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Matérias / Coronavírus

Psicanalista reflete sobre trauma da pandemia: 'Não se incentiva economia com mortes'

Em entrevista ao site Aventuras na História, Joel Birman, que lançou recentemente o livro "O Trauma na Pandemia do Coronavírus", fala sobre os efeitos da pandemia

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 06/02/2021, às 09h00

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Imagem ilustrativa - Imagem de Engin Akyurt por Pixabay
Imagem ilustrativa - Imagem de Engin Akyurt por Pixabay

Daqui a um pouco mais de um mês, em março, fará um ano desde que a pandemia do coronavírus atingiu o Brasil com os primeiros esforços de quarentena, de fechamento de estabelecimentos não essenciais, distanciamento social, uso de máscaras e utilização do álcool em gel - elementos que, hoje, fazem parte da normalidade. 

O impacto negativo crescente na sociedade é um fato inegável. Para se aprofundar nessa questão, o site Aventuras na História entrevistou o psicanalista Joel Birman, que lançou em dezembro de 2020 o livro “O Trauma na Pandemia do Coronavírus: Suas dimensões políticas, sociais, econômicas, ecológicas, culturais, éticas e científicas”. 

 Consequências psíquicas 

De acordo com o especialista, a pandemia não só está provocando efeitos psicológicos agora, como também produzirá consequências de longo prazo, que se estenderão para além do fim dela. 

Birman aponta que a angústia provocada pelo futuro incerto, a melancolia causada pelo distanciamento social, o aumento da violência doméstica contra mulheres e crianças e o aumento do consumo de drogas, álcool e comida, por exemplo, são todos sintomas do trauma do coronavírus. 

Joel Birman em foto /Crédito: Divulgação

Já no futuro precisaremos resolver a questão ainda mais grave de como lidamos com as vidas que foram perdidas nesse período: 

“Essa mortandade provocada pela pandemia faz com que os mortos não tenham rituais fúnebres adequados. Somente duas pessoas acompanham o caixão até o enterro, e também ocorrem cenas horrorosas, como cadáveres empilhados dentro de caminhões de frigorífico. Todo esse cenário que temos com os mortos impede que a gente faça uma experiência completa de ritual funerário”, explicou o psiquiatra

De acordo com uma tese de Freud exposta em sua obra “Luto e Melancolia”, esses rituais seriam importantes para dar início ao processo de luto - dessa forma, quando eles não acontecem, as pessoas ficam presas à melancolia. Essa é uma das teorias usadas por Joel para analisar o horizonte que se aproxima. 

Fotografia de Freud, o Pai da Psicanálise / Crédito: Wikimedia Commons

“Encaramos no Brasil e vamos continuar a perceber no futuro próximo um processo muito grande de melancolização coletiva por conta desses mortos que morreram de maneira violenta e genocida. Inclusive, o sobrevivente também sente muita culpa em relação aos que se foram, e isso é intensificado por conta desse processo de luto que não foi realizado”, concluiu ele. 

Economia e política 

O coronavírus não provocou apenas transformações de cunho psicológico, todavia, de forma que Birman sentiu a necessidade de realizar uma análise multidimensional em seu livro. 

Ainda ocorre, por exemplo, muita preocupação a respeito de como a economia brasileira será afetada pela quarentena.

Esse conflito entre priorizar o mercado e priorizar o distanciamento social, que gerou debate na sociedade durante os primeiros meses de pandemia, também foi 'longamente abordado' pelo especialista em sua obra. 

“Eu sustento a seguinte ideia: essa é uma falsa oposição, no sentido de que existe já, em decorrência da experiência que acumulamos das antigas epidemias e pandemias, o conhecimento que o sucesso da economia supõe a resolução da questão sanitária. Não existe oposição possível, não existe a possibilidade de você incentivar a economia com a morte de pessoas”, afirmou o psicanalista. 

“Então, na verdade, essa oposição entre quarentena e economia remete à outra oposição que é entre os defensores do discurso médico científico e os negacionistas. O Brasil, juntamente com os Estados Unidos, foi um dos países que mais negou o discurso da ciência, e, não é à toa, esses dois são os que têm os maiores números de mortos pela pandemia”, observou também Joel

Entretanto, segundo o psiquiatra, esse cenário está mudando. Isso porque a eficácia do discurso médico e cientificamente orientado foi comprovado por diversos acontecimentos no decorrer dos últimos meses, como o desenvolvimento de uma vacina em tão pouco tempo. 

“Inventar múltiplas vacinas no espaço de dez meses para dar conta da pandemia, quando anteriormente na história das vacinações você levava de cinco a dez anos para criar um imunizador, mostra uma potência enorme do discurso da ciência”, disse ele, que está otimista em relação à restauração da fé do brasileiro na comunidade científica. 

Esse novo consenso favorável às recomendações da medicina também acarreta, naturalmente, consequências políticas, uma vez que o Governo Federal adotou uma postura de oposição em relação à ciência em sua resposta à pandemia. 

“Eu acho que as manifestações da sociedade civil contra essa mortandade enorme do Brasil vão atingir seriamente a credibilidade do governo Bolsonaro”, indica Birman

Educação 

Fotografia de sala de aula vazia / Crédito: Divulgação/ Pixabay 

O último aspecto abordado pelo psicanalista em conversa com a redação do site Aventuras na História foi a questão do fechamento das escolas durante esse período, aspecto da crise generalizada que vivemos que para ele não recebeu importância suficiente. 

“A escola, além de ser um espaço de aprendizado, é um espaço de socialização, então penso que as crianças estão pagando muito caro por isso”, observou o especialista. “Acredito que o Brasil deveria ter encontrado um meio de permitir a volta das crianças às escolas, para que as crianças possam ter a possibilidade de saúde mental de se socializarem, além de não terem seus processos de aprendizado afetados.”

Joel comentou também que nos países europeus ocorreu a volta às aulas presenciais durante os períodos mais brandos da pandemia - isso, claro, aplicando todo um sistema de proteção, como o uso de máscaras, álcool em gel, distanciamento e quantidade limitada de estudantes por sala. 


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