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Matérias / Personagem

George e Willie Muse, os irmãos albinos conhecidos como Eko e Iko

Quando ainda eram crianças, os dois garotos foram raptados pelo circo, onde passaram a ser tratados como aberrações

Pamela Malva Publicado em 21/04/2021, às 08h00

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George e Willie, já no circo - Divulgação
George e Willie, já no circo - Divulgação

Era um dia comum em outubro de 1927. Os irmãos George e Willie Muse estavam cercados por uma multidão curiosa, que os assistia enquanto os dois tocavam seus instrumentos. Com longos dreadlocks, os jovens albinos atraiam muita atenção.

Entre os muitos espectadores, Harriett Muse acompanhava uma cena que imaginou nunca mais ter a oportunidade de presenciar: seu dois filhos juntos, vivos e bem. Ela não colocava os olhos nos meninos há 13 anos e não poderia estar mais emocionada.

A mulher irrompeu entre o círculo de pessoas que se formava em torno dos jovens. “Aí está nossa querida mãe”, teria dito George ao seu irmão. “Ela não está morta!” Os dois, então, largaram os instrumentos e correram até os braços saudosos da mulher.

Acontece que, anos antes do encontro, George e Willie desapareceram de sua cidade natal e, após serem raptados, foram transformados em atrações de circo. Ao lado de mulheres barbadas, gigantes, anões e outras 1,6 mil pessoas, tornaram-se Eko e Iko.

Retrato de George e Willie / Crédito: Divulgação

O começo de uma saga

Duas versões sobre o sequestro dos irmãos Muse são consideradas como verdadeiras por entusiastas. A primeira delas trata de um sequestro, pura e simplesmente. Segundo tal teoria, os meninos teriam sido capturados por um caçador de aberrações.

Aos 6 e 9 anos, respectivamente, George e Willie trabalhavam em um campo de tabaco quando foram vistos por James Herman "Candy" Shelton, em meados de 1899. Os meninos moravam com os pais no Condado de Franklin, em Virgínia, nos Estados Unidos.

Naquela época, Candy buscava por atrações tão atrativas quando os gêmeos siameses da Tailândia, ou os irmãos anões do circo de P.T. Barnum. Por isso, imaginou ter encontrado seu pote de ouro quando viu as duas crianças albinas.

Uma segunda teoria, no entanto, acredita que a própria Harriett teria entregado seus filhos ao circo, a fim de poupá-los da sociedade racista e segregacionista que se instalava nos Estados Unidos. só então, os dois teriam sido sequestrados por Candy.

Fotografias de George e Willie quando já estavam no circo / Crédito: Divulgação

A vida na estrada

Logo que chegaram ao circo Ringling Brothers, George e Willie receberam os apelidos de Eko e Iko e descritos como "canibais do Equador com cabeças de ovelhas". Nos posteres de divulgação, eram chamados de "homens-macaco" e "ministros de Daomé".

Incrivelmente sensíveis à luz, os irmãos albinos eram obrigados a deixar que seus dreadlocks crescessem. Durante as apresentações, portanto, tinham de permitir que seus cabelos fossem puxados por um público branco, curioso e preconceituoso.

Por esses e outros motivos, as presentações de George e Willie eram extremamente lucrativas. Na época, um espectador chegava a pagar US $ 30 por uma foto com os dois. Os irmãos, é claro, nunca viram a cor do dinheiro que ganhavam no circo.

George e Willie ao lado de seus pais / Crédito: Divulgação

Um fenômeno

Por anos, os irmãos Muse foram considerados uma atração. Eles eram diferentes de todos os outros negros tratados como aberrações e conquistavam o público com sua pele clara e músicas alegres — pelo menos para aqueles que assistiam aos shows.

Nesse momento, jornais e tablóides já diziam que John Ringling, dono do circo, havia encontrado George e Willie flutuando na costa de Madagascar. Pouco sabiam os espectadores intolerantes que aqueles homens enjaulados eram seus conterrâneos.

Mesmo que em condições questionáveis, os dois irmãos seguiram se apresentando por anos a fio. Vestiam as roupas que eram obrigados a vestir e viajavam pelo país, ganhando um dinheiro que nunca poderiam aproveitar por conta própria.

Willie, o showman Al G Barnes e George, respectivamente / Crédito: Divulgação

O começo de uma luta

Naquele dia em outubro de 1927, quando reencontraram sua mãe, os dois homens já estavam mais do que acostumados com a vida do circo. Haviam sido sequestrados, mas já fazia muito tempo e não tinham mais para onde ir.

Quando colocou os olhos nos seus meninos, no entanto, Harriett decidiu que deveria fazer alguma coisa por eles. Trabalhando como doméstica e lavadeira em Roanoke, na Virgínia, ela descobriu, apesar de analfabeta, que seus filhos estavam na cidade.

Tratou de encontrar George e Willie e, daquele dia em diante, lutou pela liberdade dos jovens. Procurou pelo respaldo legal e ergueu seu punho flamejante até seus últimos dias. Conseguiu reinvidicar até mesmo uma parcela do salário das apresentações dos meninos e comprou uma casa onde eles pudessem morar quando estivessem livres.

Em 1942, entretanto, Harriett morreu, antes que pudesse assistir a tão esperada justiça acontecendo. Durante anos, George e Willie continuaram se apresentando por todo os Estados Unidos, além do exterior, até se aposentarem, em meados de 1950.

Por fim, os irmãos tornaram-se proprietários da casa que sua mãe comprou e por lá tiveram suas próprias famílias, sendo reconhecidos como dois dos poucos negros donos de terras afro-americanas. George morreu em meados de 1972, enquanto Willie viveu intensamente até os 108 anos, falecendo apenas em 2001.


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