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Matérias / Brasil

Revolução de Angicos: Quando Paulo Freire pôs em prática seu projeto pedagógico

O projeto de Freire foi responsável por alfabetizar uma comunidade no Rio Grande do Norte

André Nogueira Publicado em 14/10/2019, às 09h00

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Divulgação
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Paulo Freire foi um importante professor e filósofo pernambucano que entrou para a História pela criação de um projeto pedagógico inovador, funcional e popular, que hoje é estudado e respeitado pelo mundo inteiro.

A obra de Freire é marcada pela confluência de bases ideológicas, que remetem a Lukács e Mounier, com a prática personalista brasileira e cristã, com características do movimento vanguardista, que ganhava influência no Brasil dos anos 1960, mas de maneira singular. 

Paulo Freire / Crédito: Reprodução

Freire se destacou por sua modificação nos métodos pedagógicos para o ensino e alfabetização. Numa época escolar radicalmente tradicional, marcada por fichas técnicas e lousa, o filósofo propôs que, a partir das noções já introduzidas de educação na sociedade, o educador deve ter como base o universo de ideias, falas, palavras e noções próprias do educando. Facilitando o processo de alfabetização (a partir da lógica do “quem tem fome tem pressa”).

O filósofo brasileiro era um exímio opositor da ideia da educação bancária, ou seja, a noção de que o aluno, como um cofre, é espaço de depósito de informações, passivo e sujeito a uma construção de ideias a partir “do zero”. Ao contrário, Freire defendia o aluno como parte ativa e construtiva do processo de educar, fazendo da aula e do ensino uma esfera do diálogo construtivo.

Atualmente, Paulo Freire recebeu o título de doutor honoris causa de 35 universidades no mundo, sendo o autor brasileiro mais referenciado no exterior.

Altamente reconhecido, seu método funcional é considerado útil e válido nos cinco continentes, sendo legitimado por estudiosos de esquerda e de direita, que percebem em sua metodologia uma forma prática e honrosa de alfabetizar.

Uma das maiores realizações de Freire no Brasil ocorreu em 1963, quando o pensador comandou uma equipe de professores que criaram uma escola de alfabetização, numa pequena cidade do sertão do Rio Grande do Norte, chamada Angicos.

Povoado bastante desconhecido, pobre e com alta taxa de trabalhadores analfabetos, Angicos passou por um processo que entrou para a História como revolução. Na mão de Freire, 300 adultos, moradores da cidade foram alfabetizados em 40 horas de estudo.

O objetivo não era criar simplesmente leitores, mas estimular o pensamento político e filosófico, a ser usado na vida. Também utilizar na geração de novos empregos mais salubres, no ensino dos direitos do cidadão e, ainda, render direitos ao voto — restrito aos alfabetizados na época. 

Alunas de Freire / Crédito: Instituto Paulo Freire

A agenda freiriana em Angicos foi considerada por muitos conservadores como prática subversiva, a ponto de todos os envolvidos na escola terem sido perseguidos pelos militares.

A prática pedagógica em Angicos consistia no levantamento de palavras e expressões que faziam parte do cotidiano dos trabalhadores potiguares, como tijolo, feijão, jumento, etc.

A partir da linguística das palavras, era possível trabalhar a escrita de maneira palpável (exemplo: a partir da sílaba ti, se explana sobre a escrita do t). Enquanto, a partir da prática do uso dessas palavras, que normalmente integrava o mundo do trabalho, existiam as aulas de extensão política (aula de politização). O trabalho era um aspecto central da educação de Angicos.

Alunos em conversa / Crédito: Instituto Paulo Freire

Os angicanos viviam em um ambiente marcado pelas condições deploráveis de trabalho e segurança precária, além da desigualdade social e da distância de centros de saúde e transporte.

O trabalho se tronou, como aspecto da vida e como palavra, centro da experiência de Angicos, a ponto de muitas atividades envolverem a leitura de artigos da CLT. Por essa “atividade subversiva”, Freire foi obrigado a partir ao exílio depois da tomada do poder pelas Forças Armadas.