer para poder ter uma múmia de crocodilo, por exemplo, que era especialmente desejada pelos egípcios. 

Crédito: Divulgação - Porcier et al.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Paul Valéry, de Montpellier, na França, e publicado na revista científica Journal of Archaeological Science, revelou que os antigos faziam de tudo para poder obter tal corpo mumificado. As conclusões foram divulgadas em setembro do ano passado. 

A nova “indústria” fez com que fornecedores de múmias de animais se tornassem um fato no Egito Antigo, e para conseguir seu produto, eles usavam das mais variadas estratégias. Poderiam ter uma criação dos animais, para que eles servissem apenas para esse propósito, ou ainda coletavam as carcaças de alguns dos bichos que já tinham morrido na natureza.

Eles, poderiam, porém, usar uma técnica mais brutal. Uma múmia de crocodilo de mais de 2 mil anos foi encontrada por pesquisadores durante escavações arqueológicas realizadas no começo do século 20 na cidade de Com Ombo, no Egito. A recente pesquisa realizou uma espécie de autópsia virtual no corpo e revelou detalhes impressionantes.

No artigo, os cientistas escreveram: “A causa mais provável de morte é uma séria fratura no crânio que causou um trauma direto no cérebro. O tamanho da fratura, bem como sua direção e forma, sugerem que ela foi feita por um único golpe, provavelmente com um grosso taco de madeira”. 

Crédito: Divulgação - Porcier et al.

Foi possível concluir que o animal havia sido caçado naquele período, provavelmente morto com o intuito de ser transformado em uma múmia, artefato desejado por egípcios daquele período que apreciavam a técnica e sua relação com a religiosidade. De acordo com os especialistas, foi a primeira vez que tal evidência foi observada.

Uma das conclusões da pesquisa foi a de que o caçador golpeou a cabeça do animal e levou-o para mumificação logo depois. Esse trajeto aconteceu "muito rapidamente após a morte", o que fez com que se assumisse que os animais teriam sido caçados especificamente para virarem múmias. No entanto, ainda não se sabe ainda se esse foi um caso excepcional, ou se a prática de caçar crocodilos somente para mumificá-los era recorrente.

Para que a mumificação fosse realizada, o corpo foi tratado com óleos e resinas, e embrulhado em camadas de linho. Com a tecnologia da autópsia virtual, os arqueólogos identificaram restos de alimentos em seu estômago, como ovos de répteis, insetos, roedores e peixes. 

O crocodilo em questão era do sexo masculino e foi morto por meio da caça entre os seus 3 a 4 anos de idade. Ele também tinha cerca de um metro e meio de comprimento quando foi sacrificado. Atualmente, a múmia do animal está exposta no Museu das Confluências, em Lyon, na França.


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