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Matérias / Brasil

De disputado a abandonado: O curioso palacete centenário da Avenida Paulista

Construído à moda francesa pelo barão do café Joaquim Franco de Mello, seus herdeiros enfrentaram uma longa luta judicial pelo local

Vanessa Centamori, atualizado por Wallacy Ferrari Publicado em 04/04/2020, às 17h00 - Atualizado em 07/02/2023, às 14h20

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Palacete Joaquim Franco de Mello em fotografia recente - Divulgação / Google Street View
Palacete Joaquim Franco de Mello em fotografia recente - Divulgação / Google Street View

O Palacete Joaquim Franco de Mello chama atenção e desperta muita curiosidade nos transeuntes que passam na Avenida Paulista, em São Paulo. Acontece que o local, que fica no número 1919 da avenida, tem uma histórica muito rica. Isso se nota só de ver a sua fachada imponente, de arquitetura típica da Belle Époque francesa.

As influências da França são provenientes também do período do rei Luís XV e marcam os enfeites e o caixilho das janelas, além de uma janela de telhado renascentista. Mais conhecido como o Casarão Abandonado da Paulista, o edifício data de 1905.

Na época, a região da atual avenida ainda era palco para a alta sociedade - lá estavam as elegantes e grandiosas mansões dos barões do café, além de indústrias de comerciantes paulistanos. 

Naquela imensidão de mansões, o casarão foi erguido, graças ao português Antônio Fernandes Pinto. Porém, o construtor ficou insatisfeito e foi até a França, buscar um arquiteto que pudesse refazer o imóvel a seu gosto. 

Número do Palacete Joaquim Franco de Mello / Crédito: Wikimedia Commons 

O projeto ganha vida

A mansão acabou sendo reinaugurada em 1912. Em 1921, o local passou por mais uma reforma e foi ampliado, chegando a ter 35 cômodos diferentes espalhados por 600m² de área. 

Na década de 1930, passou a morar no casarão a família Franco de Mello, composta pelo coronel e rico agricultor, Joaquim, e sua esposa, Lavínia, além de seus três filhos Raul, Raphael e Rubens Franco de Mello

Detalhe da arquitetura do Palacete Joaquim Franco de Mello / Crédito: Wikimedia Commons 

Tombamento 

O prédio onde viveram os Franco de Mello foi tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de São Paulo em 1992. A família não gostou nenhum pouco da decisão. Alegou que o tombamento desvalorizou o imóvel. Assim, a família exigiu na Justiça a expropriação do terreno, como informou o portal Jusbrasil.

Janela do Palacete Joaquim Franco de Mello / Crédito: Wikimedia Commons 

Após se envolver na disputa judicial, e antes mesmo de qualquer decisão sair na justiça, Renato Franco de Mello, neto do barão do café que construiu o imóvel, resolveu se mudar para a mansão em 2010.

Em 2012, o governo estadual acabou sendo condenado a pagar aos herdeiros Franco de Mello uma indenização de 110 milhões de reais. No entanto, o valor nunca foi quitado, como revelou um deles em entrevista à revista Piauí. E enquanto o dinheiro não era pago, o herdeiro não quis deixar o imóvel. 

Eu sou o único herdeiro que gosta de coisa velha, então me pediram para morar aqui. [...] É para evitar que o palacete seja invadido pelos sem-teto. Já pensou?”, contou Renato, à Piauí

O homem vivia dos lucros de um terreno da família, a fazenda Primavera, nos arredores de Araçatuba. Porém, em 2002, a fazenda foi desapropriada pelo governo federal para fins de reforma agrária. 

Renato dividia então o casarão da Paulista com seus caseiros. Como não tinha dinheiro para pagá-los, permitia que eles vivessem lá em troca do trabalho que faziam na casa. Desde então, esporadicamente, ele promoveu feiras de arte e eventos como feiras de adoção para animais. 

Palacete Joaquim Franco de Mello / Crédito: Wikimedia Commons 

No dia 5 de fevereiro de 2019, o herdeiro morreu por complicações de um câncer, que ele já lutava contra por mais de um ano. Foi enterrado no Cemitério do Araçá, na Zona Oeste de São Paulo.

Após sua morte, a família teve enorme dificuldade de manter o casarão. Entraves jurídicos e a falta de iniciativa do governo para assumir o imóvel, tornou-se um problema. Os familiares alegam que isso dificultou um melhor aproveitamento e a preservação do local, conforme repercutido pelo Yahoo em 2019.

Palacete Joaquim Franco de Mello, na Avenida Paulista / Crédito: Wikimedia Commons 

Novo espaço

Finalmente, no começo de 2020 foi anunciado que o espaço irá passar por uma nova reforma, que manterá suas características históricas. A ideia era transformar o casarão abandonado da Paulista em um espaço cultural, com foco em um museu de ciência. A empreitada será financiada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), por meio do SESI, em uma parceria com o Governo do Estado de São Paulo.

Em julho de 2021, o Governo do Estado de São Paulo abriu inscrições para concessão do casarão, administrando por 25 anos o que seria o Museu da Gastronomia do Estado de São Paulo, partindo de chamamento das secretarias estaduais de Cultura e Economia Criativa, e Projeto, Orçamento e Gestão.

No ano seguinte, o Governo ainda não havia divulgado qual empresa privada que ficaria a cargo da restauração e cuidados do local, mas em comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, instalou por toda a Av. Paulista pinturas notórias de Cândido Portinari em parceria com o Museu de Imagem e Som. Um destes locais foi justamente o palacete, que ostenta até hoje um banner escrito "Portinari para Todos", mesmo que a exposição já tenha terminado há quase um ano.