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Matérias / Rui Pedro

Rui Pedro: O menino sequestrado em Portugal antes de Madeleine McCann

Desaparecido em Portugal, em março de 1998, caso Rui Pedro foi precedente do sumiço de Madeleine McCann

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 18/06/2020, às 14h30 - Atualizado em 25/02/2023, às 14h03

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Foto do menino Rui Pedro - Reprodução
Foto do menino Rui Pedro - Reprodução

O desaparecimento da jovem Madeleine, de apenas 3 anos, em 3 de maio de 2007, marcou para sempre não só a família dos McCann, mas como toda a sociedade portuguesa.

Amparados pela mídia, os pais da garota britânica lutam há 16 anos por uma resolução do caso — que recentemente ganhou novos capítulos após a polonesa Julia Faustyna, de 21 anos, criar uma conta no Instagram dizendo suspeitar ser a garota britânica que sumiu.

Madeleine McCann em comparação com Julia Faustyna/ Crédito: Reprodução

Contudo, antes mesmo de Madeleine nascer, outro caso de enredo parecido afetou a família Teixeira Mendonça: o desaparecimento do jovem Rui Pedro, de 11 anos. O sumiço ocorreu em 4 de março de 1998.

Apesar da enorme repercussão que teve na época, o menino jamais foi encontrado e o Estado português acabou sendo processado por “falhas gravíssimas” na investigação.

Em 2019, mais de duas décadas depois, foi declarada a morte presumida de Rui Pedro, que não está sendo mais procurado pela polícia. Porém, o mistério de seu desaparecimento perdura até os dias atuais.

O precedente de Madeleine McCann

Era por volta das 14h quando o pequeno Rui Pedro pegou sua bicicleta e pedalou até o local de trabalho de sua mãe, localizado perto da casa da família, em Lousada, no distrito do Porto.

O garoto havia ido pedir permissão para passar a tarde com seu amigo Afonso Dias, de 22 anos. Entretanto, o pedido foi negado e Filomena Teixeira disse-lhe para brincar em um terreno abandonado do lado de fora do escritório. Aquele seria o último diálogo entre mãe e filho.

O sumiço do menino só foi notado horas depois, quando o tutor do garoto ligou para os pais questionando o motivo dele não ter comparecido à aula das 17h. Desesperados, começaram a busca por Rui Pedro.

Rui Pedro ao lado de Afonso Dias / Crédito: Reprodução

Logo depois, a polícia foi acionada e Filomena informou sobre o pedido que o garoto lhe fizera mais cedo. Com isso, Afonso foi chamado para um interrogatório. Em um estado emocional visivelmente perturbado, ele disse que não sabia do paradeiro de Rui, mas sugeriu que a polícia “deveria fechar as fronteiras”.

Mais tarde, o primo do menino, João André Mendonça, contou à polícia que ele, o garoto e Dias tiveram uma conversa em que Afonso os convidara para irem encontrar uma prostituta, porém o jovem não havia comparecido devido à negativa a mãe.

Neste ponto, a polícia portuguesa já era criticada por dois motivos: pela demora em ter iniciado uma investigação e por diminuir a procura devido à falta de pistas confiáveis. Porém, o caso despertou tanto o interesse público que os policiais começaram a receber inúmeros telefonemas sobre um possível avistamento de Rui Pedro.

Os últimos passos de Rui Pedro

Mais tarde, a prostituta Alcina Dias confirmou que Afonso havia levado o jovem para encontrá-la e que o amigo teria pagado para ela fazer sexo com Rui. A meretriz afirmou que o garoto estava extremamente nervoso e chorando quando saiu do veículo, afirmando que ele havia sido obrigado a encontrá-la.

Alcina ainda acrescentou que tentou acalmá-lo e questionou se sua mãe sabia onde estava, ao qual disse que não. Em seguida, o garoto voltou ao carro de Afonso e os dois partiram para ele nunca mais ser visto.

Em setembro daquele mesmo ano, em uma operação internacional de pornografia infantil, a polícia recuperou 750 mil imagens e vídeos representando 1.263 crianças diferentes de um grupo ilícito conhecido como The Wonderland Club. Rui Pedro estava entre as 16 crianças que a polícia conseguiu identificar.

O pequeno Rui Pedro / Crédito: Reprodução

Apesar da pista, seu paradeiro jamais foi encontrado e a polícia suspeita que ele tenha sido assassinado por seus sequestradores após ter sido gravado sendo abusado por outros membros dessa rede de pedófilos.

Entretanto, quando o caso de Madeleine veio à tona, uma fonte anônima na Suíça ouviu um garoto dizer em um restaurante: "Eu também sou raptado. Sou de Famalicão e a mim ninguém procura". As autoridades portuguesas, porém, disseram que a pista não era consistente.

O julgamento de Afonso Dias

Em novembro de 2011, Afonso Dias foi levado a julgamento. A audiência ficou marcada por ser a primeira vez em que Alcina o reconheceu diante às autoridades. A meretriz, supostamente, tentou fazer seu depoimento aos policiais muito tempo antes, mas como ela não conseguia identificar Dias pelo nome, sua versão jamais foi ouvida.

No ano seguinte, ele acabou sendo absolvido por falta de evidências, mas, em 2014, acabou sendo julgado novamente, condenado a três anos de prisão por corrupção de menor, como resultado dele ter forçado Rui Pedro a se relacionar sexualmente com Alcina — mas jamais foi citado como responsável pelo desaparecimento do jovem.

Afonso Dias em entrevista/ Crédito: Reprodução/Video/RTP

O primeiro dia de Afonso em cárcere foi em 18 de março de 2015. Por lá ele ficou por dois anos, quando foi liberado por bom comportamento após cumprir dois terços da pena. Até hoje, Afonso Dias continua se declarando inocente em relação ao desaparecimento.

Críticas e controversas

A mãe de Rui Pedro, Filomena Teixeira, sempre alegou que a investigação sobre o desaparecimento do filho jamais foi conduzida da maneira correta, sendo que a polícia nunca investigou as pistas que recebeu, jamais ouviu o depoimento de vizinhos e até mesmo averiguou o carro de Afonso Dias — no qual o menino havia entrado. Ela também alegou que foi assediada sexualmente por um dos inspetores do caso.

Assim, Filomena decidiu agir por conta, ligando para hospitais e até mesmo viajando várias vezes para fora de Portugal, em busca do filho na Suíça. Quando, enfim, foram apontadas falhas na investigação, ela disse:

Serviu para constatar que o que eu dizia era verdade. Durante 13 anos, chamaram-me louca, e agora, passado este tempo todo, vêm dar-me razão: afinal, não estava louca, estava certa. (…) Sempre disse que eles estavam a ir pelo caminho errado, que não estavam a procurar, que não estavam a fazer nada...".

O advogado da família, Ricardo Sá Fernandes, completou a fala da mãe: "ficamos chocados com o que foi dito neste tribunal, tivemos conhecimento de que desde o primeiro momento os inspetores sabiam da existência da prostituta Alcina Dias, porém, nunca a ouviram formalmente e justificaram tal fato como um esquecimento."

O pai de Rui Pedro, Manuel Mendonça, acreditava que Afonso Dias poderia falar algo sobre o filho quando estava preso, mas, ao contrário disso, ele teve sua vida facilitada ao poder escolher ser colocado em uma cadeia que mais parecia um "hotel".