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Matérias / África

Racismo na corte e protestos: o príncipe africano que abdicou do trono para se casar com britânica

A história de amor entre Seretse Khama, futuro rei da tribo Bamangwato, e Ruth Williams enfrentou obstáculos

Vanessa Centamori Publicado em 02/05/2020, às 08h00 - Atualizado às 21h00

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Seretse Khama e Ruth Williams - Wikimedia Commons
Seretse Khama e Ruth Williams - Wikimedia Commons

Em junho de 1947, a britânica Ruth Williams acompanhava sua irmã mais nova, Muriel, em uma noite de celebrações missionárias, na Nutford House, da Universidade de Londres. Lá foi apresentada a um rapaz, estudante de direito em Oxford. O universitário logo chamou a atenção da garota. 

"Vi um africano alto, bem construído e sorridente, com dentes maravilhosos, ombros largos e maneiras perfeitas", relatou Williams, mais tarde, segundo o The Telegraph. A britânica rapidamente percebeu que compartilhava com o belo moço um interesse comum no jazz. Foi amor à primeira vista. 

Mas mal ela sabia que aquele era Seretse Khama, o futuro rei da tribo Bamangwato, do  protetorado britânico de Bechuanalândia, no sul da África. O príncipe estava predestinado a um futuro grandioso como rei.

Depois de completar o curso de direito, ele deveria voltar para o reino africano e casar-se com alguém da sua etnia para ser coroado líder. Ficou claro a partir daí que tratava-se de uma paixão quase impossível. 

O príncipe e a britânica / Crédito: Divulgação / Youtube 

Mas Seretse não deixou de se animar e correspondeu aos sentimentos da moça branca. “Eu conheci uma garota e acho que você deveria conhecê-la! Alguém que eu gostaria para ser minha esposa", afirmou o príncipe, para seu amigo Charles Njonjo, logo após conhecer a britânica. 

Racismo 

Três meses após a reunião missionária em Londres, Seretse resolveu tomar coragem e convidou Ruth para sair. Ligou para ela, que aceitou prontamente o convite. Eles saíram juntos então diversas vezes. 

Porém, o namoro inter-racial, em plena década de 1940, enfrentou alguns obstáculos. Ruth passou a ser chamada de "azeda" por ser branca e estar saindo com um homem negro. Os amigos dos pais dela até atravessavam a rua para evitar conhecê-la.

Por outro lado, o tio de Seretse, que havia o criado desde pequeno, também desaprovava a união com a britânica. Tshekedi Khama não admitia que um chefe tribal tivesse uma noiva branca.

Porém, isso de fato ocorreu, superando todo o preconceito: em 1948,  Ruth finalmente pôde usar véu e grinalda. Seretse obteve uma licença de casamento civil e um contrato de núpcias para casar-se com a moça. As trocas de alianças foram feitas. Mas, isso causou comoção e uma polêmica internacional imensa. 

Seretse Khama / Crédito: Divulgação / Youtube 

Casamento 

Uma vez casada, Ruth foi deserdada pela família. Em Londres, o casal também não conseguia encontrar casas para morar, pois poucos proprietários queriam “demonstrações de afeto inter-raciais” em suas propriedades. O tio do príncipe, que passou a reinar Bamangwato no lugar dele, até ameaçou lutar até a morte contra o sobrinho, caso ele trouxesse a esposa até Bechuanalândia. 

Houve protestos no país vizinho à região, a África do Sul, onde os casamentos inter-raciais eram proibidos pelo apartheid. Por outro lado, o governo britânico estava extremamente preocupado com o que o matrimônio dos dois faria com as relações internacionais entre o Reino Unido e o país africano.

A nação era vizinha de Bechuanalândia, reino que aprovou na época uma lei contra o ‘casamento misto”. O premiê britânico, Winston Churchill, também desaprovou a união, mas disse que o casal era corajoso.

Seretse Khama / Crédito: Wikimedia Commons 

Exílio 

Em 1953, o Reino Unido declarou o exílio do casal. No mundo todo, a imprensa cobria aquela história de amor e preconceito com grande ânimo. Inúmeros protestos em solidariedade a Seretse e a esposa eclodiram. Em 1956, a dupla pôde finalmente viver em Bechuanalândia.

Isso pois assumiu a liderança um novo ministro de relações exteriores, que adotou uma nova postura contra o racismo. Ainda assim, o príncipe teve que renunciar seus direitos na monarquia. Mais de uma década depois, em 1965, foi eleito primeiro-ministro.

Casal é representado no filme Um Reino Unido (2016), da diretora Amma Asante

No ano seguinte, quando a região teve sua independência do Reino Unido e passou a se chamar Botsuana, Seretse se tornou o primeiro presidente do país e Ruth, a primeira-dama.

O ex-príncipe foi reeleito como mandatário até 1979 e morreu em 1980. Em 2016, a história dele e Ruth Williams foi para o cinema, por meio do filme Um Reino Unido, da diretora Amma Asante. Por conta do racismo, mesmo sem Seretse ter jamais assumido o trono como vossa alteza real, o amor, no fim das contas, foi quem reinou. 


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