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Matérias / Brasil

Retratada em Hilda Furacão: Cintura Fina, a travesti por trás da lenda

A figura de Cintura Fina, travesti e prostituta de Belo Horizonte, atravessou as décadas e apareceu em mais de um produto cultural brasileiro

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 05/06/2022, às 09h00

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Montagem mostrando Cintura Fina na minissérie "Hilda Furacão", e fotografia da Cintura Fina da vida real - Divulgação/ Globo/ Polícia de Minas Gerais
Montagem mostrando Cintura Fina na minissérie "Hilda Furacão", e fotografia da Cintura Fina da vida real - Divulgação/ Globo/ Polícia de Minas Gerais

Cintura Fina é mais conhecida pelo público brasileiro através de sua aparição como personagem da minissérie televisiva Hilda Furacão, da Globo, em que foi interpretada pelo talentoso ator Matheus Nachtergaele.

A produção de 1998 foi baseada no romance homônimo do escritor e jornalista mineiro Roberto Drummond, um livro que fora publicado em 1991, e é baseado em acontecimentos reais que marcaram a zona de prostituição da cidade de Belo Horizonte.

Entre as garotas de programa mais impactantes da história, está Cintura Fina, que se identificava como mulher, embora tivesse nascido com um corpo masculino, o que desafiava as noções de gênero da sociedade tradicional brasileira do período entre os anos 50 e 70. 

Mito e realidade

A trajetória da travesti é descrita com maior fidelidade na biografia "Enverga, Mas Não Quebra: Cintura Fina em Belo Horizonte", lançada por Luiz Morando, um pesquisador sobre memória LGBTQ+ da Universidade Federal de Minas Gerais, no ano de 2021.

O autor buscou compilar os eventos da vida da fascinante cearense, que se tornou "uma espécie de lenda" na cidade onde fazia programa.

Vale mencionar aqui que, ao contrário da maneira como apareceu na minissérie da Globo, a Cintura Fina original era uma mulher negra. Por outro lado, a produção acertou em alguns de seus traços de personalidade mais acentuados, como o fato que não levava desaforo para casa.

Ela fazia questão, por exemplo, que quem se dirigisse a ela usasse seu nome de preferência, e não o de nascença, batendo de frente até mesmo com a polícia em sua exigência por respeito, o que a levou a ser presa algumas vezes. 

Fotografia de uma das ocasiões em que Cintura Fina foi presa / Crédito: Divulgação/ Polícia de Minas Gerais

A travesti também não admitia que debochassem de seu vestuário feminino, visto como errado para aquele corpo pelos cidadãos de mente fechada. 

Um outro aspecto famoso a respeito de Cintura Fina, que ecoou através das obras de ficção que a trouxeram como personagem, é a navalha afiada que carregava consigo, destinada à proteção de si e de suas colegas de trabalho contra clientes que mostrassem agressividade. 

"Cintura Fina ganhou liderança e reconhecimento na zona de meretrício da cidade, protegendo as mulheres prostitutas que eram vítimas dos clientes com violência física", explicou Morando em sua obra, segundo repercutido pelo portal Notícias da TV. 

Notoriedade histórica

O pesquisador ainda afirmou que a cearense foi "precursora" da "performatividade de gênero travesti", consolidando sua importância na história nacional da comunidade LGBTQ+. 

Incompreendida pela época conservadora, ela era descrita nos jornais como "Marilyn Monroe dos detentos, anormal, larápio, gatuno e invertido sexual", todavia, o preconceito não foi capaz de apagar a marca deixada por ela. 

A presença de uma personagem travesti em uma minissérie da Globo do fim dos anos 90, por sua vez, serviu para amplificar o interesse da população pela figura histórica brasileira.

Contribuiu para essa curiosidade a elogiada performance de Matheus Nachtergaele, aliás. O artista, embora cisgênero, foi capaz de interpretar Cintura Fina com a dignidade que ela merecia, ajudando a consolidá-la no imaginário nacional.