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Matérias / Crimes

A mentira do guru de Buddhafield

Por mais de duas décadas, Jaime Gomez atraiu pessoas para uma seita de paz e luz — mas a realidade era bem distante disso

Fabio Previdelli Publicado em 24/05/2020, às 09h00

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Cena do documentário Holly Hell - WRA Productions
Cena do documentário Holly Hell - WRA Productions

Imagine gastar mais de 20 anos de sua vida seguindo um líder espiritual aparentemente benevolente e depois descobrir que quase tudo o que sabia sobre essa pessoa era uma mentira.

Em 1985, Will Allen, recém-formado na escola de cinema, encontrou o que parecia ser uma comunidade alternativa emocionante em Los Angeles. Sempre curioso sobre o significado da vida, Allen foi atraído por um guru carismático nascido na América do Sul conhecido como Michel, que parecia capaz de responder às suas perguntas. Com pouca hesitação, ele se juntou a Buddhafield, um grupo onde o amor e a paz fluíam em abundância.

Membros do Buddhafield durante meditação / Crédito: WRA Productions

Atencioso e extravagante, o guru passava a maior parte do tempo usando speedo e ray ban, e prometeu mostrar a seus seguidores o caminho de luz que seu mestre lhe ensinara.

Assim, criou um ambiente de amor e aceitação, onde realizaria um eufórico ato físico que era chamado de Shakti — os membros do grupo descreviam aquilo como uma intensa viagem que os sacudiria como os efeitos do LSD. Entretanto, esse homem, que acabou mudando seu nome para Andreas, não era exatamente o que parecia.

A vida de Michael

Michel nasceu como Jaime Gomez e assim como Charles Manson, ele perseguia a fama. O guru veio à América para ser uma estrela de cinema e chegou a aparecer — mesmo que brevemente — no clássico O Bebê de Rosemary.

Mais tarde, os membros do Buddhafield descobriram que Michael estrelou alguns filmes de pornô gay e, segundo especulações, estudou as “artes das trevas”. Como esse caminho não foi muito promissor, se autodesignou profeta.  

Atraídos pelas mensagens de Michel de cura e autorrealização, os recém-chegados frequentemente se entregavam prontamente a Buddhafield. Chamando-o de "O Professor", eles abandonaram a sociedade em funcionamento e se mudaram para uma das várias casas conjuntas da comunidade.

Representação de Michael durante sessão de hipnoterapia / Crédito: WRA Productions

As vítimas de estupro, por exemplo, sentiram-se purificadas e disseram que encontraram suas almas perdidas por meio da tutela de Michael e de sua nova família. Ao ingressarem em Buddhafield, muitos tentavam escapar das mazelas da sociedade ou substituírem seus vícios em drogas por elevações espirituais.

Outros foram expulsos de suas casas ou lutavam contra desilusões com suas respectivas religiões. A maioria mantinha empregos de baixo custo para pagar aluguel, mas raramente se comunicavam com pessoas que não faziam parte da organização de aproximadamente 100 membros. A vida como eles conheciam havia acabado e, por mais de duas décadas, eles adoraram isso. Uma vez mergulhados no Buddhafield, nada parecia ser capaz de desvirtuar os membros.

A farsa de Michael

O Guru, que também era um dançarino de balé bem treinado em hipnoterapia, liderava atividades em seis noites da semana. Se alguém dissesse que preferia não comparecer, um amigo questionaria sua devoção, insistindo que essa pessoa estivesse presa dentro de seu próprio espaço confuso na cabeça, a suposta iluminação esperava além de qualquer dúvida. "Todos pensávamos que estaríamos com ele até morrermos", disse Phillipe Coquet, um ex-membro que ficou por 25 anos no culto.  

Além do mais, Michael, proibiu a maioria dos membros da seita de manterem relações sexuais entre si, citando a liberação de energia que vem com o orgasmo como uma elevação inferior. Mas, por outro lado, sempre se mostrava disposto a recrutar jovens sedutoras, ainda mais se fossem virgens. Na verdade, "todo mundo estava transando com todo mundo" sorrateiramente, disse um ex-membro.

Logo, os próprios integrantes do Buddhafielders começaram a nutrir mentiras sobre o que realmente acontecia no grupo. Exceto o ceticismo fugaz, ninguém interno questionou as regras de Michel. Eles encontraram tranquilidade. "Havia verdade nisso tudo", disse Coquet. "Havia mentiras e manipulações estranhas, mas elas eram baseadas em algo em que realmente acreditávamos".

Devotos se curvando a Michael / Crédito: WRA Productions

As coisas só começaram a mudar quando um ex-membro retornou a Buddhafield depois de uma década, em 2006. Ao contrário de muitos que vivam por lá, essa pessoa conseguiu identificar uma mudança de espírito em Michael. “Ele já não era mais um professor, ele era um mestre e muito exigente nisso”.

Então, o retornado ouviu de alguns colegas que o guru era um predador sexual, que abusava dos membros de sua comunidade. Com as alegações surgindo, mais vítimas começaram a aparecer. Buddhafield começou a presenciar uma saída gradual de pessoas da comunidade quando elas perceberam que participavam de um culto.

Muitas alegações foram feitas contra Jaime Gomez, principalmente o abuso sexual de seus seguidores do sexo masculino. Além do mais, ex-membros como Chris Johnston, Julian Goldstein, Radhia Gleis e Alessandra Burenin afirmam que foram submetidos à lavagem cerebral pelo guru durante as sessões semanais de hipnoterapia, onde cada membro participante tinha que pagar 50 dólares para participar.

Em 2016, os casos ocorridos em Buddhafield, que permanece em atividades até hoje no Havaí,  foram relatados no documentário Holly Hell, Santo do Inferno, produzido pelo ex-membro do culto Will Allen.


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