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Matérias / Religião

Quem foi São Jorge?

Dele só se conhecem lendas, mas isso não impediu que se tornasse um símbolo universal

Fábio Marton Publicado em 23/04/2019, às 07h00

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Sobre o dragão não há dúvidas, mas será que o santo existiu? - Reprodução
Sobre o dragão não há dúvidas, mas será que o santo existiu? - Reprodução

São Jorge é pop. Ele é provavelmente o terceiro santo mais popular do catolicismo e cristianismo ortodoxo, atrás da Virgem Maria e seu conterrâneo e contemporâneo São Nicolau de Mira – mas só porque esse vem a ser o Papai Noel e conta com o apoio da Coca-Cola. São Jorge é padroeiro de Portugal, Inglaterra, Canadá, Alemanha, Grécia, Lituânia, Etiópia, Malta, Palestina e (essa é fácil) Geórgia.

O Rio de Janeiro pode ter como padroeiro São Sebastião, mas o santo do coração é o Jorge – um pouco por causa da Umbanda, que relaciona o santo ao orixá Ogum. E não nos esqueçamos do Corinthians. 

Santo guerreiro, nascido na Capadócia, morto pelo imperador Diocleciano, matador de dragão, ele sangrava leite, fez imagens e exércitos pagãos explodirem, levantou um homem da tumba para batizá-lo, foi cortado em pedaços, carbonizado, enterrado e ressuscitou. É, as lendas vão longe.

Mas tudo o que você leu depois da palavra “santo” é incerto. Sabemos que São Jorge era popular no século 5, e que já era mais lenda que história: em 495, quando o papa Gelásio 1º afirmou que são Jorge “é desses santos cujo nome é justificadamente reverenciado entre os homens, mas cujas ações apenas Deus conhece”.

Primeiro, talvez ele não fosse da Capadócia, mas de Lod, Israel. Lá fica sua tumba, que é reverenciada desde o século 5. Segundo, talvez nem fosse guerreiro – existiu um Jorge da Capadócia bem documentado, mas esse foi o bispo de Alexandria (Egito) entre 356 e 361. Um herege que dizia que rejeitava a Trindade, acabou linchado pela população, mas foi considerado mártir entre outros hereges.

No século 4, o livro História Eclesiástica, de Eusébio, fala dos massacres do imperador Diocleciano (244-311). De 303 até sua morte - que, curiosamente, tem data exata, 23 de abril de 303 - o imperador fez a última perseguição aos cristãos, na qual mais de 3 mil foram executados. Entre seus decretos, estava a conversão forçada dos soldados de volta ao paganismo.

Eusébio cita um homem “de altíssima honra” que rasgou a ordem e foi executado, em Nicomédia (atualmente Izmit, a 100 km a oeste de Istambul). O autor não dá nome nem patente ao mártir, mas, tradicionalmente, essa é a versão mais “histórica” para São Jorge, que ele era um comandante da cavalaria de Diocleciano – ainda que os cristãos da Palestina, com a tumba logo ali, discordem.

Salve, Jorge!

Wikimedia Commons

A lenda do dragão se passa na Líbia, no norte da África. Pagãos da cidade de Selene conviviam com um dragão no pântano, apaziguando o bicho com duas ovelhas por dia – quando isso falhava, só com sacrifício humano, determinado por loteria. Um dia, foi sorteada a filha do rei – mesmo com promessa de toda a riqueza de seus cofres, o povo insistiu, vestiu a princesa de noiva e a deixou amarrada no pântano.

São Jorge, de passagem, topou com a moça e esperou o dragão (em algumas versões o animal é um crocodilo alado). Quando o dragão apareceu, o santo o acertou com a lança, o imobilizou e usou o cinto da princesa como coleira.

Eles chegaram na cidade com seu bicho de estimação, o povo se apavorou e São Jorge prometeu que mataria a fera se eles se convertessem ao cristianismo. O povo topou e assim, não só São Jorge inaugurou um novo ramo da fé, como uma imortal tendência em histórias de fantasia medieval.