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Matérias / Personagem

Preso político desde 2001: a infernal saga de Dawit Isaak

Após publicar uma carta aberta ao governo da Eritreia, Dawit foi visto em público pela última vez em 2005

Ingredi Brunato Publicado em 20/12/2020, às 08h00

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Fotografia de Dawit Isaak - Divulgação/ Kalle Ahlsen
Fotografia de Dawit Isaak - Divulgação/ Kalle Ahlsen

A história do jornalista e escritor Dawit Isaak e da Eritreia, país onde ele nasceu, estão irremediavelmente entrelaçadas. Ele veio ao mundo em meio à Guerra de Independência da região contra o governo da Etiópia

Foi também por causa do conflito que decidiu deixar o país aos vinte e três anos de idade, indo tentar a vida na Suécia. Eventualmente, ganhou a dupla cidadania, mas ainda pretendia voltar para sua terra natal, o que fez seis anos depois, quando a Eritreia era, afinal, independente. 

Foi então que Dawit montou sua vida: casou, teve três filhos, e se tornou co-fundador do primeiro jornal independente do país, chamado “Setit”, onde também começou a escrever uma coluna. O nome foi dado em homenagem ao único rio do local que flui durante todos os meses do ano - em oposição a outros que tem períodos de seca. 

Segundo divulgado pelo site da UNESCO em 2017, o outro co-fundador do Setit, Aaron Berhane, explicou o nome do veículo dizendo que: “Queríamos que nosso jornal fluísse como um rio sem interrupção”.

Fotografia de Dawit Isaak novo / Crédito: Divulgação/ Kalle Ahlsen

A prisão 

Os desejos dos criadores do jornal, todavia, eram mais difíceis de serem realizados do que parecia inicialmente. Isso porque o conflito entre Etiópia e Eritreia foi retomado, obrigando Isaak a deixar seu país pela segunda vez, então levando sua família. 

Mais uma vez, ele se instalou na Suécia - porém apenas como medida temporária, nunca esquecendo sua nação de origem, ainda que ela tivesse seus problemas. Algo que ajuda a compreender esse aspecto de Dawit são os desabafos de seu irmão mais novo, Esayas Isaak, que também foram publicadas pela UNESCO:

"Tenho poucas memórias de infância de Dawit, já que ele é 10 anos mais velho que eu, mas quando eu era adolescente, ele era meu professor de idioma tigrínia aqui na Suécia. Ele costumava me repetir: 'Não se esqueça da sua língua, do seu país, das suas raízes".

Então, em 2001, apesar da situação instável de sua terra natal, o jornalista acabou voltando e se envolvendo em uma polêmica que custou sua liberdade. Ele, junto a outros colunistas do Setit e também políticos, publicou uma carta aberta ao governo da Eritreia. No documento, foram feitas diversas críticas à condução dos assuntos nacionais. 

A reação foi a pior possível: dez dos onze elaboradores da carta acabaram sendo presos.

A situação 

Isaak permanece até hoje, quase duas décadas depois, sem julgamento e sem possibilidade de ser visto por seus entes queridos. A última vez que foi avistado se deu em 2005, quando acabou sendo liberado para uma breve consulta médica. 

Ele havia sido hospitalizado também em 2002. De acordo com o Comitê para a Proteção de Jornalistas, essa vez teria sido devido à ferimentos causados por tortura, o que o governo negou - por outro lado, não oferecem nenhuma chance para os apoiadores do escritor verificarem qual seu estado. 

Ao longo dos anos, o governo da Suécia frequentemente foi criticado por não ter feito esforços mais amplos para libertar Dawit, que afinal também é um cidadão sueco. O país usou de 'democracia silenciosa' para tentar negociar a liberdade, porém, até o momento, não teve resultados promissores. 

Enquanto isso, a Eritreia diversas vezes deu a entender que soltaria seu prisioneiro, apenas para voltar atrás depois, conseguindo inclusive diversos ganhos políticos e financeiros no decorrer das últimas duas décadas por manter essa soltura em suspenso. 

Apelos 

Já ocorreram inúmeras campanhas pela libertação do escritor, envolvendo organizações de relevância e celebridades. Inclusive, Isaak foi o primeiro a receber o título de “prisioneiro de consciência” da Anistia Internacional. O termo se refere a pessoas encarceradas devido a sua raça, religião, orientação sexual ou opiniões políticas, com o jornalista se encaixando no último caso. 

Em 2017, ainda, a UNESCO lhe concedeu o Prêmio Mundial de Liberdade de Imprensa, o que mais uma vez virou os olhos do mundo para a Eritreia. Infelizmente, também sem obter mais informações sobre o paradeiro de Dawit