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Matérias / Brasil

Quais são as origens do forró?

Conhecido por todo brasileiro, ritmo tem origens e características múltiplas

Joseane Pereira Publicado em 15/04/2019, às 11h41

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Forró sertanejo - J. Borges - Reprodução
Forró sertanejo - J. Borges - Reprodução

O forró é um ritmo pelo qual é muito fácil se apaixonar. Famoso por animar festas juninas e bailes temáticos conquistando adeptos em todo o país, o ritmo a princípio parece simples, com uma base composta por apenas três instrumentos: triângulo, zabumba e acordeão. Mas a junção desses instrumentos gera canções das mais variadas, que levam seus adeptos a um infinidade de passos de dança. Conheça agora as origens desse ritmo tipicamente brasileiro!

Xilogravura / Wikimedia Commons

Origens da palavra

A palavra "forró" tem origens variadas. Uma das mais plausíveis é que sua origem esteja na língua Bantu, falada por mais de 400 etnias da África Subsaariana, que chegou ao território brasileiro com as levas de escravizados da região da Nigéria, principalmente durante o século 19. Os escravizados eram direcionados principalmente às regiões do Rio de Janeiro e do sertão nordestino, primeiro em fazendas de produção de cana de açúcar e, posteriormente, para produção de algodão. Além das contribuições linguísticas, os povos Bantu trouxeram hábitos culinários e religiões como o Candomblé, moldando a cultura brasileira através da resistência de suas tradições. "Forró" seria derivado da palavra forrobodó, que significa confusão, farra, arrasta-pé, desordem. Outras palavras de origem Bantu são, por exemplo, tanga, marimbondo, chuchu e fubá.

Outra hipótese para o surgimento da palavra vem com a implementação de ferrovias em pequenas cidades do interior nordestino, de fins do século 19 ao início do 20. Com a justificativa de escoar a produção agropecuária das fazendas interioranas (majoritariamente açúcar, algodão e gado), a construção das linhas férreas alterou e muito a vida da população local -- tanto pela obrigatoriedade de abandonarem suas terras quanto pelo papel de mão de obra barata colocado para os sertanejos. Na época, quem dominava a construção das estações era o Império Britânico, com companhias como a Alagoas Railway de 1873 e The Great Western Brazil Railway, de 1900. Levas de ingleses migravam ao Nordeste para liderar a construção das vias, e como diversão costumavam fazer festas fechadas à população local. As poucas festas liberadas tinham nas portas o termo "For All" (para todos), sendo "forró" uma variação na pronúncia dessa expressão.

Estação ferroviária de Caruaru - PE, início do século 20 / Reprodução

Os instrumentos

Os três instrumentos que caracterizam o forró são uma variação de instrumentos europeus e africanos. O triângulo já era utilizado em orquestras europeias desde o século 17, vindo para o Brasil no período colonial por meio das Folias do Divino de origem portuguesa, onde era considerado um objeto sagrado por representar a Santíssima Trindade. Tanto a festa como o instrumento foram incorporados à cultura brasileira, principalmente nordestina, dando origem às festas do Divino Espírito Santo e a diversos ritmos musicais.

A zabumba, instrumento de percussão que confere o grave às músicas de forró, tem origem Bantu e era muito utilizada por povos da região do Benim, na Nigéria, com o objetivo de se comunicar à distância, sendo introduzida no território brasileiro desde o período colonial. O estado do Pernambuco é consagrado como a terra dos grandes mestres da Zabumba, que conservaram as técnicas de produção e uso do instrumento, inicialmente confeccionado com o couro de bois ou cabras.

Já o acordeão tem origens muito antigas: seu uso é citado na história da China (instrumento chamado Cheng, de 2700 a.C.) e da Rússia (utilizado em canções melancólicas da Rússia medieval). Trazido ao sul do Brasil por imigrantes portugueses, espanhóis, alemãos e italianos, o instrumento se popularizou no início do século 20 e, chegando no Nordeste, passou a ser conhecido como sanfona e compor diversas manifestações culturais. Seu maior expoente é o músico Luis Gonzaga, que popularizou o uso do acordeon nas músicas nordestinas.

Luiz Gonzaga em 1957 / Wikimedia Commons

Tal foi a mescla cultural que originou esse ritmo tão brasileiro, também chamado de arrasta-pé, que se espalhou por todo o país com a imigração de grupos nordestinos durante o século 20. Portanto, da próxima vez em que escutar um forrozinho em alguma festa brasileira, lembre-se da carga cultural que esse ritmo carrega -- possibilitando o entendimento sobre a história e as manifestações culturais de nosso país.