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Matérias / Estados Unidos

Quais as chances de Trump ser reeleito?

Apesar dos últimos três presidentes americanos terem conseguido um segundo mandato, apenas 17 dos 44 eleitos na história do país conseguiram tal façanha

Fabio Previdelli Publicado em 06/02/2020, às 12h06

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Donald Trump durante coletiva em Dallas - Getty Images
Donald Trump durante coletiva em Dallas - Getty Images

Após a anulação do processo de impeachment, o maior questionamento sobre o futuro presidencial de Donald Trump é: ele está a caminho da reeleição? Essa pergunta pode até parecer meio óbvia e retórica, afinal, grande parte das pessoas acredita que sim. No entanto, essa parcela que crê numa continuidade republicana acabou esquecendo de um fator muito importante: a História.

Analisando os últimos 30 anos, a máxima continuidade parece ser concreta, afinal de contas, Bill Clinton, George W.Bush e Barack Obama — os últimos três presidentes americanos —, não encontraram dificuldade para serem reeleitos.

"O poder da incumbência não deve ser desprezado", alerta Margaret O'Mara , professora de história na Universidade de Washington, que, atualmente, estuda a política presidencial e a interseção dos poderes econômicos e políticos.

Barack Obama foi o último presidente americano a ser reeleito / Crédito: Wikimedia Commons

Mas, ao olharmos para trás, é possível perceber que nem sempre apostar em um segundo mandato era uma conclusão segura. Apenas 17 dos 44 presidentes americanos foram reeleitos, uma taxa de sucesso de aproximadamente 38%.

A tendência para segundos mandatos nos últimos anos não é algo casual ou aleatório, mas uma consolidação da força do Poder Executivo, diz O’Mara — que anteriormente era consultora de políticas do então vice-presidente Al Gore.

“Acho que o que mudou foi que a própria presidência ficou mais poderosa — muito mais que os fundadores pretendiam”, explica. “Uma das razões pelas quais não podemos lembrar muito sobre Rutherford B. Hayes [19º presidente americano] ou Benjamin Harrison [23º] é que a presidência não parecia algo tão grande na época. Os partidos, o Congresso e os tribunais tinham muito mais peso há 100 ou 150 anos — e os presidentes eram figuras menos imponentes, com algumas exceções, sendo Lincoln um deles”.

As circunstâncias mudaram no século 20, quando presidentes, que vão desde Roosevelt e Eisenhower até Reagan e Obama, aproveitaram seus poderes de comandantes, o espaço concedido pela mídia de massa e um Congresso cada vez mais fragmentado — e, portanto, mais fraco — para expandir o alcance de suas influências.

A capacidade de moldar o ciclo noticioso é algo essencial e é uma área que Trump, por mais que ame ou odeie, se destaca. “O presidente Trump demonstrou com uma clareza assustadora como os presidentes dominam as narrativas nacionais e da mídia; nós os vemos ou ouvimos diariamente, no caso de Trump, muitas vezes a cada hora”, observou Aaron David Miller, membro sênior do Carnegie Endowment for International Peace, em um ensaio recente intitulado The Power of Incumbency (ou, O Poder da Incumbência, em tradução literal).

Dwight D. Eisenhower, ex-presidente americano / Crédito: Wikimedia Commons

Outro ponto que pode ajudar Trump a superar essa probabilidade histórica pouco favorável é a economia. E neste ponto, ele está em vantagem. "É interessante que a América moderna valorize tanto a personalidade, o caráter e a conduta presidenciais quando se fala em candidatos, mas, ao mesmo tempo, as pessoas votam rotineiramente com base na economia do país", disse O'Mara.

Superado o processo de impeachment, que poderia colocar um enorme ponto de interrogação no jogo da reeleição, há outro fator que pode colocar uma incógnita no segundo mandato de Trump: o conflito no Irã, que, embora pareça ter cessado, próximos capítulos podem se desenrolar em 2020.

Embora a política externa raramente desempenhe um papel decisivo nas eleições presidenciais dos EUA, ele não é um agente inédito. Em 1968, por exemplo, a deterioração da situação no Vietnã prejudicou as chances de reeleição de Lyndon Johnson e provocou violentos protestos anti-guerra na Convenção Nacional Democrática de Chicago.

No lado republicano, Nixon, um ativista falho, mas sagaz, superou os principais desafios de Reagan, Nelson Rockefeller e George Romney. Embora a economia tenha sido dinâmica, a discórdia sobre a guerra acabou provando ser um albatroz político demais para o vice-presidente Hubert Humphrey, e Nixon venceu.

Pode até não se dizer que o melhor cenário para os democratas seria encontrar sua própria versão de Nixon, mas é evidente que cada dia que passa, os eventos estão ocorrendo mais rapidamente e uma força de oposição se deteriora.

 O'Mara diz que o principal ponto a ser observado em 1968, é o quão verdadeiramente insano eram os eventos que alteravam o cenário político, já que um novo fator se desenrolava quase que semanalmente — que iam desde a Primavera de Praga e a Ofensiva do Tet, até os assassinatos de Martin Luther King. Jr. e Robert Kennedy. 

Martin Luther King Jr. durante discurso / Crédito: Creative Commons

"Podemos dizer que aqui estão as regras, os padrões, os precedentes históricos, mas você nunca pode prever o que acontecerá", disse O'Mara. “E, especialmente, em um momento como esse, não há analogias claras”.